Muito antes que o professor
Richard Owen reconhecesse os dinossauros como grupo e lhes designara um nome,
outras pessoas tinham procurado o caminho que o levaria ao seu descobrimento.
Embora não soubessem muito bem o que tinham nas mãos, seu trabalho não deve ser
ignorado. Eram pessoas de grande inteligência, ávidas por saber e cheias de
energia, entregues a luta para encontrar sentido a uns quantos fósseis.
Conjeturas baseadas nos ossos
Em 1677 Robert Plot, professor de química na
Universidade de Oxford, publicou a sua obra “The Natural History of 0xfordshire, being an essay toward the Natural
History of England”. Neste livro Plot descrevia o extremo inferior
de um fêmur gigantesco (a parte que formaria a metade superior da articulação
do joelho), encontrado em uma canteira em Cornwell, no condado de Oxford. Plot
descreveu o osso com detalhe, excluindo toda possibilidade de que se tratasse
de qualquer classe de objeto de pedra, pois pelo extremo superior já fraturado
havia constância da formação esponjosa típica de um osso, assim como de uma
cavidade medular interna. Contente com a demonstração de que era um osso, para
ser mais exatos, de um petrificado, tentou identificar a criatura qual tinha
pertencido. A sua conclusão foi a seguinte: “... deve ter pertencido a algum animal de tamanho superior a um boi ou a um cavalo e de ser assim - afirmam quase todos os outros autores em um caso parecido -
provavelmente fosse o osso de um elefante, trazido aqui durante o governo
dos romanos na Grã-Bretanha”. Esta conclusão
também não respondia às suas dúvidas, pois não encontrou nenhum documento histórico
que testemunhasse a chegada de elefantes a Grã-Bretanha através dos romanos.
Mas finalmente pôde pôr à prova a
sua hipótese de forma cientifica, pois no ano 1676 teve a oportunidade de
examinar o esqueleto de um elefante que tinha sido transladado a Oxford. Os
ossos eram diferentes da amostra encontrada em Cornwell, e portanto decidiu que
estava diante do fêmur de um gigante humano. A ilustração que Plot realizou
deste osso permite identificá-lo como o extremo inferior do fêmur de um Megalosaurus, dinossauro carnívoro cujos
ossos encontraram-se em rochas do condado de Oxford pertencentes ao jurássico médio.
Um abade francês chamado
Dicquemare, que vivia perto da costa normanda e tinha como afeição colecionar
curiosidades da natureza, publicou em 1776 um informe sobre uns fósseis que
tinha recolhido ao pé dos alcantilados conhecidos na região como Vaches Noires
(Vacas Negras). Entre as varias conchas e fragmentos ósseos parece ter
descoberto os ossos pertencentes à pata de um dinossauro, conforme se pode
deduzir da descrição detalhada que escreveu. Lamentavelmente não fez nenhum
desenho e não se pôde seguir a pista deste osso de nenhuma maneira. Alguns anos
depois, outro clérigo, Bachelet, recolheria mais amostras na costa normanda
para doá-las posteriormente ao Museu Nacional de Paris. Georges Cuvier (de quem
nos ocuparemos em breve) encarregou-se em 1808 de descrever e ilustrar estes
exemplares, identificando-os como os restos de dois tipos diferentes de
crocodilo fóssil. Com posterioridade averiguar-se-ia que os restos de um deles correspondiam
realmente a um dinossauro. O professor Philippe Taquet, do Museu Nacional de
Paris, divulgou estas amostras dos depósitos do museu e que estão constituídas
por uma série de vértebras da espinha dorsal de um Streptospondylus, dinossauro carnívoro de finais do jurássico.
Ao outro lado do Atlântico também
se produziam descobrimentos similares no final do século XVIII. Em New Jersey eram
encontrados ossos de grande tamanho, e em 1787 o doutor Caspar Wistar e Timothy
Matlack apresentavam um informe à Sociedade Filosófica Americana, na Filadélfia.
A partir desse momento, foram encontrados restos de hadrosssauros nas rochas
desta zona, pelo que é provável que fossem ossos de dinossauro. De forma
parecida, o explorador William Clark anotava em 1806 no seu diário o
descobrimento do que certamente era o osso pertencente à pata de um dinossauro
às margens de um rio perto de Billings, no estado de Montana; esta zona também
foi fértil em restos fósseis de dinossauros. Mas até 1820 não seriam divulgadas
na América as primeiras amostras indiscutíveis de dinossauros acompanhadas de uma
descrição. Encontraram-se em rochas do principio do jurássico no Connecticut
Valley e um tal Solomon Ellsworth as descreveria no American Journal of Science (Revista Americana da Ciência) como
restos humanos. Os ossos conservam-se ainda hoje nos depósitos do Yale Peabody
Museum e pôde ser identificada a sua pertença a um dos primeiros dinossauros, o
Anchisaurus.
Primeiras marcas
Outro descobrimento igualmente
curioso que encontramos nos anais é o de umas marcas de grande tamanho de patas
providas de três dedos, parecidas às das aves, descobertas por Pliny Moody nas
suas propriedades da cidade de South Hadley, em Massachusetts. Ignoradas, a não
ser pela sua consideração como particularidade local, estiveram relegadas
durante mais de três décadas, ate que foram objeto de uma detalhada análise
realizada pelo professor reverendo Edward Hitchcock, do Amherst College, entre
meados das décadas de 1830 e 1860. Hitchcock apoiava a tese de que as milhares
de marcas que recolhia e examinava pertenciam a antigas aves gigantescas,
embora agora parecesse evidente que eram restos da presença de dinossauros.
O método cientifico de Cuvier
O primeiro estudo realmente
completo de ossos fossilizados foi levado a cabo pelo barão Georges Cuvier
(1773-1838), famoso cientista francês. A partir de 1799 trabalhou em Paris como
anatomista do Jardim des Plantes, conhecido também como Museu Nacional de Historia
Natural. Foi um dos pensadores mais eminentes e revolucionários da sua época;
acreditava que todas as formas de vida animal se ajustavam a um número limitado
de modelos criados por Deus e também que a forma dos diferentes ossos se
correspondia à função vital (testes animais: por exemplo, se o animal em questão
corria, caminhava, voava ou nadava. Com estes princípios em mente, Cuvier estudou
e dissecou um grande número de animais. Reparou que compreendendo os ossos dos animais
vivos podia desenvolver um método para averiguar o aspecto dos animais fósseis,
cujos restos são só peças ósseas inconexas e mal conservadas. Esta técnica
denomina-se anatomia comparativa, pois requer a comparação entre diferentes
classes de animais com o proposito de entender a finalidade dessa forma.
