sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O DESCOBRIMENTO DOS DINOSSAUROS


Nos primeiros anos da década de 1880 conseguiram unir os esqueletos de Iguanodonte recolhidos em Bernissart. Para montar o primeiro grande esqueleto utilizou-se um andaime de madeira do qual eram pendurados com cordas os ossos.

Muito antes que se começasse a estudar seriamente os dinossauros as pessoas escavavam os seus restos. O doutor Dong Zhiming, cuja autoridade no campo dos dinossauros chineses é reconhecida, trabalha no Instituto de Paleontologia vertebrada da Universidade de Pequim, e recentemente informou que os dentes de dinossauro (aos quais os chineses chamam de “dentes de dragão”) já eram conhecidos no século XVI antes de Jesus Cristo; inclusive existem provas escritas do descobrimento de “ossos de dragão” no século III da nossa era em zonas da China famosas na atualidade, após recentes investigações, pela sua riqueza em restos de dinossauros.
Muito antes que o professor Richard Owen reconhecesse os dinossauros como grupo e lhes designara um nome, outras pessoas tinham procurado o caminho que o levaria ao seu descobrimento. Embora não soubessem muito bem o que tinham nas mãos, seu trabalho não deve ser ignorado. Eram pessoas de grande inteligência, ávidas por saber e cheias de energia, entregues a luta para encontrar sentido a uns quantos fósseis.

Conjeturas baseadas nos ossos

A ilustração de Robert Plot mostra claramente um osso de dinossauro. A fratura na parte superior deixa ao descoberto a medula do fóssil original. Mas em 1677 ainda não se conhecia a existência dos dinossauros e o osso foi classificado erroneamente como "Scrotum Humanum".

Em 1677 Robert Plot, professor de química na Universidade de Oxford, publicou a sua obra “The Natural History of 0xfordshire, being an essay toward the Natural History of England”. Neste livro Plot descrevia o extremo inferior de um fêmur gigantesco (a parte que formaria a metade superior da articulação do joelho), encontrado em uma canteira em Cornwell, no condado de Oxford. Plot descreveu o osso com detalhe, excluindo toda possibilidade de que se tratasse de qualquer classe de objeto de pedra, pois pelo extremo superior já fraturado havia constância da formação esponjosa típica de um osso, assim como de uma cavidade medular interna. Contente com a demonstração de que era um osso, para ser mais exatos, de um petrificado, tentou identificar a criatura qual tinha pertencido. A sua conclusão foi a seguinte: “... deve ter pertencido a algum animal de tamanho superior a um boi ou a um cavalo e de ser assim - afirmam quase todos os outros autores em um caso parecido - provavelmente fosse o osso de um elefante, trazido aqui durante o governo dos romanos na Grã-Bretanha”. Esta conclusão também não respondia às suas dúvidas, pois não encontrou nenhum documento histórico que testemunhasse a chegada de elefantes a Grã-Bretanha através dos romanos.
Mas finalmente pôde pôr à prova a sua hipótese de forma cientifica, pois no ano 1676 teve a oportunidade de examinar o esqueleto de um elefante que tinha sido transladado a Oxford. Os ossos eram diferentes da amostra encontrada em Cornwell, e portanto decidiu que estava diante do fêmur de um gigante humano. A ilustração que Plot realizou deste osso permite identificá-lo como o extremo inferior do fêmur de um Megalosaurus, dinossauro carnívoro cujos ossos encontraram-se em rochas do condado de Oxford pertencentes ao jurássico médio.
Um abade francês chamado Dicquemare, que vivia perto da costa normanda e tinha como afeição colecionar curiosidades da natureza, publicou em 1776 um informe sobre uns fósseis que tinha recolhido ao pé dos alcantilados conhecidos na região como Vaches Noires (Vacas Negras). Entre as varias conchas e fragmentos ósseos parece ter descoberto os ossos pertencentes à pata de um dinossauro, conforme se pode deduzir da descrição detalhada que escreveu. Lamentavelmente não fez nenhum desenho e não se pôde seguir a pista deste osso de nenhuma maneira. Alguns anos depois, outro clérigo, Bachelet, recolheria mais amostras na costa normanda para doá-las posteriormente ao Museu Nacional de Paris. Georges Cuvier (de quem nos ocuparemos em breve) encarregou-se em 1808 de descrever e ilustrar estes exemplares, identificando-os como os restos de dois tipos diferentes de crocodilo fóssil. Com posterioridade averiguar-se-ia que os restos de um deles correspondiam realmente a um dinossauro. O professor Philippe Taquet, do Museu Nacional de Paris, divulgou estas amostras dos depósitos do museu e que estão constituídas por uma série de vértebras da espinha dorsal de um Streptospondylus, dinossauro carnívoro de finais do jurássico.
Ao outro lado do Atlântico também se produziam descobrimentos similares no final do século XVIII. Em New Jersey eram encontrados ossos de grande tamanho, e em 1787 o doutor Caspar Wistar e Timothy Matlack apresentavam um informe à Sociedade Filosófica Americana, na Filadélfia. A partir desse momento, foram encontrados restos de hadrosssauros nas rochas desta zona, pelo que é provável que fossem ossos de dinossauro. De forma parecida, o explorador William Clark anotava em 1806 no seu diário o descobrimento do que certamente era o osso pertencente à pata de um dinossauro às margens de um rio perto de Billings, no estado de Montana; esta zona também foi fértil em restos fósseis de dinossauros. Mas até 1820 não seriam divulgadas na América as primeiras amostras indiscutíveis de dinossauros acompanhadas de uma descrição. Encontraram-se em rochas do principio do jurássico no Connecticut Valley e um tal Solomon Ellsworth as descreveria no American Journal of Science (Revista Americana da Ciência) como restos humanos. Os ossos conservam-se ainda hoje nos depósitos do Yale Peabody Museum e pôde ser identificada a sua pertença a um dos primeiros dinossauros, o Anchisaurus.

Primeiras marcas

Outro descobrimento igualmente curioso que encontramos nos anais é o de umas marcas de grande tamanho de patas providas de três dedos, parecidas às das aves, descobertas por Pliny Moody nas suas propriedades da cidade de South Hadley, em Massachusetts. Ignoradas, a não ser pela sua consideração como particularidade local, estiveram relegadas durante mais de três décadas, ate que foram objeto de uma detalhada análise realizada pelo professor reverendo Edward Hitchcock, do Amherst College, entre meados das décadas de 1830 e 1860. Hitchcock apoiava a tese de que as milhares de marcas que recolhia e examinava pertenciam a antigas aves gigantescas, embora agora parecesse evidente que eram restos da presença de dinossauros.



