Primeiro capítulo do famoso texto de Sêneca, dirigido ao seu sogro, para que o mesmo se dedicasse mais à filosofia, o chamado gênero exhortatio ad philosophiam (exortação à filosofia), escrito provavelmente no ano 55 d.C., mas incrivelmente atual; assim como as verdades tendem à eternidade.
A maior parte dos mortais queixa-se da
malevolência da Natureza, porque estamos destinados a um momento da eternidade,
e segundo eles, o espaço de tempo que nos foi dado corre tão veloz e rápido, de
forma que à exceção de muitos poucos, a vida abandonaria a todos em meio aos
preparativos mesmos para a vida. E não é somente a multidão e a turba insensata
que se lamenta deste mal, considerado universal: a mesma impressão provocou
queixas também de homens ilustres. Daí o protesto do maior dos médicos: “A vida
é breve, longa, a arte”. Daí o litígio (de nenhuma forma apropriado a um homem
sábio) que Aristóteles teve com a Natureza: “aos animais, ela concedeu tanto
tempo de vida, que eles sobrevivem por cinco ou dez gerações; ao homem, nascido
para tantos e tão grandes feitos, está estabelecido um limite muito mais
próximo”. Não é curto o tempo que temos, mas dele muito perdemos. A vida é
suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das
maiores coisas, se a empregamos bem. Mas, quando ela se esvai no luxo e na
indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente
constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela passou por nós sem que
tivéssemos percebido. O fato é o seguinte: não recebemos uma vida breve, mas a
fazemos, nem somos dela carentes, mas esbanjadores. Tal como abundantes e
régios recursos, quando caem nas mãos de um mal senhor, dissipam-se num momento,
enquanto que, por pequenos que sejam, se são confiados a um bom guarda, crescem
pelo uso, assim também nossa vida se estende por muito tempo, para aquele que
sabe dela bem dispor.
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