Cuvier conseguiu rapidamente uma
reputação internacional como o anatomista da sua época possuidor dos maiores conhecimentos.
Mediante a análise de fósseis recolhidos em diferentes partes do mundo (a sua atenção
centrou-se particularmente nos elefantes) pôde demonstrar que alguns animais
tinham-se extinguido em algum momento da historia do planeta. Esta ideia era
revolucionaria para o seu tempo, pois afetava diretamente visão religiosa
segundo a qual Deus tinha povoado o mundo com as suas criaturas e não
permitiria que nenhuma desaparecesse.
A seguinte aportação crucial ao
crescente interesse pelos fósseis chegou através de um despojo de guerra napoleônico.
Em 1795 o exercito republicano francês ocupava a cidade de Maastricht, no sul
da Holanda e apos o saqueio levou consigo um troféu nada usual. Tratava-se de
uma lousa de ardósia encontrada em uma canteira local ha poucos anos; nela
encontravam-se a mandíbula e os ossos do crânio de uma criatura gigante. O fóssil
foi transportado ao Jardim des Plantes, onde Cuvier teve a oportunidade de
estudá-lo. Pôde identificar o animal como um lagarto extinto, agrupado com os
gigantescos lagartos monitores dos trópicos; mas este não era um lagarto
qualquer, era descomunal: só a sua cabeça media 1,2 metros de comprimento.
Posteriormente o reverendo W. D. Conybeare, geólogo inglês, dar-lhe-ia o nome
de Mossasaurus (literalmente “lagarto
de Mossa”), fazendo alusão à zona da qual procedia. Em vida era um lagarto marinho
gigantesco, com uma comprida e potente cauda e patas em forma de remo que lhe
serviam para nadar.
Graças a estes dois descobrimentos
de enorme transcendência, Cuvier demonstrou que os fósseis ofereciam interesse não
só por serem tão diferentes dos animais atuais, mas também porque poderiam
divulgar algumas criaturas realmente excepcionais. A visão que Cuvier tinha do
tema fez-se muito notória depois de que publicasse uma serie de livros, Recherches sur les Ossemens fossiles,
que com o tempo converter-se-ia na obra primordial para aspirantes a paleontólogos
e estudiosos da anatomia comparativa.
William Buckland e o Megalosaurus
William Buckland (1784-1856) foi
um homem extraordinário e de grandes dons. Não só foi um clérigo ilustre - seria
nomeado dignitário eclesiástico de Westminster -, mas também foi o primeiro
professor de geologia em Oxford. Pouco antes de 1818 descobriu-se um lote de
ossos e mandíbulas dentadas fósseis de grande tamanho na canteira de ardósia do
povoado de Stonesfield, ao norte do condado de Oxford. Buckland recebeu estes fósseis
para a sua identificação. Em 1817 e 1818 Cuvier realizava as suas primeiras visitas
à Inglaterra e viajou a Oxford para reunir-se com Buckland e examinar os novos
fósseis. Para Cuvier não havia dúvidas de que Buckland possuía os restos de um novo
réptil gigante até agora desconhecido e que, além disso, era bastante parecido
aos fósseis de Normandia que ele mesmo tinha descrito como crocodilos. Buckland
publicou um informe sobre estes descobrimentos em 1824 nas Atas da Sociedade Geológica
de Londres, batizando-o como Megalosaurus
(“grande lagarto”).
O Megalosaurus estava muito pouco completo. Os seus restos
limitavam-se a uma mandíbula dotada de grandes dentes em forma de pá, algumas
vértebras, ossos do ombro, parte da anca e alguns ossos da pata traseira. Mas já
era muito mais do que cientistas anteriores tinham conseguido em cima das suas
mesas de trabalho. Buckland sugeriu que o Megalosaurus
seria um lagarto depredador extinto, uma proposta parecida à que tinha sido
feita por Cuvier sobre o crânio fóssil de Maastricht. Cuvier também tinha
advertido Buckland de que este animal, a julgar pelo tamanho dos ossos
correspondentes às patas traseiras, poderia ter superado os doze metros de
longitude, com um tamanho parecido ao de um elefante, isto é, dois metros de altura.
Pode ser que Buckland não soubesse que tinha diante de si um dinossauro, mas
era certo que o animal não tinha muitas semelhanças com os lagartos dos nossos
dias.
Buckland fez também referencia no
seu informe a outro cientista do momento, interessado também nos fósseis: o
doutor Gideon Algernon Mantell. Mantell também tinha descoberto ossos de
megalossauro, alguns inclusive maiores que os de Buckland.
Gideon Mantell e o Iguanodonte
Gideon Algernon Mantell
(1790-1852), um medico afincado em Lewes, na costa meridional inglesa, era,
além disso, um geólogo entusiasmado e grande parte do seu tempo livre era
dedicado à exploração do terreno circundante e a recolher fósseis, abundantes
na zona. Em 1822 publicou um livro: Fósseis
dos South Downs. Nele se incluíram informes de alguns dentes fossilizados
pouco comuns, com arestas e alguns deles muito desgastados, encontrados nas
canteiras do Bosque de Tilgate. Na sua tentativa de identificar estes dentes
tinha consultado todos os expertos britânicos em fósseis. Buckland acreditava
que se tratava dos incisivos de algum peixe de grande tamanho, enquanto que
outros os consideravam dentes de mamíferos de época relativamente recente cujos
restos se tinham misturado com rochas mais antigas. Insatisfeito com qualquer
uma destas explicações, Mantell enviou algumas amostras a Cuvier em junho de
1824. Esse mesmo mês obteve resposta de Cuvier na qual este apoiava firmemente
a opinião de Mantell, descartando qualquer possibilidade de que essa dentadura
pertencesse a um peixe e sugeria que poderia tratar-se de um grande réptil herbívoro
desconhecido até o momento. Cuvier publicou uma breve resenha sobre estes restos
no volume de Ossemens fossiles de
1824, destacando a sua leve semelhança com os incisivos desgastados de um peixe
grande ou de um mamífero como o rinoceronte, embora a sua conclusão fosse a
provável pertença destes restos a um réptil.