O método cientifico de Cuvier

O primeiro estudo realmente completo de ossos fossilizados foi levado a cabo pelo barão Georges Cuvier (1773-1838), famoso cientista francês. A partir de 1799 trabalhou em Paris como anatomista do Jardim des Plantes, conhecido também como Museu Nacional de Historia Natural. Foi um dos pensadores mais eminentes e revolucionários da sua época; acreditava que todas as formas de vida animal se ajustavam a um número limitado de modelos criados por Deus e também que a forma dos diferentes ossos se correspondia à função vital (testes animais: por exemplo, se o animal em questão corria, caminhava, voava ou nadava. Com estes princípios em mente, Cuvier estudou e dissecou um grande número de animais. Reparou que compreendendo os ossos dos animais vivos podia desenvolver um método para averiguar o aspecto dos animais fósseis, cujos restos são só peças ósseas inconexas e mal conservadas. Esta técnica denomina-se anatomia comparativa, pois requer a comparação entre diferentes classes de animais com o proposito de entender a finalidade dessa forma.
Cuvier conseguiu rapidamente uma reputação internacional como o anatomista da sua época possuidor dos maiores conhecimentos. Mediante a análise de fósseis recolhidos em diferentes partes do mundo (a sua atenção centrou-se particularmente nos elefantes) pôde demonstrar que alguns animais tinham-se extinguido em algum momento da historia do planeta. Esta ideia era revolucionaria para o seu tempo, pois afetava diretamente visão religiosa segundo a qual Deus tinha povoado o mundo com as suas criaturas e não permitiria que nenhuma desaparecesse.
A seguinte aportação crucial ao crescente interesse pelos fósseis chegou através de um despojo de guerra napoleônico. Em 1795 o exercito republicano francês ocupava a cidade de Maastricht, no sul da Holanda e apos o saqueio levou consigo um troféu nada usual. Tratava-se de uma lousa de ardósia encontrada em uma canteira local ha poucos anos; nela encontravam-se a mandíbula e os ossos do crânio de uma criatura gigante. O fóssil foi transportado ao Jardim des Plantes, onde Cuvier teve a oportunidade de estudá-lo. Pôde identificar o animal como um lagarto extinto, agrupado com os gigantescos lagartos monitores dos trópicos; mas este não era um lagarto qualquer, era descomunal: só a sua cabeça media 1,2 metros de comprimento. Posteriormente o reverendo W. D. Conybeare, geólogo inglês, dar-lhe-ia o nome de Mossasaurus (literalmente “lagarto de Mossa”), fazendo alusão à zona da qual procedia. Em vida era um lagarto marinho gigantesco, com uma comprida e potente cauda e patas em forma de remo que lhe serviam para nadar.


Graças a estes dois descobrimentos de enorme transcendência, Cuvier demonstrou que os fósseis ofereciam interesse não só por serem tão diferentes dos animais atuais, mas também porque poderiam divulgar algumas criaturas realmente excepcionais. A visão que Cuvier tinha do tema fez-se muito notória depois de que publicasse uma serie de livros, Recherches sur les Ossemens fossiles, que com o tempo converter-se-ia na obra primordial para aspirantes a paleontólogos e estudiosos da anatomia comparativa.

William Buckland e o Megalosaurus

William Buckland (1784-1856) foi um homem extraordinário e de grandes dons. Não só foi um clérigo ilustre - seria nomeado dignitário eclesiástico de Westminster -, mas também foi o primeiro professor de geologia em Oxford. Pouco antes de 1818 descobriu-se um lote de ossos e mandíbulas dentadas fósseis de grande tamanho na canteira de ardósia do povoado de Stonesfield, ao norte do condado de Oxford. Buckland recebeu estes fósseis para a sua identificação. Em 1817 e 1818 Cuvier realizava as suas primeiras visitas à Inglaterra e viajou a Oxford para reunir-se com Buckland e examinar os novos fósseis. Para Cuvier não havia dúvidas de que Buckland possuía os restos de um novo réptil gigante até agora desconhecido e que, além disso, era bastante parecido aos fósseis de Normandia que ele mesmo tinha descrito como crocodilos. Buckland publicou um informe sobre estes descobrimentos em 1824 nas Atas da Sociedade Geológica de Londres, batizando-o como Megalosaurus (“grande lagarto”).

As mandíbulas e os dentes do Megalosaurus foram descritos detalhadamente por Willian Buckland. Estes restos eram muito diferentes dos do mossasauro de Cuvier e levaram-lhe a pensar que talvez se tratasse de um depredador réptil do tamanho de um elefante e de habitat terrestre. O grande dente curvo que sai da mandíbula tem o canto muito afiado em forma de serra, ideal para cortar carne.

O Megalosaurus estava muito pouco completo. Os seus restos limitavam-se a uma mandíbula dotada de grandes dentes em forma de pá, algumas vértebras, ossos do ombro, parte da anca e alguns ossos da pata traseira. Mas já era muito mais do que cientistas anteriores tinham conseguido em cima das suas mesas de trabalho. Buckland sugeriu que o Megalosaurus seria um lagarto depredador extinto, uma proposta parecida à que tinha sido feita por Cuvier sobre o crânio fóssil de Maastricht. Cuvier também tinha advertido Buckland de que este animal, a julgar pelo tamanho dos ossos correspondentes às patas traseiras, poderia ter superado os doze metros de longitude, com um tamanho parecido ao de um elefante, isto é, dois metros de altura. Pode ser que Buckland não soubesse que tinha diante de si um dinossauro, mas era certo que o animal não tinha muitas semelhanças com os lagartos dos nossos dias.
Buckland fez também referencia no seu informe a outro cientista do momento, interessado também nos fósseis: o doutor Gideon Algernon Mantell. Mantell também tinha descoberto ossos de megalossauro, alguns inclusive maiores que os de Buckland.

