PARTE IV
7. Novo Mundo, novos
alimentos
“O maior serviço que pode ser
prestado a qualquer país é acrescentar uma planta útil à sua [agri]cultura.”
THOMAS JEFFERSON
Um abacaxi para o rei
O retrato do rei Carlos II da Inglaterra
pintado por volta de 1675 não é simples como parece. O rei é mostrado usando um
paletó até a altura dos joelhos e calções, de pé nos primorosos jardins de uma
grande casa. Dois cães spaniels o
acompanham, e perto dele ajoelha-se John Rose, o jardineiro real, que o
presenteia com um abacaxi. O simbolismo parece claro. Na época, essa fruta era
extremamente rara na Inglaterra, pois tinha de ser importada das Índias Ocidentais,
e muito poucas sobreviviam à viagem sem apodrecer. De tão valorizadas, eram conhecidas
como a “fruta dos reis”, uma conotação reforçada pela coroa folhosa que a
adorna. Na Inglaterra, a associação do abacaxi com riqueza e poder reais
remontava a 1661, quando um espécime havia sido enviado a Carlos por um
consórcio de agricultores e comerciantes de Barbados que queriam que ele
impusesse um preço mínimo ao seu principal produto de exportação, o açúcar.
Carlos recebeu mais de 10 mil petições de grupos de interesses diversos durante
a década de 1660, e presenteá-lo com um abacaxi, um dos primeiros já vistos na Inglaterra,
foi um gesto hábil do consórcio de Barbados, que certamente fez sua solicitação
sobressair. A tática funcionou: Carlos concordou com a proposta alguns dias
depois da chegada do presente.
Mas o abacaxi da pintura é mais que
simplesmente um símbolo de status; é também um lembrete da ascensão da
Inglaterra como uma potência comercial marítima, bem como de sua ascendência
nas Índias Ocidentais em particular. Carlos havia aprovado nos anos 1660 as Leis
da Navegação, que proibiram navios estrangeiros de comerciar com as colônias
inglesas e encorajaram assim uma espetacular expansão da frota mercante
nacional. Em 1668, um abacaxi servira de advertência sobre o crescente poderio
naval da Inglaterra num banquete oferecido por Carlos em homenagem ao embaixador
francês, Charles Colbert. Como na época a Inglaterra e a França disputavam
possessões coloniais nas Índias Ocidentais, a presença dessa fruta como item
principal da sobremesa enfatizou o compromisso do rei com seus territórios
ultramarinos. Um observador ressaltou que Carlos cortou ele mesmo os pedaços e ofereceu-os
de seu próprio prato. Isso poderia parecer um gesto de humildade, mas era na realidade
uma demonstração de poder: somente um rei podia oferecer abacaxis a seus convidados.
Retrato de Carlos II recebendo um abacaxi de John Rose. |
Emprestava significado adicional à pintura
o fato de que o abacaxi mostrado era uma fruta extraordinária: tratava-se,
segundo o título da tela, do “primeiro abacaxi cultivado na Inglaterra”. Parece
extremamente provável que o abacaxi em questão tivesse sido importado como uma
planta jovem, e apenas amadurecido na Inglaterra, não tendo sido cultivado a
partir do zero – algo que só se tornaria possível mais tarde, nos anos 1680,
com a invenção da estufa aquecida. Mesmo assim, ter amadurecido uma fruta
tropical na Inglaterra já era um feito e tanto, e indicava a competência dos
horticultores ingleses, numa época em que as nações europeias competiam para
descobrir, categorizar, propagar e explorar a abundância de plantas da Ásia e
das Américas que haviam se tornado subitamente disponíveis para eles. Nesse
campo da “botânica econômica”, a busca pelo conhecimento científico caminhava
de mãos dadas com os interesses nacionais, e jardins botânicos estavam sendo
criados no mundo todo como laboratórios coloniais.
Os líderes incontestes no campo da
botânica econômica no fim do século XVII eram os holandeses, que, à época,
haviam tirado os portugueses do caminho para se tornar a potência europeia
dominante no Oriente. Os holandeses queriam conhecer as novas plantas por duas
razões: descobrir tratamentos para as doenças tropicais que afligiam seus
marinheiros, comerciantes e colonos e encontrar novos e rentáveis produtos
agrícolas, além das especiarias conhecidas. Os holandeses fundaram jardins
botânicos em seus postos coloniais avançados no Cabo, em Malabar, no Ceilão, em
Java e no Brasil, todos os quais trocavam espécimes com estabelecimentos
semelhantes na matriz, em Amsterdam e Leiden. Esses jardins botânicos eram
muito mais ambiciosos que aqueles estabelecidos na Europa durante o século XVI
- sendo o primeiro na Itália, nos anos 1540 -, cujas finalidades eram sobretudo
medicinais. Ao apostar corrida para rivalizar com os holandeses e estabelecer
postos comerciais próprios, a Inglaterra e a França descobriram também um
entusiasmo pela botânica econômica. A história do comércio de especiarias havia
mostrado que vastas fortunas aguardavam quem fosse capaz de controlar a oferta
e o comércio de gêneros alimentícios valiosos; que outras plantas estariam
esperando para ser exploradas?