Mais adiante, nesse mesmo ano,
Mantell teve mais fortuna. Ao visitar o Museu do Real Colégio de Cirurgiões de
Lincoln's Inn Flelds, em Londres, mostraram-lhe um esqueleto de iguana que
acabavam de reconstruir. Embora os dentes deste lagarto caribenho fossem
diminutos em comparação com o dente fossilizado, a forma era muito parecida e,
além disso, era um réptil herbívoro. No seu informe sobre os fósseis nas Atas Filosóficas da Real Sociedade de 10
de fevereiro de 1825 denominou o animal de Iguanodonte
(“dente de lguana”), como lhe havia sugerido o reverendo William Conybeare
(quem também tinha cunhado os termos Megalosaurus
e Mosasaurus). Após a comparação dos
dentes fossilizados com os do iguana, Mantell concluiu que o Iguanodonte teria sido inclusive maior
que o Megalosaurus e sugeriu uma
longitude de dezoito metros.
É curioso comprovar que William
Smith, criador dos primeiros mapas geológicos da Inglaterra, já se tinha
abastecido da canteira da qual se abastecia Mantell. Em 1978 o doutor Alan
Charig livrou do pó dos depósitos do Instituto de Ciências Geológicas - na
atualidade parte do Museu de História Natural de Londres - uma coleção de
fósseis recolhidos em 1809 por Smith em Cuckfield. Entre as muitas peças
fragmentadas e de escasso valor encontra-se uma porção muito característica da
pata inferior do lguanodonte. William
Smith não foi consciente da importância deste descobrimento, mas parece ser o
primeiro resto autenticado deste dinossauro.
Em 1833 Mantell encontrou outro
réptil gigante nas canteiras do Bosque de Tilgate. Deste, que recebeu o nome de
Hylaeosaurus (“lagarto do bosque”),
ficavam restos da metade dianteira e parecia ser um animal consideravelmente
inferior em tamanho ao Iguanodonte;
por outra parte dava testemunho de ter estado dotado de grandes vértebras
pontiagudas que percorreriam todo o comprimento das costas. Um ano depois os
trabalhadores de uma canteira de Maidstone, no condado de Kent, descobriam um
esqueleto incompleto de Iguanodonte.
Esta nova amostra permitiu que
Mantell fizesse a primeira tentativa de reconstrução do Iguanodonte assistido por William Clift, conservador do Museu do
Real Colégio de Cirurgiões. O resultado mostrava de forma clara as marcadas
proporções do lagarto que se atribuíram a esta criatura. A ponta que coroa o
focinho nesta ilustração foi realizada pelo próprio Mantell depois de encontrar
em Tilgate um curioso osso cônico, uma forma muito similar ao corno que têm
algumas iguanas no focinho.
Richard Owen e os dinossauros
Em 1827, quando Mantell estava
mais ocupado com os seus primeiros descobrimentos do Iguanodonte, Richard Owen - que tinha vinte e três anos de idade -
recebeu o cargo de ajudante de William Clift no Museu do Real Colégio de
Cirurgiões de Londres. Uma das suas primeiras tarefas consistiu em dissecar e
descrever os diversos animais que morriam no Zôo de Londres (o jardim
Zoológico, como era chamado então).
Owen ocupou em 1837 a vaga de
professor de anatomia comparada e começou a publicar um grande número de
artigos científicos sobre restos fósseis de mamíferos e répteis. Foi nesta
época quando passou pela sua cabeça realizar um estudo de todos os répteis
fósseis da Grã-Bretanha conhecidos até o momento e fez a proposta à Associação
Britânica para o Avanço da Ciência, em 1838. Aceitaram patrocinar o seu
trabalho e durante os anos seguintes percorreu todo o país procurando e
descrevendo os restos fossilizados de répteis. Em 1839, Owen apresentou o seu
primeiro informe sobre os Enaliossáurios,
ou “lagartos marinhos”, à Associação. No dia 30 de julho de 1841 pronunciou a
leitura da segunda e última parte do seu estudo no undécimo encontro da
Associação.
A grande aportação do discurso de
Owen foi, sem sombra de dúvida, a descrição e apresentação do termo
“dinossauro” como “réptil terrível”. Este novo grupo compreendia três classes
de fósseis répteis: o Megalosaurus de
Buckland e os Hylaeosaurus e Iguanodonte de Mantell. Owen não via
neles somente características compartidas com os lagartos, como foi aceito pela
maioria (a amostra gráfica é a primeira ilustração de Iguanodonte realizada por Mantell), mas uma surpreendente mistura
de características: costelas abdominais, como as dos crocodilos; a sua elevada
altura; o comprimento e feitio das vértebras, totalmente anômalas; o sacro
(osso formado por cinco vértebras soldadas situado na parte inferior da coluna
vertebral) aderido à pélvis, como nos mamíferos; ossos das extremidades longos
e vazios com processos (salientes) para a fixação do músculo, o que indicava
que estes animais se deslocavam pela terra, como os mamíferos; os ossos
correspondentes aos dedos das patas, que além de afiadas garras tinham uma
forte semelhança com as de pesados mamíferos viventes, como o rinoceronte, o
elefante e o hipopótamo, novamente uma característica dos mamíferos; complexos
ossos dos ombros, como no caso dos lagartos; e dentadura de tipo intermediário:
os dentes do Megalosaurus estavam
contidos em alvéolos (buracos da mandíbula), como os dos crocodilos, enquanto
os do Iguanodonte e o Hylaeosauros eram mais parecidos com os
dentes dos lagartos.