Gideon Mantell e o Iguanodonte

Gideon Algernon Mantell (1790-1852), um medico afincado em Lewes, na costa meridional inglesa, era, além disso, um geólogo entusiasmado e grande parte do seu tempo livre era dedicado à exploração do terreno circundante e a recolher fósseis, abundantes na zona. Em 1822 publicou um livro: Fósseis dos South Downs. Nele se incluíram informes de alguns dentes fossilizados pouco comuns, com arestas e alguns deles muito desgastados, encontrados nas canteiras do Bosque de Tilgate. Na sua tentativa de identificar estes dentes tinha consultado todos os expertos britânicos em fósseis. Buckland acreditava que se tratava dos incisivos de algum peixe de grande tamanho, enquanto que outros os consideravam dentes de mamíferos de época relativamente recente cujos restos se tinham misturado com rochas mais antigas. Insatisfeito com qualquer uma destas explicações, Mantell enviou algumas amostras a Cuvier em junho de 1824. Esse mesmo mês obteve resposta de Cuvier na qual este apoiava firmemente a opinião de Mantell, descartando qualquer possibilidade de que essa dentadura pertencesse a um peixe e sugeria que poderia tratar-se de um grande réptil herbívoro desconhecido até o momento. Cuvier publicou uma breve resenha sobre estes restos no volume de Ossemens fossiles de 1824, destacando a sua leve semelhança com os incisivos desgastados de um peixe grande ou de um mamífero como o rinoceronte, embora a sua conclusão fosse a provável pertença destes restos a um réptil.
Mais adiante, nesse mesmo ano, Mantell teve mais fortuna. Ao visitar o Museu do Real Colégio de Cirurgiões de Lincoln's Inn Flelds, em Londres, mostraram-lhe um esqueleto de iguana que acabavam de reconstruir. Embora os dentes deste lagarto caribenho fossem diminutos em comparação com o dente fossilizado, a forma era muito parecida e, além disso, era um réptil herbívoro. No seu informe sobre os fósseis nas Atas Filosóficas da Real Sociedade de 10 de fevereiro de 1825 denominou o animal de Iguanodonte (“dente de lguana”), como lhe havia sugerido o reverendo William Conybeare (quem também tinha cunhado os termos Megalosaurus e Mosasaurus). Após a comparação dos dentes fossilizados com os do iguana, Mantell concluiu que o Iguanodonte teria sido inclusive maior que o Megalosaurus e sugeriu uma longitude de dezoito metros.


É curioso comprovar que William Smith, criador dos primeiros mapas geológicos da Inglaterra, já se tinha abastecido da canteira da qual se abastecia Mantell. Em 1978 o doutor Alan Charig livrou do pó dos depósitos do Instituto de Ciências Geológicas - na atualidade parte do Museu de História Natural de Londres - uma coleção de fósseis recolhidos em 1809 por Smith em Cuckfield. Entre as muitas peças fragmentadas e de escasso valor encontra-se uma porção muito característica da pata inferior do lguanodonte. William Smith não foi consciente da importância deste descobrimento, mas parece ser o primeiro resto autenticado deste dinossauro.
Em 1833 Mantell encontrou outro réptil gigante nas canteiras do Bosque de Tilgate. Deste, que recebeu o nome de Hylaeosaurus (“lagarto do bosque”), ficavam restos da metade dianteira e parecia ser um animal consideravelmente inferior em tamanho ao Iguanodonte; por outra parte dava testemunho de ter estado dotado de grandes vértebras pontiagudas que percorreriam todo o comprimento das costas. Um ano depois os trabalhadores de uma canteira de Maidstone, no condado de Kent, descobriam um esqueleto incompleto de Iguanodonte.
Esta nova amostra permitiu que Mantell fizesse a primeira tentativa de reconstrução do Iguanodonte assistido por William Clift, conservador do Museu do Real Colégio de Cirurgiões. O resultado mostrava de forma clara as marcadas proporções do lagarto que se atribuíram a esta criatura. A ponta que coroa o focinho nesta ilustração foi realizada pelo próprio Mantell depois de encontrar em Tilgate um curioso osso cônico, uma forma muito similar ao corno que têm algumas iguanas no focinho.

Richard Owen e os dinossauros

Em 1827, quando Mantell estava mais ocupado com os seus primeiros descobrimentos do Iguanodonte, Richard Owen - que tinha vinte e três anos de idade - recebeu o cargo de ajudante de William Clift no Museu do Real Colégio de Cirurgiões de Londres. Uma das suas primeiras tarefas consistiu em dissecar e descrever os diversos animais que morriam no Zôo de Londres (o jardim Zoológico, como era chamado então).
Owen ocupou em 1837 a vaga de professor de anatomia comparada e começou a publicar um grande número de artigos científicos sobre restos fósseis de mamíferos e répteis. Foi nesta época quando passou pela sua cabeça realizar um estudo de todos os répteis fósseis da Grã-Bretanha conhecidos até o momento e fez a proposta à Associação Britânica para o Avanço da Ciência, em 1838. Aceitaram patrocinar o seu trabalho e durante os anos seguintes percorreu todo o país procurando e descrevendo os restos fossilizados de répteis. Em 1839, Owen apresentou o seu primeiro informe sobre os Enaliossáurios, ou “lagartos marinhos”, à Associação. No dia 30 de julho de 1841 pronunciou a leitura da segunda e última parte do seu estudo no undécimo encontro da Associação.
A grande aportação do discurso de Owen foi, sem sombra de dúvida, a descrição e apresentação do termo “dinossauro” como “réptil terrível”. Este novo grupo compreendia três classes de fósseis répteis: o Megalosaurus de Buckland e os Hylaeosaurus e Iguanodonte de Mantell. Owen não via neles somente características compartidas com os lagartos, como foi aceito pela maioria (a amostra gráfica é a primeira ilustração de Iguanodonte realizada por Mantell), mas uma surpreendente mistura de características: costelas abdominais, como as dos crocodilos; a sua elevada altura; o comprimento e feitio das vértebras, totalmente anômalas; o sacro (osso formado por cinco vértebras soldadas situado na parte inferior da coluna vertebral) aderido à pélvis, como nos mamíferos; ossos das extremidades longos e vazios com processos (salientes) para a fixação do músculo, o que indicava que estes animais se deslocavam pela terra, como os mamíferos; os ossos correspondentes aos dedos das patas, que além de afiadas garras tinham uma forte semelhança com as de pesados mamíferos viventes, como o rinoceronte, o elefante e o hipopótamo, novamente uma característica dos mamíferos; complexos ossos dos ombros, como no caso dos lagartos; e dentadura de tipo intermediário: os dentes do Megalosaurus estavam contidos em alvéolos (buracos da mandíbula), como os dos crocodilos, enquanto os do Iguanodonte e o Hylaeosauros eram mais parecidos com os dentes dos lagartos.
A visão retrospectiva vai inevitavelmente acompanhada por uma maior sabedoria e permite constatar que Owen omitiu alguns outros dinossauros que apareciam no seu informe e simplesmente fez referência a um grupo de répteis que Cuvier tinha qualificado como “extraordinários”, dezessete anos antes. Em 1824 Cuvier tinha advertido Buckland da semelhança de constituição e proporções entre o Megalosaurus e um elefante de tamanho médio. Nesse mesmo ano, como vimos, Cuvier tinha feito uma atrevida sugestão a Mantell, que este publicou no seu artigo de 1825: os dentes e ossos que acabava de descobrir em Tilgate pareciam representar os restos de um réptil herbívoro gigantesco, comparável aos grandes mamíferos herbívoros da atualidade.