Como que para enfatizar o vínculo entre o
domínio botânico e o geo-político, alguns jardins botânicos eram planejados
para representar o mundo. Em sua maioria, eram quadrados e divididos em quatro
partes – uma para a Europa, uma para a África, uma para a Ásia e uma para as
Américas.
Depois,
essas áreas eram progressivamente subdividas, até chegar aos canteiros
individuais para plantas particulares. Os botânicos que os estabeleciam
sonhavam em ser capazes de reunir as plantas do mundo todo num só lugar, como
expressa o catálogo do Jardim Botânico de Oxford: “Assim como todas as
criaturas foram reunidas na Arca ... assim também temos as plantas do mundo em
microcosmo em nosso jardim.” Essa meta ambiciosa, porém, provou-se
irremediavelmente irreal à medida que o número de plantas conhecidas
multiplicou-se rapidamente. O tratado “Investigação das plantas”, de Teofrasto,
um autor grego antigo, relacionava apenas 500 plantas; o “Pinax Theatri
Botanici”, uma obra épica publicada pelo botânico suíço Caspar Bauhin em 1596,
listava 6 mil; nos anos 1680, a “Historia Generalis Plantarum”, de John Ray,
listava mais de 18 mil. Em botânica, como em tantos outros campos,
verificava-se que o conhecimento das autoridades antigas era incompleto ou
simplesmente errado.
Assim, os botânicos serviam a dois
senhores: por um lado, eram membros de uma comunidade internacional de
pesquisa, trabalhando juntos em prol da compreensão da natureza e participando
de uma revolução científica em que a observação direta finalmente triunfou
sobre a sabedoria herdada. Por outro lado, esperava-se que fizessem o possível
para que seu próprio país tirasse o maior proveito das novas plantas. Robert
Kyd, um oficial do exército britânico baseado na Índia, fundou os Jardins
Botânicos de Calcutá em 1787. Ele sintetizou essa duplicidade quando escreveu
que os jardins foram criados “não para reunir plantas raras como objeto de
curiosidade ou para fornecer artigos de luxo, mas para estabelecer um
sortimento que colabore na disseminação daqueles artigos que possam se provar benéficos
para os habitantes, bem como para os nativos da Grã-Bretanha, e que possam
finalmente conduzir à extensão do comércio e das riquezas nacionais”.
Colonialismo, comércio e ciência caminhavam de mãos dadas; o número de plantas
que uma nação tinha ao seu dispor e a capacidade de seus botânicos de
cultivá-las fora dos habitats naturais demonstravam a proeza técnica dessa
nação. A botânica era considerada a “grande ciência” da época, uma indicação do
poderio e da sofisticação de um país, assim como o domínio da ciência nuclear
ou da tecnologia espaciais nos nossos dias. Tudo isso significava que o abacaxi
oferecido a Carlos II era mais que uma mera fruta, era um símbolo vivo de seu
poder.
À medida que exploradores, colonos,
botânicos e comerciantes europeus se empenhavam na procura de novas plantas,
aprendiam como cultivá-las e tentavam descobrir onde mais poderiam florescer,
eles remodelavam os ecossistemas globais. A “Troca Colombiana” de produtos
agrícolas entre o Velho e o Novo Mundo, na qual trigo, açúcar, arroz e bananas
deslocaram-se para oeste e milho, batatas, batatas-doces, tomates e chocolate
deslocaram-se para leste (para mencionar apenas alguns exemplos em cada
direção), representa uma grande parte da história, mas não ela toda. Os
europeus também deslocaram produtos agrícolas de um lado para outro dentro do
Velho e do Novo Mundo, transplantando café árabe e pimenta indiana para a
Indonésia, por exemplo, e batatas sul-americanas para a América do Norte.
Evidentemente, as plantas sempre migraram de um lugar para outro, mas nunca com
tal velocidade, em tão grande escala ou por distâncias tão grandes. A mistura
pós-colombiana do caldeirão global de alimentos correspondeu à mais importante
reordenação do ambiente natural pela humanidade desde a adoção da agricultura.
Novos alimentos provenientes de terras estrangeiras foram inseridos em nichos
ecológicos anteriormente subexplorados, em muitos casos aumentando a oferta de
comida. Isso se aplica às batatas e ao milho em partes da Eurásia, aos amendoins
na África e na Índia e às bananas no Caribe, por exemplo. Por vezes os novos
produtos agrícolas eram mais resistentes que os locais: as batatas-doces vindas
das Américas prosperaram no Japão porque podiam sobreviver aos tufões que
ocasionalmente destruíam as safras de arroz, e a mandioca, também proveniente
das Américas, foi adotada na África depois de se mostrar resistente a
gafanhotos, já que suas raízes comestíveis permanecem fora de alcance, debaixo
da terra.
Apesar das ambições nacionalistas dos
botânicos, tentativas de monopolizar novas plantas em geral não duravam muito.