A visão retrospectiva vai inevitavelmente
acompanhada por uma maior sabedoria e permite constatar que Owen omitiu alguns
outros dinossauros que apareciam no seu informe e simplesmente fez referência a
um grupo de répteis que Cuvier tinha qualificado como “extraordinários”,
dezessete anos antes. Em 1824 Cuvier tinha advertido Buckland da semelhança de
constituição e proporções entre o Megalosaurus
e um elefante de tamanho médio. Nesse mesmo ano, como vimos, Cuvier tinha feito
uma atrevida sugestão a Mantell, que este publicou no seu artigo de 1825: os
dentes e ossos que acabava de descobrir em Tilgate pareciam representar os
restos de um réptil herbívoro gigantesco, comparável aos grandes mamíferos
herbívoros da atualidade.
Owen deu um impulso a esta ideia
proporcionando um nome oficial a estes lagartos mastodônticos e dotando-os de
uma imagem; as cartas deste jogo eram a sua reputação como cientista e o método
comparativo desenvolvido por Cuvier. Mas era um jogo arriscado e se ao
princípio valeu a pena, no final não pôde manter-se em pé corno teria sido
necessário.
Owen também parece ter tido
segundas intenções na sua decisão de recriar os dinossauros, o que explicaria a
audácia demonstrada em 1841. O que fazia era se opor a uma forte corrente de
opinião, bastante comum entre alguns anatomistas franceses e britânicos, no que
se refere ao tema da evolução animal (ou “transmutação”, como era denominada
naquela época). Esta corrente em particular, apoiava-se na observação, após a
análise dos fósseis, da progressiva complexidade das formas de vida com o
passar do tempo; chamou-se a isto movimento “progressionista”. Owen estava em
profundo desacordo com esta filosofia e acreditava que os dinossauros
permitiriam-lhe demonstrar quão errôneo era este argumento. Defendeu que os
dinossauros eram anatômica e fisiologicamente muito superiores aos répteis que
podemos ver hoje em dia. Os répteis modernos, defendia, são formas degeneradas
se os comparamos com os esplêndidos dinossauros répteis do mesozoico.
No sumário que acompanha o seu
informe de 1841 Owen especulou sobre a possibilidade de que a atmosfera do mesozoico
tivesse um menor conteúdo de oxigênio e favorecesse mais os répteis que os
mamíferos ou aves por terem aqueles menor necessidade energética que estes. Não
obstante, sugeriu, é provável que a vida dos dinossauros fosse superior neste
aspecto à de grande parte dos répteis, pois teriam um coração dividido em
quatro câmaras, de forma parecida a mamíferos e aves e acrescentou que
provavelmente «... pela sua melhor adaptação à vida terrestre se tivessem
beneficiado do funcionamento de um centro tão organizado de circulação (o
coração) em um grau bastante próximo ao que caracteriza na atualidade os
vertebrados de sangue quente (ou seja, mamíferos e aves).»
E assim terminou Owen o seu
informe, antecipando com grande audácia e dons de clarividência os
enfrentamentos fisiológicos que se produziriam no estudo dos dinossauros
durante os últimos vinte anos: se os dinossauros eram animais “de sangue frio”
ou “de sangue quente”. Também proporcionou sem sabê-lo uma das primeiras
teorias que explicaram o desaparecimento dos dinossauros: uma ascensão do nível
de oxigênio da atmosfera (ou bem a atmosfera viu-se “fortalecida” de alguma
outra forma) até que as novas condições se tornaram insuportáveis para estes
répteis.
A oportunidade de dotar os
dinossauros de uma essência autêntica e duradoura foi brindada a Owen de forma
inesperada em 1852, quando teve a oportunidade de colaborar com Benjamin
Waterhouse Hawkins no desenho a escala real das reproduções para o Parque do
Palácio de Vidro em Sydenham.
O visitante atual ainda pode
comprovar quão imponentes são estas reproduções, mas estão longe de serem fiéis
à realidade. Os gigantescos monstros de grossos membros mostram ainda bastantes
reminiscências dos paquidermes contemporâneos (dotados de uma pele muito
grossa) como o rinoceronte, a não ser por terem uma pele repleta de escamas e
caudas de répteis bastante compridas. É este particularmente o caso do Iguanodonte de Mantell, do qual existem
expostas duas reproduções, cada uma delas decorada com um chamativo corno na
ponta do focinho. O Megalosaurus
parece um urso de grande tamanho e com o focinho alongado, enquanto o Hylaeosaurus parece ser uma versão mais
esbelta do Iguanodonte, com uma
coluna vertebral coberta de espinhos em troca de perder o infamante corno
nasal.
É bastante fácil a estas alturas
rirmos dos dinossauros de Owen, como fez o paleontólogo norte-americano O. C.
Marsh quando visitou a Inglaterra em 1895, três anos depois da morte de Owen. “Até
onde alcança o meu juízo, não há nada igual nem no céu, nem na Terra, nem nas
águas por debaixo da Terra. Agora temos provas evidentes de que tanto o Megalosaurus como o Iguanodonte eram bípedes, e representá-los a gatas, a não ser na
sua mais terna infância, seria tão incongruente como fazer o mesmo com os
hominídeos.”
Nos anos posteriores a Owen, que
certamente estava no zênite da sua atividade intelectual a meados dos cinquenta,
viu a sua concepção dos dinossauros deslocada gradualmente por novos descobrimentos
de esqueletos mais completos destes répteis. No caso dos dinossauros a
estrutura corporal era radicalmente diferente de qualquer conclusão à que ele
teria podido chegar; esta é a razão de que os dinossauros de Owen pareçam tão
antiquados.
OS DINOSSAUROS APÓS OWEN
Pouco depois de que as
reproduções de Owen tivessem chegado ao seu fim, começaram a produzir-se
sucessivos descobrimentos de restos de dinossauros na América do Norte. Muitos
anos antes tinham sido encontradas marcas, mas os primeiros descobrimentos que
conduziam a descrições propriamente científicas foram realizados por Ferdinand
Vandiveer Hayden em 1855 no transcurso de uma expedição ao que na atualidade é
o leste de Montana. Em uma zona próxima à confluência dos rios Judith e Missouri
encontraram-se uns dentes nada comuns nas rochas cretáceas e foram levados a
Joseph Leidy (1823- 1897), professor de Anatomia na Universidade de Pensilvânia.