A reconstrução do Megalosaurus de Owen repousava em escassas provas: a mandíbula inferior, algumas costelas, um osso do pé, a anca e um fêmur. Apesar disso conseguiu recriar esta criatura parecida a um urso.

Owen deu um impulso a esta ideia proporcionando um nome oficial a estes lagartos mastodônticos e dotando-os de uma imagem; as cartas deste jogo eram a sua reputação como cientista e o método comparativo desenvolvido por Cuvier. Mas era um jogo arriscado e se ao princípio valeu a pena, no final não pôde manter-se em pé corno teria sido necessário.
Owen também parece ter tido segundas intenções na sua decisão de recriar os dinossauros, o que explicaria a audácia demonstrada em 1841. O que fazia era se opor a uma forte corrente de opinião, bastante comum entre alguns anatomistas franceses e britânicos, no que se refere ao tema da evolução animal (ou “transmutação”, como era denominada naquela época). Esta corrente em particular, apoiava-se na observação, após a análise dos fósseis, da progressiva complexidade das formas de vida com o passar do tempo; chamou-se a isto movimento “progressionista”. Owen estava em profundo desacordo com esta filosofia e acreditava que os dinossauros permitiriam-lhe demonstrar quão errôneo era este argumento. Defendeu que os dinossauros eram anatômica e fisiologicamente muito superiores aos répteis que podemos ver hoje em dia. Os répteis modernos, defendia, são formas degeneradas se os comparamos com os esplêndidos dinossauros répteis do mesozoico.
No sumário que acompanha o seu informe de 1841 Owen especulou sobre a possibilidade de que a atmosfera do mesozoico tivesse um menor conteúdo de oxigênio e favorecesse mais os répteis que os mamíferos ou aves por terem aqueles menor necessidade energética que estes. Não obstante, sugeriu, é provável que a vida dos dinossauros fosse superior neste aspecto à de grande parte dos répteis, pois teriam um coração dividido em quatro câmaras, de forma parecida a mamíferos e aves e acrescentou que provavelmente «... pela sua melhor adaptação à vida terrestre se tivessem beneficiado do funcionamento de um centro tão organizado de circulação (o coração) em um grau bastante próximo ao que caracteriza na atualidade os vertebrados de sangue quente (ou seja, mamíferos e aves).»
E assim terminou Owen o seu informe, antecipando com grande audácia e dons de clarividência os enfrentamentos fisiológicos que se produziriam no estudo dos dinossauros durante os últimos vinte anos: se os dinossauros eram animais “de sangue frio” ou “de sangue quente”. Também proporcionou sem sabê-lo uma das primeiras teorias que explicaram o desaparecimento dos dinossauros: uma ascensão do nível de oxigênio da atmosfera (ou bem a atmosfera viu-se “fortalecida” de alguma outra forma) até que as novas condições se tornaram insuportáveis para estes répteis.
A oportunidade de dotar os dinossauros de uma essência autêntica e duradoura foi brindada a Owen de forma inesperada em 1852, quando teve a oportunidade de colaborar com Benjamin Waterhouse Hawkins no desenho a escala real das reproduções para o Parque do Palácio de Vidro em Sydenham.


O visitante atual ainda pode comprovar quão imponentes são estas reproduções, mas estão longe de serem fiéis à realidade. Os gigantescos monstros de grossos membros mostram ainda bastantes reminiscências dos paquidermes contemporâneos (dotados de uma pele muito grossa) como o rinoceronte, a não ser por terem uma pele repleta de escamas e caudas de répteis bastante compridas. É este particularmente o caso do Iguanodonte de Mantell, do qual existem expostas duas reproduções, cada uma delas decorada com um chamativo corno na ponta do focinho. O Megalosaurus parece um urso de grande tamanho e com o focinho alongado, enquanto o Hylaeosaurus parece ser uma versão mais esbelta do Iguanodonte, com uma coluna vertebral coberta de espinhos em troca de perder o infamante corno nasal.
É bastante fácil a estas alturas rirmos dos dinossauros de Owen, como fez o paleontólogo norte-americano O. C. Marsh quando visitou a Inglaterra em 1895, três anos depois da morte de Owen. “Até onde alcança o meu juízo, não há nada igual nem no céu, nem na Terra, nem nas águas por debaixo da Terra. Agora temos provas evidentes de que tanto o Megalosaurus como o Iguanodonte eram bípedes, e representá-los a gatas, a não ser na sua mais terna infância, seria tão incongruente como fazer o mesmo com os hominídeos.”
Nos anos posteriores a Owen, que certamente estava no zênite da sua atividade intelectual a meados dos cinquenta, viu a sua concepção dos dinossauros deslocada gradualmente por novos descobrimentos de esqueletos mais completos destes répteis. No caso dos dinossauros a estrutura corporal era radicalmente diferente de qualquer conclusão à que ele teria podido chegar; esta é a razão de que os dinossauros de Owen pareçam tão antiquados.