Para ganhar dinheiro com açúcar, por exemplo, era preciso ter possessões
coloniais com o clima adequado, e isso dependia principalmente de poderio
militar, não de poderio botânico. Mesmo assim, uma nação europeia sobressaiu
como vencedora dessa competição colonial, embora sua vitória tenha tomado uma
forma inteiramente inesperada. A troca e a redistribuição de plantas
alimentícias refez o mundo, e em particular as áreas em torno do oceano
Atlântico, em dois estágios. Primeiro, novos alimentos e novos padrões
comerciais redefiniram as características das populações das Américas, da
África e da Europa. Tendo feito isso, contribuíram para a emergência da
Grã-Bretanha como a primeira nação industrializada. Se Carlos II soubesse disso
em 1675, teria sem dúvida se orgulhado, embora talvez tivesse ficado
desapontado em saber que o abacaxi não era um dos muitos alimentos que
desempenhariam um papel na história. Em vez disso, os dois alimentos centrais
seriam o açúcar, que atravessou o Atlântico em direção ao oeste, e a batata,
que viajou na direção contrária.
Colombo e sua troca
A Troca Colombiana, como o historiador
Alfred Crosby a denominou, foi assim chamada porque realmente começou com o próprio
Cristóvão Colombo. Embora muitas outras pessoas tenham transportado plantas,
animais, pessoas, doenças e ideias entre o Velho e o Novo Mundo nos anos
seguintes, Colombo foi diretamente responsável por duas das primeiras e mais
importantes trocas de produtos agrícolas com as Américas. No dia 2 de novembro
de 1492, tendo chegado à ilha de Cuba, ele enviou dois de seus homens – Rodrigo
de Jerez e Luis de Torres – ao interior, com dois guias locais. Colombo acreditava
que Cuba era parte do continente asiático e esperava que seus homens
encontrassem uma cidade grande, onde ele pudesse entrar em contato com o
imperador. Torres falava um pouco de árabe, que seria, segundo se supunha,
compreendido pelos representantes do monarca. Passados quatro dias, os homens
voltaram sem conseguir encontrar nem cidade, nem imperador. Mas tinham encontrado,
como Colombo registrou, muitos campos de um “grão parecido com milhete, que os
índios chamam de mahiz. Esse grão tem
um gosto muito bom quando cozido, seja assado ou moído, transformado num
mingau.” Era o primeiro contato dos europeus com o milho, e Colombo
provavelmente levou um pouco consigo para a Espanha quando voltou da primeira
viagem, em 1493; certamente levou milho na volta de sua segunda expedição, no
ano seguinte.
Embora o milho fosse inicialmente encarado
por eruditos europeus como uma curiosidade botânica, logo ficou claro que ele
era apropriado para o clima mediterrâneo do sul e que era, na verdade, um
produto agrícola extremamente valioso. Na década de 1520, ele já era cultivado
em várias partes da Espanha e do norte de Portugal, e pouco depois se espalhou
em torno do Mediterrâneo, pela Europa central e pela costa oeste da África. Sua
difusão pelo mundo foi tão rápida que suas origens não ficam claras. Na Europa,
era conhecido como grão espanhol, grão indiano, grão guineano e milho da
Turquia, refletindo a confusão sobre sua procedência. A velocidade com que o
milho chegou à China – provavelmente nos anos 1530, embora a primeira
referência explícita a ele só apareça em 1555 – levou alguns à conclusão
errônea de que devia já estar presente na Europa e na Ásia antes de Colombo. O
milho difundiu-se tão rápido por ter propriedades muito desejáveis. Como
crescia bem em solo úmido demais para trigo e seco demais para arroz, fornecia
um alimento extra vindo de terras em que os alimentos básicos eurasianos não
podiam ser cultivados. Também demandava pouco tempo de crescimento e propiciava
uma produção maior por unidade de terra e de trabalho que qualquer outro grão.
Embora o trigo produzisse normalmente quatro a seis vezes mais grãos que o
número de sementes utilizadas, o milho produzia de 100 a 200 vezes mais.
Se o milho que Colombo levou para o leste
foi uma bênção, a cana-de-açúcar que ele levou para o oeste foi uma maldição.
Tendo trabalhado na juventude como comprador de açúcar para comerciantes
genoveses, Colombo conhecia esse cultivo. Percebeu que as novas terras que
tinha descoberto seriam apropriadas para a plantação desse lucrativo produto, e
levou-o consigo para Hispaniola em sua segunda viagem às Américas, em 1493. Se
não pudesse encontrar ali ouro nem especiarias, poderia, ao menos, produzir
açúcar. Como tal cultivo requeria muita mão de obra, teria de encontrar força
de trabalho suficiente, é claro. Mas Colombo tinha observado, depois de sua
primeira viagem, que “os índios não têm armas e andam completamente nus...
precisam apenas que lhes deem ordens para serem levados a trabalhar, a plantar
ou a fazer qualquer coisa de útil”. Em outras palavras, ele podia pôr os
nativos para trabalhar como escravos.