Leidy publicou breves descrições
destas peças no ano seguinte. Considerou que dois destes dentes eram parecidos
aos dos lagartos e denominou-os de Paleoscincus
(“sangue antigo”) e Troödon (“dente
que fere”); posteriormente descobriu-se que ambos pertenciam a dinossauros.
Antes que decorressem dois anos,
os restos da presença de dinossauros na América do Norte superavam amplamente
aos que tinham sido acumulados durante trinta anos de procura na Europa. O
descobrimento produziu-se muito perto da Filadélfia, e veio da mão de William
Parker Foulke. Em 1858 escavou-se em Haddonfield, New Jersey, parte de um
esqueleto, e que foi entregue a Leidy. Este encarregou-se rapidamente de
descrever e batizar esta nova amostra com o nome de Hadrosaurus foulkii (“lagarto pesado de Foulke”), indicando que
novamente se tratava de um exemplar parecido ao Iguanodonte. Não obstante, o descobrimento recente incluía nove
dentes, parte da mandíbula, muitas vértebras e - o mais importante - os ossos
principais das extremidades, que davam constância de que as dianteiras eram
muito mais fortes e compridas do que as traseiras. Por isso Leidy sugeriu a
possibilidade de que estes animais tivessem caminhado unicamente sobre as suas
patas traseiras, o que lhes dava uma pose mais parecida à do canguru, ao
contrário dos répteis que Owen imaginou como parecidos aos elefantes.
Dez anos depois, Benjamin
Waterhouse Hawkins, o escultor dos dinossauros de Owen, receberia o encargo de
reviver o Hadrosaurus de Leidy para o
Museu Paleozoico projetado para o Central Park de Nova Iorque. Junto aos dois
modelos de Hadrosaurus construiu-se
outro dinossauro carnívoro, o Laelaps.
Este dinossauro também era conhecido graças à parte de um esqueleto descoberto
em 1866 por Edward Drinker Cope (1840-1879), um aluno de Leidy muito preparado.
Os descobrimentos americanos
mudaram em poucos anos e de forma radical a perspectiva sobre a anatomia dos
dinossauros. Entretanto, na Europa ocorriam novos descobrimentos. Em 1861
divulgava-se em umas canteiras de pedra calcária da Baviera um dos fósseis de
aves mais antigos, o Archaeopteryx
(“pluma antiga”). Nesse mesmo ano descobriu-se outro pequeno (60 cm de
longitude) esqueleto fóssil de réptil completo, também nesta região do sul da
Alemanha e recebeu o nome de Compsognathus
(“mandíbula bonita”). Tanto Cope como o anatomista inglês Thomas Henry Huxley
(1825-1895) deram-se conta de que o Compsognathus
não era um réptil qualquer, mas um dinossauro diminuto. A sua estrutura era
frágil, com patas compridas, similares às das aves e com uma pose parecida à do
Hadrosauros e do Laelaps. Isto parecia indicar que os dinossauros se pareciam mais
às aves que aos mamíferos, contrariamente ao que pensava Owen.
Simultaneamente, Owen ainda
estava dedicado à descrição dos novos dinossauros na Inglaterra e estes
exemplares pareciam responder às suas deduções. Em particular, entre os restos
dos quais se ocupava, estavam os do Omosauros,
um stegossauro de finais do jurássico e o Scelidosaurus,
um anquilossauro de princípios do mesmo período. Em ambos os casos tratava-se
de representantes fortemente blindados, que proporcionavam indícios claros de
terem caminhado sobre quatro patas.
O descobrimento deste esqueleto magnificamente conservado do Compsognathus despertou o interesse pela estrutura dos dinossauros. |
Jazimentos belgas de dinossauros
Em abril de 1878 alguns mineiros
estavam escavando um veio de carvão no povoado de Bernissart, no sudeste da
Bélgica, quando encontraram uns restos que pareciam ser ossos fósseis.
Imediatamente ordenou-se um envio por cabo aos cientistas do Real Museu de
História Natural de Bruxelas. Por sorte, junto com os ossos conservavam-se alguns
dentes; uma vez examinadas estas provas não havia dúvidas de que se tratava dos
restos de um dos primeiros dinossauros de Owen: o Iguanodonte.
Demorou-se muitos anos para
dispor e preparar o descobrimento na sua totalidade e este trabalho
proporcionou uma excelente amostra representativa da vida nos primeiros anos do
cretáceo: peixes, plantas, tartarugas, crocodilos, insetos e dinossauros. Foram
descobertas partes de esqueletos completos de trinta e nove Iguanodontes, assim como peças soltas de
um dinossauro carnívoro solitário, o Megalosaurus
dunkeri.
Em 1882 Louis Dollo (1857-1931)
foi nomeado como ajudante de museu e foi-lhe designada a tarefa de descrever os
répteis fósseis. Em uma ampla série de artigos científicos, Dollo demonstrou
que Leidy, Cope e Huxley estavam certos em relação à forma e postura destes
animais. O grande número de esqueletos de Iguanodonte
dava testemunho de que os animais tinham umas extremidades traseiras mais
compridas e fortes, assim como uma prolongada cauda musculosa. Além disso, as
patas eram muito parecidas às das aves, com três longos dedos projetados para
frente, - e para terminar de confirmar o parecido com as aves, os ossos da
pélvis tinham a distribuição característica dos animais deste grupo.
Ainda hoje em dia Dollo é
recordado por biólogos de todas as especialidades, pois a teoria evolutiva que
ele formulou recebe o seu nome: “lei de Dollo da irreversibilidade da evolução”.
Esta lei é muito importante para a consideração da evolução das aves. Também
foi capaz de solucionar um mistério persistente: onde colocar o osso cônico que
tanto Mantell como Clift, e posteriormente Owen, tinham situado no focinho do Iguanodonte? Exatamente um ano depois de
que fossem terminadas as reproduções do lguanodonte
para o Palácio de Vidro, Owen começou a ter dúvidas sobre o corno nasal
parecido ao do rinoceronte e sugeriu que poderia ter sido uma garra afiada da
pata traseira. Algum tempo mais tarde descobriu-se outra amostra unida aos
ossos do antebraço do lguanodonte.