OS DINOSSAUROS APÓS OWEN

Pouco depois de que as reproduções de Owen tivessem chegado ao seu fim, começaram a produzir-se sucessivos descobrimentos de restos de dinossauros na América do Norte. Muitos anos antes tinham sido encontradas marcas, mas os primeiros descobrimentos que conduziam a descrições propriamente científicas foram realizados por Ferdinand Vandiveer Hayden em 1855 no transcurso de uma expedição ao que na atualidade é o leste de Montana. Em uma zona próxima à confluência dos rios Judith e Missouri encontraram-se uns dentes nada comuns nas rochas cretáceas e foram levados a Joseph Leidy (1823- 1897), professor de Anatomia na Universidade de Pensilvânia.
Leidy publicou breves descrições destas peças no ano seguinte. Considerou que dois destes dentes eram parecidos aos dos lagartos e denominou-os de Paleoscincus (“sangue antigo”) e Troödon (“dente que fere”); posteriormente descobriu-se que ambos pertenciam a dinossauros.
Antes que decorressem dois anos, os restos da presença de dinossauros na América do Norte superavam amplamente aos que tinham sido acumulados durante trinta anos de procura na Europa. O descobrimento produziu-se muito perto da Filadélfia, e veio da mão de William Parker Foulke. Em 1858 escavou-se em Haddonfield, New Jersey, parte de um esqueleto, e que foi entregue a Leidy. Este encarregou-se rapidamente de descrever e batizar esta nova amostra com o nome de Hadrosaurus foulkii (“lagarto pesado de Foulke”), indicando que novamente se tratava de um exemplar parecido ao Iguanodonte. Não obstante, o descobrimento recente incluía nove dentes, parte da mandíbula, muitas vértebras e - o mais importante - os ossos principais das extremidades, que davam constância de que as dianteiras eram muito mais fortes e compridas do que as traseiras. Por isso Leidy sugeriu a possibilidade de que estes animais tivessem caminhado unicamente sobre as suas patas traseiras, o que lhes dava uma pose mais parecida à do canguru, ao contrário dos répteis que Owen imaginou como parecidos aos elefantes.

Os comissários do Central Park tinham planos grandiosos para o seu Museu Paleozóico, O desenho realizado por um artista mostra que a intenção era criar algo parecido ao Palácio de Vidro de Paxton. A única diferença seria que os animais pré-históricos ao invés de estarem no exterior ficariam alojados no interior. O palácio serviria como lugar para a comemoração dos tipos de vida que povoaram antigamente o continente norte-americano.

Dez anos depois, Benjamin Waterhouse Hawkins, o escultor dos dinossauros de Owen, receberia o encargo de reviver o Hadrosaurus de Leidy para o Museu Paleozoico projetado para o Central Park de Nova Iorque. Junto aos dois modelos de Hadrosaurus construiu-se outro dinossauro carnívoro, o Laelaps. Este dinossauro também era conhecido graças à parte de um esqueleto descoberto em 1866 por Edward Drinker Cope (1840-1879), um aluno de Leidy muito preparado.

O desenho que Charles Knight realizou do Laelaps dá uma imagem muito diferente destes animais da que proporcionou a versão paquidérmica de Owen. Aqui são refletidas características similares às dos cangurus de acordo com as indicações de Cope, que sentou as bases para uma imagem muito mais apropriada dos dinossauros.

Os descobrimentos americanos mudaram em poucos anos e de forma radical a perspectiva sobre a anatomia dos dinossauros. Entretanto, na Europa ocorriam novos descobrimentos. Em 1861 divulgava-se em umas canteiras de pedra calcária da Baviera um dos fósseis de aves mais antigos, o Archaeopteryx (“pluma antiga”). Nesse mesmo ano descobriu-se outro pequeno (60 cm de longitude) esqueleto fóssil de réptil completo, também nesta região do sul da Alemanha e recebeu o nome de Compsognathus (“mandíbula bonita”). Tanto Cope como o anatomista inglês Thomas Henry Huxley (1825-1895) deram-se conta de que o Compsognathus não era um réptil qualquer, mas um dinossauro diminuto. A sua estrutura era frágil, com patas compridas, similares às das aves e com uma pose parecida à do Hadrosauros e do Laelaps. Isto parecia indicar que os dinossauros se pareciam mais às aves que aos mamíferos, contrariamente ao que pensava Owen.

O descobrimento deste esqueleto magnificamente conservado do Compsognathus despertou o interesse pela estrutura dos dinossauros.

Simultaneamente, Owen ainda estava dedicado à descrição dos novos dinossauros na Inglaterra e estes exemplares pareciam responder às suas deduções. Em particular, entre os restos dos quais se ocupava, estavam os do Omosauros, um stegossauro de finais do jurássico e o Scelidosaurus, um anquilossauro de princípios do mesmo período. Em ambos os casos tratava-se de representantes fortemente blindados, que proporcionavam indícios claros de terem caminhado sobre quatro patas.

Jazimentos belgas de dinossauros

Em abril de 1878 alguns mineiros estavam escavando um veio de carvão no povoado de Bernissart, no sudeste da Bélgica, quando encontraram uns restos que pareciam ser ossos fósseis. Imediatamente ordenou-se um envio por cabo aos cientistas do Real Museu de História Natural de Bruxelas. Por sorte, junto com os ossos conservavam-se alguns dentes; uma vez examinadas estas provas não havia dúvidas de que se tratava dos restos de um dos primeiros dinossauros de Owen: o Iguanodonte.
Demorou-se muitos anos para dispor e preparar o descobrimento na sua totalidade e este trabalho proporcionou uma excelente amostra representativa da vida nos primeiros anos do cretáceo: peixes, plantas, tartarugas, crocodilos, insetos e dinossauros. Foram descobertas partes de esqueletos completos de trinta e nove Iguanodontes, assim como peças soltas de um dinossauro carnívoro solitário, o Megalosaurus dunkeri.
Em 1882 Louis Dollo (1857-1931) foi nomeado como ajudante de museu e foi-lhe designada a tarefa de descrever os répteis fósseis. Em uma ampla série de artigos científicos, Dollo demonstrou que Leidy, Cope e Huxley estavam certos em relação à forma e postura destes animais. O grande número de esqueletos de Iguanodonte dava testemunho de que os animais tinham umas extremidades traseiras mais compridas e fortes, assim como uma prolongada cauda musculosa. Além disso, as patas eram muito parecidas às das aves, com três longos dedos projetados para frente, - e para terminar de confirmar o parecido com as aves, os ossos da pélvis tinham a distribuição característica dos animais deste grupo.
Ainda hoje em dia Dollo é recordado por biólogos de todas as especialidades, pois a teoria evolutiva que ele formulou recebe o seu nome: “lei de Dollo da irreversibilidade da evolução”. Esta lei é muito importante para a consideração da evolução das aves. Também foi capaz de solucionar um mistério persistente: onde colocar o osso cônico que tanto Mantell como Clift, e posteriormente Owen, tinham situado no focinho do Iguanodonte? Exatamente um ano depois de que fossem terminadas as reproduções do lguanodonte para o Palácio de Vidro, Owen começou a ter dúvidas sobre o corno nasal parecido ao do rinoceronte e sugeriu que poderia ter sido uma garra afiada da pata traseira. Algum tempo mais tarde descobriu-se outra amostra unida aos ossos do antebraço do lguanodonte. Dollo demonstrou que este osso era uma garra parecida a um dedo polegar de tamanho desproporcionado. uma arma atroz.