Açúcar e escravidão tinham andado juntos
por séculos. A cana-de-açúcar, originária das ilhas do Pacífico, foi encontrada
na Índia pelos gregos antigos e introduzida na Europa pelos árabes, que começaram
a cultivá-la em grande escala no Mediterrâneo, no século XII, usando escravos
do leste da África. Os europeus tomaram gosto pelo açúcar durante as Cruzadas e
se apropriaram de muitas das plantações de cana dos árabes, explorando-as com
escravos sírios e árabes. O sistema de produção baseado em mão de obra escrava
foi transplantado para a Ilha da Madeira, no Atlântico, nos anos 1420, depois
que ela foi descoberta pelos portugueses. Durante os anos 1440, Portugal
aumentou a produção com o uso de grande número de escravos negros trazidos de
seus novos postos comerciais na costa oeste da África. A princípio, esses
escravos eram sequestrados, mas logo os portugueses concordaram em comprá-los
de comerciantes africanos em troca de mercadorias europeias. Em 1460, a Ilha da
Madeira tornou-se o maior produtor de açúcar do mundo, e não era de admirar:
tinha o clima ideal para a cana-de-açúcar, era próxima do fornecedor de
escravos e estava no ponto mais extremo do mundo conhecido, de modo que as
realidades brutais da produção do açúcar eram mantidas convenientemente
afastadas da vista da crescente multidão de consumidores europeus. Os
espanhóis, por sua vez, começaram a produzir açúcar nas ilhas Canárias, perto dali,
também usando escravos da África.
Isso se revelou apenas o aquecimento para
o que aconteceria no Novo Mundo. Foi só em 1503 que o primeiro engenho de
açúcar foi aberto em Hispaniola. Os portugueses iniciaram a produção no Brasil
por volta da mesma época, e os britânicos, franceses e holandeses o fizeram no
Caribe durante o século XVII. Depois que as tentativas de escravizar os nativos
fracassaram, principalmente porque eles sucumbiam a doenças para as quais não
tinham nenhuma imunidade, os colonos começaram a importar escravos diretamente
da África. E assim começou o tráfico de escravos. No curso de quatro séculos,
cerca de 11 milhões de escravos foram transportados da África para o Novo Mundo.
Esse número, na verdade, subestima a real escala do sofrimento, porque nada menos
que a metade dos escravos capturados no interior africano morria no caminho
para a costa. A vasta maioria dos escravos enviados através do Atlântico –
cerca de três quartos deles – era posta para trabalhar na produção de açúcar,
que se tornou uma das principais mercadorias no comércio atlântico.
Esse comércio prosperou nos séculos XVII e
XVIII, e acabou consistindo em dois negócios triangulares que se sobrepunham.
No primeiro, mercadorias das Américas, principalmente açúcar, eram enviadas
para a Europa, enquanto artigos acabados, sobretudo têxteis, eram enviados para
a África e usados na compra de escravos; esses escravos eram então enviados para
as plantações de cana-de-açúcar no Novo Mundo. O segundo triângulo também
dependia do açúcar. O melaço, um espesso xarope remanescente da produção de
açúcar, era levado das ilhas produtoras para as colônias americanas da Inglaterra,
onde era destilado para a fabricação de rum, que era então enviado para a
África. O rum, juntamente com os têxteis, era usado como moeda na compra de
escravos, que eram enviados ao Caribe para então produzir mais açúcar. E assim
por diante.
O preço do açúcar, que havia sido um luxo
dispendioso no tempo das Cruzadas, caiu à medida que a produção aumentou; no
fim do século XVII, ele se tornou um item de consumo diário para muitos
europeus. A demanda aumentou quando novas bebidas exóticas como o chá, o café e
o chocolate (da China, da Arábia e das Américas, respectivamente) tornaram-se populares
na Europa, invariavelmente adoçadas com açúcar. Tendo usado frutas e mel como adoçantes
durante séculos, os consumidores europeus tornaram-se subitamente habituados
com o açúcar, até viciados nele. A demanda enriqueceu os barões da cana
caribenhos, mercadores europeus e colonos norte-americanos. O rum tornou-se o item
manufaturado mais lucrativo produzido na Nova Inglaterra, e, no início do
século XVIII, era responsável por 80% das exportações. Tentativas do governo
britânico de restringir as importações do melaço barato proveniente das ilhas
francesas da cana pela Nova Inglaterra, através da Lei do Açúcar e do Melaço,
de 1733, e da Lei do Açúcar, de 1764, desagradaram profundamente aos colonos, causando
a primeira das muitas divergências e protestos que levaram, finalmente, à
Declaração de Independência.
Além de notável por sua dependência da
escravidão e sua importância econômica, a produção de açúcar também cristalizou
um novo modelo de organização industrial. Envolvia uma série de processos:
cortar a cana, moê-la para extrair o caldo, ferver e tirar a escuma deste e
depois esfriá-lo, para permitir a formação dos cristais de açúcar, e destilar o
melaço restante para fabricação de rum. O desejo de fazer tudo isso em grande
escala da maneira mais rápida e eficiente possível levou ao desenvolvimento de
um maquinário cada vez mais complexo e estimulou a divisão dos trabalhadores em
equipes especializadas nas diferentes etapas da produção.
Em particular, a produção do açúcar
dependia do uso de moendas para prensar a cana. Estas podiam extrair o caldo de
maneira mais eficiente que os métodos antiquados de picar os talos de cana à
mão e esmagá-los ou usar uma prensa com rosca. As moendas eram também mais
apropriadas para a produção contínua: depois de espremidos, os bagaços podiam
ser usados como combustível para as caldeiras, na etapa seguinte do processo. O
maquinário desenvolvido para processar açúcar – movido pelo vento, pela água ou
por tração animal – era a mais complexa e cara tecnologia industrial da época,
e prefigurou o equipamento usado mais tarde nas indústrias têxtil, do aço e do
papel.