Dollo demonstrou que este osso era uma garra parecida a um dedo polegar de
tamanho desproporcionado. uma arma atroz.
A febre norte-americana do dinossauro
Exatamente um ano antes do
importante descobrimento de Bernissart encontrou-se no Colorado “jazimentos” de
dinossauros mais numerosos e variados. Foram descobertos independentemente e
aparentemente por acaso, por dois professores de escola, Arthur Lakes e O. W. Lucas.
Lakes encontrou os fósseis perto
de Morrison, no Colorado, nas imediações das Montanhas Rochosas. Na América
existiam nesta época dois paleontólogos especialmente conhecidos. Um era Edward
Drinker Cope, na Filadélfia, cujo trabalho sobre o Laelaps já foi mencionado
anteriormente e quem já havia descrito alguns dos dinossauros de New Jersey na
década de 1860; posteriormente, em 1876, dirigiria uma expedição através do
território da nação índia dos sioux em direção aos depósitos do cretáceo
situados na zona do Rio Judith correspondente a Montana, de onde extrairia um
dos primeiros dinossauros ceratópidos (dotados de corno), o Monoclonius, assim como alguns
hadrossauros. Othniel Charles Marsh, do Yale College (que mais tarde seria
Universidade de Yale), também tinha descrito alguns restos de dinossauros em
New Jersey (Hadrosaurus minor) em
1870, além do Claosaurus de Kansas.
Por esta razão, Lakes enviou parte destes enormes ossos a Marsh, que naquela
época era professor de Paleontologia no Museu Peabody de Yale. O resto foi
enviado a Cope.
Mas o certo é que Cope e Marsh
estavam profundamente inimizados. A origem deste ódio parece que se produziu em
1870. Em 1868 Cope tinha descrito o novo fóssil de um réptil marinho conhecido
como Elasmosaurus (“lagarto de fita”)
cuja espinha dorsal, indicou, mostrava uma estrutura muito pouco comum. Marsh
pôde examinar o novo réptil de Cope em 1870 e, depois de tê-lo observado,
sugeriu que Cope tinha-se enganado e tinha reconstruído o animal colocando-lhe
a cabeça na cauda. Infelizmente para este, Marsh estava certo. Cope estava
destroçado.
Assim que Marsh examinou os ossos
que recebeu de Lakes contratou-lhe, dando-lhe instruções de que mantivesse o
seu descobrimento em segredo, certamente em uma tentativa de impossibilitar
qualquer competição proveniente de Cope. Não obstante, Cope já tinha recebido a
sua parte correspondente de ossos e estava ocupado na sua descrição quando
recebeu uma mensagem de Lakes no qual lhe pedia que fizesse chegar os ossos a
Marsh. Apesar disto, a vantagem de que desfrutava Marsh não seria duradoura. O
outro mestre, O. W. Lucas, tinha encontrado alguns ossos gigantescos em Garden
Park, perto de Canyon City (no Colorado), em outro setor da mesma formação
geológica da qual provinham os restos descobertos por Lakes. Lucas mandou as
suas amostras diretamente a Cope. Desta forma surgiu uma forte rivalidade entre
ambos e foi o princípio de uma corrida por serem os primeiros em publicar
informação sobre os novos descobrimentos. Os restos ósseos encontrados em
Canyon City eram maiores e mais completos que os de Morrison. Mas a liderança
de Cope também não duraria muito tempo. Mais adiante, no final do verão de
1877, produziram-se novos descobrimentos em Como Bluff, em Wyoming. Desta vez
Marsh foi o primeiro em entrar em cena. Foram recolhidas enormes quantidades de
ossos que não deixaram de ser enviados a Yale durante os doze anos seguintes.
Os descobrimentos de Marsh e Cope
no Colorado e em Wyoming divulgaram uma boa quantidade de antigos gigantes do
jurássico superior, entre eles o Allosauros,
o Ceratosaurus, o Camarasaurus, o Brontosaurus (que depois receberia o nome de Apatosaurus), o Amphicoehas,
o Diplodocus, o Stegosaurus e o Camptosaurus.
Mas no final dos oitenta as rochas do cretáceo converteram-se em novo centro de
atenção. Cope já tinha iniciado as suas investigações neste frente em 1876, mas
o abandonou com a chegada da “febre do dinossauro” no Colorado e Wyoming. Com a
ajuda de John Bell Hatcher foram recolhidos na zona do rio Judith dinossauros
carnívoros de pequeno tamanho (Ornithormimus)
e dinossauros blindados (Nodosaurus),
além de grandes quantidades de dinossauros com cornos; entre estes restos
incluem-se numerosos crânios e esqueletos do conhecido Triceratops. Estes dinossauros foram parar nas mãos de Marsh,
graças a que adquiriu maior fama no final dos oitenta e na década de 1890.
Depois da grande febre
Após a morte de Cope, em 1897, e
de Marsh, em 1899, diminuiu a procura febril de restos de dinossauros e começou
um período de escavações mais lentas e detalhadas. Em 1897 o Museu de História
Natural organizou de novo expedições a Como Bluff com o assessoramento de Henry
Fairfield Osborn. Osborn desejava poder recolher uma coleção tão boa como a de
Yale. Ao longo da primeira temporada encontraram-se dois esqueletos, mas em
1898 descobriu-se nas proximidades um novo assentamento que acabou sendo
extremamente frutífero. As ladeiras estavam literalmente cobertas de ossos de
dinossauro. Durante os sete anos seguintes foram extraídas quantidades
fabulosas de ossos fossilizados, que formariam a base para a criação no museu
de uma nova sala dedicada aos dinossauros.
O dinossauro de Andrew Carnegie
O Museu Americano não era o único
interessado em conseguir coleções de fósseis, e especialmente de dinossauros. O
Museu Carnegie de Pittsburgh, fundado pelo grande industrial e filantropo
Andrew Carnegie, também tinha vontade de conseguir dinossauros; de fato, era
uma das suas metas pessoais. Os artigos de jornais que divulgavam os descobrimentos
de restos de dinossauros no meio oeste americano atraíram a atenção de Carnegie,
que notificou ao diretor do seu museu, W. J. Holland, do seu desejo de
encontrar um dinossauro gigante para a coleção. Com o financiamento de
Carnegie, Holland formou o seu próprio grupo de rastreadores de fósseis e
partiu para Wyoming em 1899.