A febre norte-americana do dinossauro

Exatamente um ano antes do importante descobrimento de Bernissart encontrou-se no Colorado “jazimentos” de dinossauros mais numerosos e variados. Foram descobertos independentemente e aparentemente por acaso, por dois professores de escola, Arthur Lakes e O. W. Lucas.
Lakes encontrou os fósseis perto de Morrison, no Colorado, nas imediações das Montanhas Rochosas. Na América existiam nesta época dois paleontólogos especialmente conhecidos. Um era Edward Drinker Cope, na Filadélfia, cujo trabalho sobre o Laelaps já foi mencionado anteriormente e quem já havia descrito alguns dos dinossauros de New Jersey na década de 1860; posteriormente, em 1876, dirigiria uma expedição através do território da nação índia dos sioux em direção aos depósitos do cretáceo situados na zona do Rio Judith correspondente a Montana, de onde extrairia um dos primeiros dinossauros ceratópidos (dotados de corno), o Monoclonius, assim como alguns hadrossauros. Othniel Charles Marsh, do Yale College (que mais tarde seria Universidade de Yale), também tinha descrito alguns restos de dinossauros em New Jersey (Hadrosaurus minor) em 1870, além do Claosaurus de Kansas. Por esta razão, Lakes enviou parte destes enormes ossos a Marsh, que naquela época era professor de Paleontologia no Museu Peabody de Yale. O resto foi enviado a Cope.

Arthur Lakes pintou muitas paisagens da zona de Colorado e Wyoming onde se produziram grandes descobrimentos fósseis de dinossauros. Aqui os paleontólogos exibem os ossos de Morrison, em Wyoming; estes restos de brontossauro estão expostos na atualidade nos Estados Unidos. Ao enviar os seus fósseis a Cope e Marsh, dois paleontólogos antagonistas, Lakes despertou involuntariamente uma febre do dinossauro, produto da competição acirrada entre os dois estudiosos por realizarem novos e importantes descobrimentos.

Mas o certo é que Cope e Marsh estavam profundamente inimizados. A origem deste ódio parece que se produziu em 1870. Em 1868 Cope tinha descrito o novo fóssil de um réptil marinho conhecido como Elasmosaurus (“lagarto de fita”) cuja espinha dorsal, indicou, mostrava uma estrutura muito pouco comum. Marsh pôde examinar o novo réptil de Cope em 1870 e, depois de tê-lo observado, sugeriu que Cope tinha-se enganado e tinha reconstruído o animal colocando-lhe a cabeça na cauda. Infelizmente para este, Marsh estava certo. Cope estava destroçado.
Assim que Marsh examinou os ossos que recebeu de Lakes contratou-lhe, dando-lhe instruções de que mantivesse o seu descobrimento em segredo, certamente em uma tentativa de impossibilitar qualquer competição proveniente de Cope. Não obstante, Cope já tinha recebido a sua parte correspondente de ossos e estava ocupado na sua descrição quando recebeu uma mensagem de Lakes no qual lhe pedia que fizesse chegar os ossos a Marsh. Apesar disto, a vantagem de que desfrutava Marsh não seria duradoura. O outro mestre, O. W. Lucas, tinha encontrado alguns ossos gigantescos em Garden Park, perto de Canyon City (no Colorado), em outro setor da mesma formação geológica da qual provinham os restos descobertos por Lakes. Lucas mandou as suas amostras diretamente a Cope. Desta forma surgiu uma forte rivalidade entre ambos e foi o princípio de uma corrida por serem os primeiros em publicar informação sobre os novos descobrimentos. Os restos ósseos encontrados em Canyon City eram maiores e mais completos que os de Morrison. Mas a liderança de Cope também não duraria muito tempo. Mais adiante, no final do verão de 1877, produziram-se novos descobrimentos em Como Bluff, em Wyoming. Desta vez Marsh foi o primeiro em entrar em cena. Foram recolhidas enormes quantidades de ossos que não deixaram de ser enviados a Yale durante os doze anos seguintes.
Os descobrimentos de Marsh e Cope no Colorado e em Wyoming divulgaram uma boa quantidade de antigos gigantes do jurássico superior, entre eles o Allosauros, o Ceratosaurus, o Camarasaurus, o Brontosaurus (que depois receberia o nome de Apatosaurus), o Amphicoehas, o Diplodocus, o Stegosaurus e o Camptosaurus. Mas no final dos oitenta as rochas do cretáceo converteram-se em novo centro de atenção. Cope já tinha iniciado as suas investigações neste frente em 1876, mas o abandonou com a chegada da “febre do dinossauro” no Colorado e Wyoming. Com a ajuda de John Bell Hatcher foram recolhidos na zona do rio Judith dinossauros carnívoros de pequeno tamanho (Ornithormimus) e dinossauros blindados (Nodosaurus), além de grandes quantidades de dinossauros com cornos; entre estes restos incluem-se numerosos crânios e esqueletos do conhecido Triceratops. Estes dinossauros foram parar nas mãos de Marsh, graças a que adquiriu maior fama no final dos oitenta e na década de 1890.