Entretanto, operar as moendas, tomar conta
dos caldeirões de caldo fervente e operar o equipamento de destilação podia ser
perigoso. Um minuto de desatenção ao introduzir a cana na moenda, ou ao lidar
com o açúcar fervente, podia levar a ferimentos horríveis e à morte. Como um
observador registrou: “Se um caldeireiro encosta no açúcar escaldante, ele
gruda como cola, ou visgo, e é difícil salvar seja o membro ou a vida.” Ninguém
faria um trabalho tão perigoso e repetitivo pelos baixos salários que os
produtores ofereciam, razão por que eles recorriam ao trabalho escravo. Para
minimizar o risco de acidentes, era lógico para os trabalhadores
especializarem-se em certas tarefas. Mesmo nas funções menos perigosas, como o
cultivo da cana, os produtores descobriram que dividir seus escravos em equipes
e dar-lhes tarefas predeterminadas facilitava a supervisão do trabalho e a
coordenação dos diferentes estágios do processo.
Iniciar uma plantação de cana-de-açúcar
exigia investimento de grande capital para pagar por terra, construções,
maquinário e escravos. A produção da cana era o maior negócio privado de seu
tempo, deixando os proprietários (que podiam esperar lucros anuais de cerca de
10% do capital investido) entre os homens mais ricos da época. Foi sugerido que
os lucros do açúcar e do comércio de escravos geraram a maior parte do capital
de giro necessário para a industrialização subsequente da Grã-Bretanha. De
fato, há poucas evidências de que isso tenha ocorrido, mas a ideia de organizar
a fabricação como um processo contínuo, em linha de produção, com máquinas
energizadas poupadoras de mão de obra e trabalhadores especializados em funções
exclusivas, tem uma clara dívida para com a indústria açucareira das Índias
Ocidentais, onde esse sistema foi implementado pela primeira vez em grande
escala.
Gravura mostrando a produção pré-industrial de açúcar nas Índias Ocidentais. |
“Que comam batatas”
Conta-se que, quando Maria Antonieta, a
rainha da França, ouviu que os camponeses não tinham pão para comer, ela teria
declarado: “Que comam brioches.” Numa versão da história, ela disse isso quando
os pobres famintos vociferavam nos portões de seu palácio; em outra, a rainha
fez o comentário ao andar por Paris em sua carruagem e notar como as pessoas
estavam desnutridas. Ou talvez tenha dito isso quando multidões iradas tomaram
de assalto as padarias de Paris, em 1775, e quase causaram o adiamento da
coroação de seu marido, Luís XVI. Na verdade, ela provavelmente nunca disse
nada parecido. Esse é apenas um dos muitos mitos associados à famigerada
rainha, que foi acusada de toda sorte de excessos e devassidão por seus
adversários políticos no período em que se preparava a Revolução Francesa, em
1789. A frase sintetiza, no entanto, a percepção de que Maria Antonieta era
alguém que dizia se preocupar com os pobres famintos, mas que era inteiramente
incapaz de compreender suas aflições. Mesmo que nunca tenha defendido a
substituição de pão por brioche, porém, ela endossou publicamente o uso de
outro gênero alimentício como um meio de aplacar a fome dos pobres: a batata.
Provavelmente, também não disse “que comam batatas”, mas foi isso que ela e
muitas outras pessoas pensaram. E não era uma ideia tão má assim. No fim do
século XVIII, esses tubérculos estavam sendo tardiamente aclamados como um
alimento prodigioso do Novo Mundo.
Os europeus tiveram o primeiro contato com
as batatas nos anos 1530, quando os conquistadores espanhóis se aventuraram na
tomada do Império Inca, que se estendia até a costa oeste do continente
sul-americano. Elas eram o esteio da dieta inca, ao lado do milho e do feijão.
Originalmente domesticadas na região do lago Titicaca, espalharam-se depois
pelos Andes e além. Os incas desenvolveram centenas de variedades, cada uma
adequada a uma combinação de sol, solo e umidade. Mas os europeus que primeiro
as conheceram não perceberam seu valor. O primeiro relato escrito, datado de
1537, descreve-as como “raízes esféricas que são semeadas e produzem um caule
com ramos e flores, embora poucas, de uma cor roxa suave; e à raiz dessa mesma
planta ... elas estão presas, sob a terra, e são mais ou menos do tamanho de um
ovo, algumas redondas e algumas alongadas; são brancas e roxas e amarelas,
raízes farinhosas de bom sabor, uma iguaria para os índios e um prato delicioso
até para os espanhóis”. Embora algumas batatas tenham sido enviadas para a Espanha
e espalhadas, a partir de lá, pelos jardins botânicos da Europa, elas não foram
entusiasticamente adotadas como um novo produto agrícola à semelhança do que
ocorrera com o milho. Em 1600, elas estavam sendo cultivadas em pequena escala
em poucas partes da Europa, porque os espanhóis as haviam introduzido em suas
possessões na Itália e nos Países Baixos. Em 1601, Clusius, um botânico de
Leiden, descreveu a batata e deu-lhe o nome científico de Solanum tuberosum. Registrou que havia recebido espécimes em 1588,
e que a cultivavam na Itália para consumo tanto de seres humanos quanto de
animais.