Em menos de dois meses a sua
equipe tinha realizado um descobrimento espetacular em Sheep Creek, nas
vizinhanças de Medicine Bow: os esqueletos de dois Diplodocus. Nenhum deles se
conservava completamente, mas unindo os dois em Pittsburgh, Holland pôde
colocar um dinossauro à disposição de Carnegie. No seu momento foi o esqueleto
montado de maior envergadura do mundo e para maior glória do seu proprietário
recebeu o nome de Diplodocus carnegiei. Carnegie, não satisfeito
unicamente em mostrá-lo em Pittsburgh, encarregou quadros que representassem a
criatura. Um deles foi destinado à casa que Carnegie possuía na Escócia, onde
foi visto por Eduardo VII, rei da Inglaterra, quando a visitou em 1903. A
pintura impressionou muito o rei e este perguntou se seria possível que
Carnegie conseguisse outro dinossauro igual para a Grã-Bretanha. Carnegie
ofereceu-se para encarregar um molde do Diplodocus; assim uma equipe de
moldadores italianos entregou-se durante os dois anos seguintes à tarefa de
realizar este molde da totalidade do esqueleto do dinossauro. Em 1905
juntaram-se as peças da réplica no Museu de História Natural de Londres e a sua
abertura oficial converteu-se em um ato social da coroa. O evento teve tanto
êxito que Carnegie encarregou novos moldes e os enviou aos museus de muitas
capitais de todo o mundo.
Em 1909 os escavadores de Carnegie tiveram um segundo grande golpe de sorte em Utah quando Earl Douglas, representante do museu, foi até as imediações das Montanhas Uinta em busca de restos de dinossauros, acompanhado por George Goodrich, um mórmon do lugar. Informes prévios do terreno tinham sugerido a possível existência de ossos. Finalmente Douglas encontrou incrustados nuns estratos de rocha inclinados uma fileira de oito ossos unidos pertencentes à cauda de um dinossauro. O doutor Holland acudiu desde Pittsburgh para examinar o descobrimento e a escavação seguiu o curso das vertebras mostrando gradualmente o conjunto do esqueleto. Ao final ficou ao descoberto praticamente a totalidade de um dinossauro gigante, que receberia o nome de Apatosaurus louisae, em honra a esposa de Andrew Carnegie. Desde 1909 até 1923 este lugar seria regularmente visitado por equipes de escavação do Museu Carnegie; o resultado seria o descobrimento de mais Diplodocus além de Apatosaurus, Camarasaurus, Stegosaurus e Allosaurus.
Em 1909 os escavadores de Carnegie tiveram um segundo grande golpe de sorte em Utah quando Earl Douglas, representante do museu, foi até as imediações das Montanhas Uinta em busca de restos de dinossauros, acompanhado por George Goodrich, um mórmon do lugar. Informes prévios do terreno tinham sugerido a possível existência de ossos. Finalmente Douglas encontrou incrustados nuns estratos de rocha inclinados uma fileira de oito ossos unidos pertencentes à cauda de um dinossauro. O doutor Holland acudiu desde Pittsburgh para examinar o descobrimento e a escavação seguiu o curso das vertebras mostrando gradualmente o conjunto do esqueleto. Ao final ficou ao descoberto praticamente a totalidade de um dinossauro gigante, que receberia o nome de Apatosaurus louisae, em honra a esposa de Andrew Carnegie. Desde 1909 até 1923 este lugar seria regularmente visitado por equipes de escavação do Museu Carnegie; o resultado seria o descobrimento de mais Diplodocus além de Apatosaurus, Camarasaurus, Stegosaurus e Allosaurus.
A febre do dinossauro canadense
Os índios pés-negros conheciam a existência
de ossos de dinossauros no vale do rio Red Deer muitos séculos antes que o
homem branco os redescobrisse. Pensavam que eram os ossos do ancestral do búfalo
e faziam oferendas ao mundo dos espíritos para que a fortuna acompanhasse aos
valentes na caça. Uma exploração e investigação científica não começaria ate a década
de 1870 com os primeiros informes topográficos da fronteira canadense. Em 1884
Joseph Burr Tyrrell realizou o primeiro descobrimento importante no vale do rio
Red Deer: o crânio de um dinossauro carnívoro nas rochas do cretáceo tardio. Enviou
os fósseis a Ottawa para que fossem estudados pelo Instituto Topográfico
Canadense. Não obstante, nesses momentos não existia ninguém no Canadá que
fosse capaz de identificá-los como tais, de modo que foram enviados a Filadélfia
para que fossem analisados por Cope, que os classificou como pertencentes a um
dinossauro carnívoro. Este dinossauro recebeu por último o nome de Alberiosaurus, em comemoração do fato de
que o seu descobrimento se produziu na que posteriormente seria chamada Província
de Alberta.
Lawrence Lambe, do Instituto Topográfico
Canadense, descobriu uma serie de fósseis e realizou uma descrição de grande
parte deles; mas as suas técnicas de escavação não eram as mais adequadas para
a obtenção de material considerado de qualidade. O deserto era difícil de ser
explorado e de se trabalhar em comparação com as canteiras de fósseis dos
Estados Unidos. Em 1910 Barem um Brown, colecionador do Museu Americano de
História Natural, teve uma ideia simples, mas formidável. No ano anterior Brown
tinha dirigido uma expedição exploratória ao rio Red Reed. Assim, durante a
temporada de 1910 decidiu construir uma balsa enorme que transportaria os
instrumentos necessários e funcionaria como um acampamento móvel. Com a ajuda
de varas poderiam realizar o transporte pelo rio aos pontos convenientes,
amarrar e explorar as rochas erosionadas em busca de restos ósseos para depois
carregá-los na balsa e prosseguir a expedição. No final de cada temporada a
balsa terminava completamente carregada de tesouros fósseis, entre eles vários
dinossauros completos, que Brown se encarregava de enviar a Nova Iorque e que
formariam a base de algumas das maravilhosas amostras de dinossauros expostas
na Sala do Cretáceo do museu. No principio Brown havia recebido o apoio do Instituto
Topográfico Canadense, mas uma vez visto o excelente resultado do método esta instituição
decidiu contratar a sua própria equipe de escavadores.