Depois da grande febre

Após a morte de Cope, em 1897, e de Marsh, em 1899, diminuiu a procura febril de restos de dinossauros e começou um período de escavações mais lentas e detalhadas. Em 1897 o Museu de História Natural organizou de novo expedições a Como Bluff com o assessoramento de Henry Fairfield Osborn. Osborn desejava poder recolher uma coleção tão boa como a de Yale. Ao longo da primeira temporada encontraram-se dois esqueletos, mas em 1898 descobriu-se nas proximidades um novo assentamento que acabou sendo extremamente frutífero. As ladeiras estavam literalmente cobertas de ossos de dinossauro. Durante os sete anos seguintes foram extraídas quantidades fabulosas de ossos fossilizados, que formariam a base para a criação no museu de uma nova sala dedicada aos dinossauros.

O dinossauro de Andrew Carnegie

O Museu Americano não era o único interessado em conseguir coleções de fósseis, e especialmente de dinossauros. O Museu Carnegie de Pittsburgh, fundado pelo grande industrial e filantropo Andrew Carnegie, também tinha vontade de conseguir dinossauros; de fato, era uma das suas metas pessoais. Os artigos de jornais que divulgavam os descobrimentos de restos de dinossauros no meio oeste americano atraíram a atenção de Carnegie, que notificou ao diretor do seu museu, W. J. Holland, do seu desejo de encontrar um dinossauro gigante para a coleção. Com o financiamento de Carnegie, Holland formou o seu próprio grupo de rastreadores de fósseis e partiu para Wyoming em 1899.
Em menos de dois meses a sua equipe tinha realizado um descobrimento espetacular em Sheep Creek, nas vizinhanças de Medicine Bow: os esqueletos de dois Diplodocus. Nenhum deles se conservava completamente, mas unindo os dois em Pittsburgh, Holland pôde colocar um dinossauro à disposição de Carnegie. No seu momento foi o esqueleto montado de maior envergadura do mundo e para maior glória do seu proprietário recebeu o nome de Diplodocus carnegiei. Carnegie, não satisfeito unicamente em mostrá-lo em Pittsburgh, encarregou quadros que representassem a criatura. Um deles foi destinado à casa que Carnegie possuía na Escócia, onde foi visto por Eduardo VII, rei da Inglaterra, quando a visitou em 1903. A pintura impressionou muito o rei e este perguntou se seria possível que Carnegie conseguisse outro dinossauro igual para a Grã-Bretanha. Carnegie ofereceu-se para encarregar um molde do Diplodocus; assim uma equipe de moldadores italianos entregou-se durante os dois anos seguintes à tarefa de realizar este molde da totalidade do esqueleto do dinossauro. Em 1905 juntaram-se as peças da réplica no Museu de História Natural de Londres e a sua abertura oficial converteu-se em um ato social da coroa. O evento teve tanto êxito que Carnegie encarregou novos moldes e os enviou aos museus de muitas capitais de todo o mundo.

Carnegie encarregou a realização de um molde para obter a representação de um Diplodocus. Aqui vemos a sua apresentação no Museu de História Natural de Londres em 1905 com a presença do rei Eduardo VII. Andrew Carnegie ofereceu-se para doar uma reprodução (cuja elaboração durou dois anos) depois de que o rei visitasse a casa de Carnegie na Escócia e expressasse a sua admiração por uma pintura do esqueleto original.

Em 1909 os escavadores de Carnegie tiveram um segundo grande golpe de sorte em Utah quando Earl Douglas, representante do museu, foi até as imediações das Montanhas Uinta em busca de restos de dinossauros, acompanhado por George Goodrich, um mórmon do lugar. Informes prévios do terreno tinham sugerido a possível existência de ossos. Finalmente Douglas encontrou incrustados nuns estratos de rocha inclinados uma fileira de oito ossos unidos pertencentes à cauda de um dinossauro. O doutor Holland acudiu desde Pittsburgh para examinar o descobrimento e a escavação seguiu o curso das vertebras mostrando gradualmente o conjunto do esqueleto. Ao final ficou ao descoberto praticamente a totalidade de um dinossauro gigante, que receberia o nome de Apatosaurus louisae, em honra a esposa de Andrew Carnegie. Desde 1909 até 1923 este lugar seria regularmente visitado por equipes de escavação do Museu Carnegie; o resultado seria o descobrimento de mais Diplodocus além de Apatosaurus, Camarasaurus, Stegosaurus e Allosaurus.

A febre do dinossauro canadense

Os índios pés-negros conheciam a existência de ossos de dinossauros no vale do rio Red Deer muitos séculos antes que o homem branco os redescobrisse. Pensavam que eram os ossos do ancestral do búfalo e faziam oferendas ao mundo dos espíritos para que a fortuna acompanhasse aos valentes na caça. Uma exploração e investigação científica não começaria ate a década de 1870 com os primeiros informes topográficos da fronteira canadense. Em 1884 Joseph Burr Tyrrell realizou o primeiro descobrimento importante no vale do rio Red Deer: o crânio de um dinossauro carnívoro nas rochas do cretáceo tardio. Enviou os fósseis a Ottawa para que fossem estudados pelo Instituto Topográfico Canadense. Não obstante, nesses momentos não existia ninguém no Canadá que fosse capaz de identificá-los como tais, de modo que foram enviados a Filadélfia para que fossem analisados por Cope, que os classificou como pertencentes a um dinossauro carnívoro. Este dinossauro recebeu por último o nome de Alberiosaurus, em comemoração do fato de que o seu descobrimento se produziu na que posteriormente seria chamada Província de Alberta.
Lawrence Lambe, do Instituto Topográfico Canadense, descobriu uma serie de fósseis e realizou uma descrição de grande parte deles; mas as suas técnicas de escavação não eram as mais adequadas para a obtenção de material considerado de qualidade. O deserto era difícil de ser explorado e de se trabalhar em comparação com as canteiras de fósseis dos Estados Unidos. Em 1910 Barem um Brown, colecionador do Museu Americano de História Natural, teve uma ideia simples, mas formidável. No ano anterior Brown tinha dirigido uma expedição exploratória ao rio Red Reed. Assim, durante a temporada de 1910 decidiu construir uma balsa enorme que transportaria os instrumentos necessários e funcionaria como um acampamento móvel. Com a ajuda de varas poderiam realizar o transporte pelo rio aos pontos convenientes, amarrar e explorar as rochas erosionadas em busca de restos ósseos para depois carregá-los na balsa e prosseguir a expedição. No final de cada temporada a balsa terminava completamente carregada de tesouros fósseis, entre eles vários dinossauros completos, que Brown se encarregava de enviar a Nova Iorque e que formariam a base de algumas das maravilhosas amostras de dinossauros expostas na Sala do Cretáceo do museu. No principio Brown havia recebido o apoio do Instituto Topográfico Canadense, mas uma vez visto o excelente resultado do método esta instituição decidiu contratar a sua própria equipe de escavadores.