Por que as batatas não se tornaram mais
populares? Afinal, no solo arenoso do norte da Europa, elas acabariam se
provando capazes de produzir de duas a quatro vezes mais calorias por hectare
do que havia sido possível anteriormente com trigo, centeio ou aveia. Além
disso, levam somente três a quatro meses para amadurecer, contra dez para os
cereais, e podem ser cultivadas em quase qualquer tipo de solo. Um problema foi
que as primeiras batatas levadas das Américas eram adaptadas para crescer nos
Andes, onde a duração do dia não varia muito ao longo do ano. Na Europa, onde a
quantidade de luz por dia varia muito mais, elas produziram de início uma safra
escassa, e os botânicos levaram alguns anos para produzir novas variedades
adaptadas ao clima europeu.
Mesmo assim, os europeus permaneciam
desconfiados desse novo produto. Diferentemente do milho, que era percebido
como um primo até então desconhecido do trigo e de outros grãos, as batatas
eram estranhas e estrangeiras. Não eram mencionadas na Bíblia, o que sugeria
que Deus não pretendera que os homens as comessem, diziam alguns clérigos. A aparência
inestética, malformada, também repelia as pessoas. Para herbanários que acreditavam
que a aparência de uma planta era uma indicação das doenças que ela podia causar
ou curar, as batatas se assemelhavam às mãos nodosas de um leproso, e a ideia
de que causavam lepra disseminou-se. De acordo com a segunda edição de Herball, de John Gerard, publicada em
1633, “os borgonheses são proibidos de fazer uso desses tubérculos, porque lhes
asseguram que comê-los causa lepra”. Botânicos mais inclinados à ciência
interessaram-se pelas batatas, os primeiros tubérculos comestíveis conhecidos,
e as identificaram como membros da venenosa família da doce-amarga. Isso também
não ajudou sua reputação: elas passaram a ser associadas à bruxaria e ao culto
do diabo.
No início do século XVII, as batatas eram
vistas em geral como forragem apropriada para animais, mas, para seres humanos,
eram tidas apenas como um último recurso, quando nenhuma outra comida estivesse
disponível. O tubérculo fez lento progresso nos anos seguintes, sendo consumido
apenas pelos muito ricos (era apreciado por alguns jardineiros aristocráticos e
servido como uma novidade) e muito pobres (tornou-se um item básico da dieta
dos desfavorecidos, primeiro na Irlanda e depois em partes da Inglaterra, da
França, dos Países Baixos, da Renânia e da Prússia). Períodos de fome fizeram
surgir novos adeptos, pois pessoas que não tinham escolha senão comer batatas
logo descobriram que, afinal de contas, elas não eram tão horríveis assim. Um
dos primeiros atos da Royal Society, sociedade científica pioneira da Grã-Bretanha,
após sua fundação em 1660, foi chamar atenção para seu valor em épocas de fome
– argumentando que nos anos em que a safra de trigo fracassava, havia muitas
vezes uma boa colheita de batatas. Mas esse conselho foi ignorado, e somente quando
a fome assolou, como ocorreu na França em 1709, foi que as virtudes da batata
foram completamente evidenciadas e a ameaça de inanição obrigou as pessoas a
pôr os preconceitos de lado.
Uma série de períodos de fome no século
XVIII valeu à batata alguns amigos altamente posicionados. Quando as safras
fracassaram em 1740, Frederico o Grande, da Prússia, recomendou insistentemente
a produção mais ampla do tubérculo entre seus súditos. Seu governo distribuiu
um manual que explicava como cultivar o novo produto e distribuiu batatas-sementes
gratuitas. Outros governos europeus fizeram o mesmo, fazendo da promoção da
batata uma política oficial. Na Rússia, os conselheiros médicos de Catarina a
Grande convenceram-na de que o tubérculo podia ser um antídoto para a inanição;
governos na Boêmia e na Hungria também defenderam seu cultivo. Por vezes, a
defesa da batata era apoiada pela força: os camponeses austríacos foram
ameaçados com 40 chicotadas caso se recusassem a aceitá-la. A guerra também
ajudou a mudar atitudes. Durante as campanhas no norte da Europa, nos anos 1670
e 1680, os exércitos de Luís XIV encontraram batatas em Flandres e na Renânia,
onde nessa época já estavam sendo cultivadas em alguma quantidade. Um
observador registrou que “o exército francês encontrou assim grande apoio,
alimentando os soldados rasos mais abundantemente; ela é ao mesmo tempo
deliciosa e saudável”.
Soldados austríacos, franceses e russos
que lutaram na Prússia durante a Guerra dos Sete Anos (1756-63) viram como as
batatas (plantadas por insistência de Frederico o Grande) sustentavam a
população local e passaram a defender seu cultivo quando voltaram para casa. Uma
vantagem desse alimento durante os tempos de guerra era que ele permanecia
escondido, em segurança, debaixo da terra; mesmo que um exército acampasse num
campo de batatas, o agricultor ainda poderia colhê-las depois.