As expedições africanas
O ano 1907 foi testemunha do
descobrimento de restos de um dinossauro gigantesco entre as rochas do jurássico
tardio em Tendaguru nas então colônias alemãs do leste da África e atual Tanzânia.
Estes dinossauros foram escavados por pessoal local entre 1908 e 1912, com enormes
custos materiais e humanos, sob a supervisão de Edwin Hennig e Werner Janensch,
do Museu de História Natural de Berlim. O transporte a Berlim dos
descobrimentos desde esta zona remota da África, carente de estradas, acarretou
mais de um pesadelo aos organizadores. Condutores contratados transportaram o
conjunto de ossos sobre as suas cabeças ou pendurados sobre redes que apoiavam
nos seus ombros; o seu peso uma vez embalados alcançava umas duzentas e cinquenta
toneladas.
A expedição foi um êxito indiscutível
e revelou a existência de uma nova variedade de dinossauros, entre os quais se
encontra o Kentrosaurus (provido de
espinhos), o Elaplirosaurus, um terópodo
de frágil constituição, o Dicraeosaurus,
parecido ao Diplodocus e o saurópodo
gigantesco denominado Braquiossauro.
Este último, de doze metros de altura, alcança uma longitude superior aos 22,5
metros e é a peça mais valiosa do museu berlinense. É o esqueleto montado de
dinossauro de maior tamanho do mundo.
Mais dinossauros europeus
Além dos descobrimentos nas suas colônias,
a Alemanha também dispunha em casa de alguns exemplares magníficos de dinossauros.
Desde finais da década de 1830 vinha-se descobrindo numerosos ossos de
dinossauros cuja origem remontava-se ao final do triásico; alguns dos ossos de
maior tamanho foram batizados em 1837 por Hermann von Meyer com o nome de Plateosaurus. Uma grande parte foi
estudada por Friedrich Freiherr von Huene (1875-1969), um eminente paleontólogo
alemão. Se bem que o trabalho que desenvolveu nos seus primeiros tempos
consistiu principalmente na classificação dos dinossauros e em investigar o
trabalho de outras pessoas, em 1921 Huene ver-se-ia envolvido no excepcional
descobrimento de uma quantidade enorme de dinossauros em uma canteira próxima a
Trossingen, a uns quarenta e oito quilômetros ao sul de Tubinga. De forma
parecida ao acontecido com o Iguanodonte,
muitos anos antes tinham sido descobertos alguns restos fascinantes aos que se
seguiriam coleções fabulosas. A canteira de Trossingen produziu quantidades
ingentes de esqueletos de Plateosaurus
completos.
Expedições à Ásia Central
A princípios dos anos vinte o
Museu Americano não só se ocupava de prestar ajuda a Von Huene, mas também
tinha nas mãos um plano ambicioso. Osborn, que no inicio do novo século estava
relacionado com os descobrimentos de dinossauros em Wyoming, propôs realizar
uma expedição à Mongólia em busca das origens da raça humana. Naquela altura
prevalecia a teoria de que a Ásia Central tinha sido o berço e Osborn pretendia
pô-la à prova. Vários obstáculos tiveram de ser superados: o remoto ponto de
destino, além de uma série de dificuldades de tipo político e logístico;
finalmente a expedição chegou Mongólia em 1922. Descobriu-se alguns restos de mamíferos,
mas nenhum resto humano significativo. No seu lugar, a expedição viu-se
recompensada com os restos de alguns dinossauros curiosos providos de bico (Protoceratops, Psittacosaurus), uns estranhos dinossauros blindados (Pinacosaurus) e dinossauros carnívoros
muito peculiares (Sauromithoides, Velociraptor e Oviraptor). Foram encontrados em um cemitério de dinossauros
densamente povoado; inclusive encontraram, pela primeira vez na historia, ovos
e ninhos.
Dinossauros chineses
O imenso território chinês também
é uma canteira rica em restos fossilizados de dinossauros. Os primeiros
descobrimentos - sem considerar os tradicionais ”dentes de dragão” - foram
realizados ao redor do ano 1900, quando um general russo recolhia ossos
encontrados por pescadores no norte da China. À continuação varias expedições
acudiram à região: iniciativas conjuntas chino-francesas e chino-suecas e as expedições
de Osborn no seu caminho de ida e volta da Mongólia; mas a partir de 1933 os
chineses ficaram com a exclusiva.
Dinossauros de todo o mundo
A América do Sul foi uma boa
fonte de fósseis, entre os que se contam o surpreendente Carnotaurus, um terópodo provido de um grande corno, e um saurópodo
blindado, o Saltasaurus, ambos
encontrados na Argentina. Em Deccan, região da Índia, também foram descobertos
terópodos de finais do cretáceo. Nos anos vinte localizou-se perto de Brisbane,
na Austrália, um terópodo de grande tamanho, o Rhoetosaurus e em época mais recente foram encontrados alguns
ornitópodos. Inclusive na Antártida encontraram-se alguns dinossauros blindados
e um ornitópodo, enquanto que no outro extremo do mundo, foram descobertos
restos no Alasca.
O DESCOBRIMENTO DOS DINOSSAUROS é o terceiro capítulo do primeiro volume de A ERA DOS DINOSSAUROS, da coleção ATLAS DO EXTRAORDINÁRIO, publicação das EDICIONES DEL PRADO.
Título original: DINOSAUR!
Copyright Boxtree Limited, 1991
Copyright da edição espanhola, Editorial Debate, S.A;
Gabriela Mistral, 2; 28035 Madrid.
Copyright desta edição, 1996 Ediciones del Prado;
Cea Bermúdez, 39; 28003 Madrid.
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O DESCOBRIMENTO DOS DINOSSAUROS é o terceiro capítulo do primeiro volume de A ERA DOS DINOSSAUROS, da coleção ATLAS DO EXTRAORDINÁRIO, publicação das EDICIONES DEL PRADO.
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