As expedições africanas

O ano 1907 foi testemunha do descobrimento de restos de um dinossauro gigantesco entre as rochas do jurássico tardio em Tendaguru nas então colônias alemãs do leste da África e atual Tanzânia. Estes dinossauros foram escavados por pessoal local entre 1908 e 1912, com enormes custos materiais e humanos, sob a supervisão de Edwin Hennig e Werner Janensch, do Museu de História Natural de Berlim. O transporte a Berlim dos descobrimentos desde esta zona remota da África, carente de estradas, acarretou mais de um pesadelo aos organizadores. Condutores contratados transportaram o conjunto de ossos sobre as suas cabeças ou pendurados sobre redes que apoiavam nos seus ombros; o seu peso uma vez embalados alcançava umas duzentas e cinquenta toneladas.
A expedição foi um êxito indiscutível e revelou a existência de uma nova variedade de dinossauros, entre os quais se encontra o Kentrosaurus (provido de espinhos), o Elaplirosaurus, um terópodo de frágil constituição, o Dicraeosaurus, parecido ao Diplodocus e o saurópodo gigantesco denominado Braquiossauro. Este último, de doze metros de altura, alcança uma longitude superior aos 22,5 metros e é a peça mais valiosa do museu berlinense. É o esqueleto montado de dinossauro de maior tamanho do mundo.

Mais dinossauros europeus

Além dos descobrimentos nas suas colônias, a Alemanha também dispunha em casa de alguns exemplares magníficos de dinossauros. Desde finais da década de 1830 vinha-se descobrindo numerosos ossos de dinossauros cuja origem remontava-se ao final do triásico; alguns dos ossos de maior tamanho foram batizados em 1837 por Hermann von Meyer com o nome de Plateosaurus. Uma grande parte foi estudada por Friedrich Freiherr von Huene (1875-1969), um eminente paleontólogo alemão. Se bem que o trabalho que desenvolveu nos seus primeiros tempos consistiu principalmente na classificação dos dinossauros e em investigar o trabalho de outras pessoas, em 1921 Huene ver-se-ia envolvido no excepcional descobrimento de uma quantidade enorme de dinossauros em uma canteira próxima a Trossingen, a uns quarenta e oito quilômetros ao sul de Tubinga. De forma parecida ao acontecido com o Iguanodonte, muitos anos antes tinham sido descobertos alguns restos fascinantes aos que se seguiriam coleções fabulosas. A canteira de Trossingen produziu quantidades ingentes de esqueletos de Plateosaurus completos.

Distribuição dos dinossauros
Na atualidade podemos dizer que foram encontrados restos de dinossauros em todos os continentes do globo. Nos últimos anos, explorações britânicas e argentinas descobriram restos inclusive nas geladas planícies da Antártida. As zonas de localização tradicional dos dinossauros, Europa ocidental e América do Norte, ainda são canteira de novos descobrimentos, se bem que estão sendo realizados alguns descobrimentos espetaculares particularmente na Mongólia, China, América do Sul, África e Austrália.

Expedições à Ásia Central

A princípios dos anos vinte o Museu Americano não só se ocupava de prestar ajuda a Von Huene, mas também tinha nas mãos um plano ambicioso. Osborn, que no inicio do novo século estava relacionado com os descobrimentos de dinossauros em Wyoming, propôs realizar uma expedição à Mongólia em busca das origens da raça humana. Naquela altura prevalecia a teoria de que a Ásia Central tinha sido o berço e Osborn pretendia pô-la à prova. Vários obstáculos tiveram de ser superados: o remoto ponto de destino, além de uma série de dificuldades de tipo político e logístico; finalmente a expedição chegou Mongólia em 1922. Descobriu-se alguns restos de mamíferos, mas nenhum resto humano significativo. No seu lugar, a expedição viu-se recompensada com os restos de alguns dinossauros curiosos providos de bico (Protoceratops, Psittacosaurus), uns estranhos dinossauros blindados (Pinacosaurus) e dinossauros carnívoros muito peculiares (Sauromithoides, Velociraptor e Oviraptor). Foram encontrados em um cemitério de dinossauros densamente povoado; inclusive encontraram, pela primeira vez na historia, ovos e ninhos.

Dinossauros chineses

O imenso território chinês também é uma canteira rica em restos fossilizados de dinossauros. Os primeiros descobrimentos - sem considerar os tradicionais ”dentes de dragão” - foram realizados ao redor do ano 1900, quando um general russo recolhia ossos encontrados por pescadores no norte da China. À continuação varias expedições acudiram à região: iniciativas conjuntas chino-francesas e chino-suecas e as expedições de Osborn no seu caminho de ida e volta da Mongólia; mas a partir de 1933 os chineses ficaram com a exclusiva.

Dinossauros de todo o mundo


A América do Sul foi uma boa fonte de fósseis, entre os que se contam o surpreendente Carnotaurus, um terópodo provido de um grande corno, e um saurópodo blindado, o Saltasaurus, ambos encontrados na Argentina. Em Deccan, região da Índia, também foram descobertos terópodos de finais do cretáceo. Nos anos vinte localizou-se perto de Brisbane, na Austrália, um terópodo de grande tamanho, o Rhoetosaurus e em época mais recente foram encontrados alguns ornitópodos. Inclusive na Antártida encontraram-se alguns dinossauros blindados e um ornitópodo, enquanto que no outro extremo do mundo, foram descobertos restos no Alasca.




O DESCOBRIMENTO DOS DINOSSAUROS é o terceiro capítulo do primeiro volume de A ERA DOS DINOSSAUROS, da coleção ATLAS DO EXTRAORDINÁRIO, publicação das EDICIONES DEL PRADO.
Título original: DINOSAUR!
Copyright Boxtree Limited, 1991
Copyright da edição espanhola, Editorial Debate, S.A;
     Gabriela Mistral, 2; 28035 Madrid.
Copyright desta edição, 1996 Ediciones del Prado;
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