A experiência de um homem em especial com
as batatas durante a Guerra dos Sete Anos o inspirou a se tornar o maior
defensor desses tubérculos. Antoine-Augustin Parmentier, um cientista francês,
serviu como farmacêutico no exército francês. Depois de capturado pelos prussianos,
passou três anos na prisão, e durante grande parte desse tempo só lhe deram batatas
para comer. Ele concluiu que elas eram um alimento nutritivo e saudável; quando
a guerra terminou e ele voltou à França, tornou-se um eloquente defensor da
batata. Após outra má colheita em 1770, foi oferecido um prêmio para o melhor
ensaio sobre “gêneros alimentícios capazes de reduzir as calamidades da fome”;
Parmentier foi o vencedor, com um elogio às batatas. Embora ainda houvesse uma
crença generalizada de que elas eram venenosas e podiam causar doenças, em 1771
Parmentier ganhou o respaldo do corpo docente médico da Sorbonne, que decidiu
que a batata era realmente apropriada para o consumo humano. Pouco depois,
Parmentier publicou uma detalhada análise científica dos méritos daquele
alimento. Mas o apoio em meio à comunidade científica era uma coisa; após anos
de esforço, Parmentier descobriu que convencer as pessoas a cultivar e a comer
batatas era outra muito diferente.
Diante disso, ele organizou uma série de
eventos publicitários. Em 1785, num banquete para celebrar o aniversário de
Luís XVI, Parmentier presenteou o rei e a rainha com um buquê de flores de
batata; o rei prendeu uma das flores na lapela e Maria Antonieta pôs uma
guirlanda delas no cabelo. Quando os convidados se sentaram para comer, vários
dos pratos incluíam batatas. Com o endosso do rei e da rainha, comer batatas e
usar flores dessa planta logo se tornaram moda na aristocracia. Parmentier
também promoveu ele mesmo vários jantares, servindo batatas preparadas numa
variedade de maneiras para enfatizar sua versatilidade. (O estadista e
cientista americano Benjamin Franklin estava entre as celebridades convidadas
para esses eventos.) O melhor truque de Parmentier, contudo, foi postar guardas
armados em torno dos campos próximos de Paris, dados a ele pelo rei, em que
cultivava batatas. Isso despertou o interesse dos moradores das vizinhanças,
que perguntavam a si mesmos que planta valiosa poderia requerer tais medidas de
segurança. Quando uma safra ficou madura, Parmentier mandou os guardas se
afastarem; a gente do lugar invadiu o campo correndo e roubou as batatas. Quando
a hostilidade em relação ao tubérculo finalmente se dissipou, consta que o rei
teria dito a Parmentier: “A França lhe agradecerá algum dia por ter encontrado
pão para os pobres.” Foi somente alguns anos mais tarde, depois da Revolução
Francesa (durante a qual Luís XVI e Maria Antonieta foram guilhotinados), que a
previsão do rei se confirmou. Em 1802, Napoleão Bonaparte instituiu a ordem da
Légion d’Honneur, e Parmentier foi um dos primeiros a recebê-la. O serviço que
prestou à batata é lembrado hoje na forma de vários pratos baseados em batata
que levam seu nome.
A história foi parecida, ainda que menos
poética, no resto da Europa: com a combinação de fome, guerra e promoção
governamental, por volta de 1800 a batata havia se tornado um novo e importante
gênero alimentício. Sir Frederick Eden, um escritor inglês e pesquisador
social, escreveu que em Lancashire “ela é um prato sempre presente em todas as
refeições, exceto no desjejum, tanto nas mesas dos ricos quanto nas dos pobres
... as batatas são talvez o mais forte exemplo da extensão do prazer humano que
pode ser mencionado”. A batata foi saudada como “a maior bênção que a terra
produz”, “o milagre da agricultura” e “a mais valiosa das raízes”. Em 1795,
depois de más colheitas de trigo em 1793 e 1794, muita gente deixou de lado a
rejeição ao novo alimento. Nesse ano, o jornal Times, de Londres, chegou até a imprimir receitas de sopa de batata
e de pão de milho e batata. Um fator que contou em favor do tubérculo foi o
alto status do pão branco, feito de trigo, em relação ao pão preto, feito de centeio,
aveia e cevada. Os trabalhadores ingleses, que haviam prosperado o suficiente
para trocar o pão preto pelo branco durante o século XVII, estavam muito
relutantes em voltar ao pão preto. Quando os tempos ficavam difíceis, eles
preferiam comer batatas.
Em seu livro A riqueza das nações, publicado em 1776, o filósofo e economista
escocês Adam Smith observou que “o alimento produzido por um campo de batatas
não é inferior em quantidade ao produzido por um campo de arroz, e muito superior
ao que é produzido por um campo de trigo”. Mesmo admitindo o fato de que as
batatas continham grande quantidade de água, ele comentou: “Um acre de batatas
ainda produzirá 6 mil [pesos] de alimento consistente, três vezes a quantidade
de trigo produzida por acre.” Seu elogio à batata continuava com palavras que
hoje parecem proféticas: “Caso essa raiz se tornasse um dia, em qualquer parte
da Europa, o que é o arroz em algumas regiões arrozeiras, o alimento vegetal comum
e favorito do povo, de modo a ocupar a mesma proporção de terras cultivadas que
o trigo e outros tipos de grãos para a alimentação humana ocupam hoje, a mesma
quantidade de terra sustentaria um número muito maior de pessoas e ... a
população aumentaria.”
De Colombo a Malthus
Três séculos depois da chegada de Colombo
às Américas, o intercâmbio de plantas, doenças e pessoas havia transformado a
população do mundo e sua distribuição. A varíola, a catapora, a gripe, o tifo,
o sarampo e outras doenças do Velho Mundo – muitas delas consequências da proximidade
entre seres humanos e animais domesticados, como porcos, vacas e frangos, desconhecidos
no Novo Mundo – tinham dizimado os povos nativos das Américas, que não eram
imunes a elas, abrindo caminho para a conquista europeia. Estimativas do
tamanho da população pré-colombiana variam de 9 a 112 milhões, mas um número
mais realista de 50 milhões, reduzido por doenças e guerras a cerca de 8 milhões
em 1650, dá uma ideia da dimensão da destruição. Enquanto seus aliados biológicos
invisíveis ainda exterminavam os povos indígenas das Américas, os europeus
começaram a importar escravos africanos em grande escala para trabalhar em
plantações de cana-de-açúcar. As características das populações da África e das
Américas foram transformadas, e é certo que a Troca Colombiana também ajudou a
alterar as características da população da Eurásia.
Na China, a chegada do milho e da
batata-doce contribuiu para um aumento na população de 140 milhões em 1650 para
400 milhões em 1850. Como podia ser cultivado em áreas secas demais para o
arroz e em encostas de morros não irrigáveis, o milho aumentou a oferta de comida
e permitiu às pessoas viver em novos lugares. As regiões montanhosas da bacia
do Yangtze foram desmatadas para dar lugar à produção de anileiras e juta, por
exemplo, e os camponeses que os cultivavam subsistiam à base de milho e
batata-doce, que cresciam bem nos morros. Outra prática que permitiu à produção
de comida acompanhar a população crescente foi a de múltiplos plantios. Quando
cultivado em campos alagados, o arroz absorve a maior parte de seus nutrientes
da água, não do solo, de modo que pode ser repetidamente plantado na mesma
terra, sem necessidade de deixá-la descansar para permitir a recuperação do
solo. Os agricultores no sul da China podiam, por vezes, obter duas ou até três
colheitas por ano num único pedaço de terra.
Na Europa, nesse meio-tempo, foi em parte
graças aos novos produtos agrícolas que a população pôde crescer de 103 milhões
em 1650 para 274 milhões em 1850. Durante o século XVI, os itens básicos da
dieta europeia, trigo e centeio, produziam por hectare cerca da metade da
quantidade (medida por peso) que o milho produzia nas Américas, e cerca de um quarto
do que o arroz produzia no sul da China. Assim, a chegada do milho e das
batatas à Europa proporcionou uma maneira de produzir muito mais alimento com a
mesma quantidade de terra. O exemplo mais impressionante foi o da Irlanda, onde
a população cresceu de cerca de 500 mil em 1660 para 9 milhões em 1840 – algo que
não teria sido possível sem a batata. Sem ela, o país inteiro só poderia ter
produzido trigo suficiente para sustentar 5 milhões de pessoas. As batatas
garantiram o sustento de quase o dobro desse número, embora o trigo tenha
continuado a ser cultivado para exportação. As batatas podiam ser cultivadas em
terras europeias impróprias para o trigo, e eram muito mais confiáveis. Melhor
alimentadas, as pessoas tornavam-se mais saudáveis e resistentes a doenças,
fazendo com que a taxa de mortalidade caísse e a de natalidade aumentasse. E o
que as batatas fizeram no norte da Europa, o milho fez no sul: as populações da
Espanha e da Itália quase dobraram durante o século XVIII.
Além de adotar novos produtos agrícolas,
os agricultores europeus aumentaram a produção ampliando as terras cultivadas e
desenvolvendo novas técnicas agrícolas. Em especial, introduziram as rotações
de culturas de trevos e nabos (no caso mais famoso, na Grã-Bretanha, a rotação
em quatro etapas de Norfolk, com nabos, cevada, trevo e trigo). Nabos eram
plantados em terras que teriam sido deixadas em repouso, e depois dados para os
animais, cujo estrume aumentava a produção de cevada no ano seguinte. Alimentar
animais com nabo também permitia que aquela área, antes usada como pasto, fosse
destinada ao cultivo de produtos para o consumo humano. De maneira semelhante,
cultivar trevos ajudava a restaurar a fertilidade do solo, para assegurar uma
boa safra de trigo no ano seguinte. Outra inovação foi a adoção do dril, uma
máquina puxada a cavalo que inseria sementes dentro de sulcos no solo a uma
profundidade precisa. Semear grãos desse modo, em vez de espalhá-los da maneira
tradicional, acarretava que as plantas eram devidamente espaçadas em sulcos
bem-feitos, tornando a capina mais fácil e assegurando que plantas adjacentes
não competissem por nutrientes. Mais uma vez, isso ajudou a aumentar os
rendimentos das safras de cereais.
No fim do século XVIII, porém, houve
sinais de que mesmo o aumento repentino da produtividade agrícola não poderia
mais acompanhar o crescimento da população. O problema foi mais perceptível na
Inglaterra, que tivera maior sucesso que outros países europeus em aumentar a
produção de alimentos, e por isso teve mais dificuldade de manter o ritmo que
estabelecera para si mesma depois que a população se expandiu. Durante a
primeira metade do século, a Inglaterra exportara grãos para a Europa
continental; depois de 1750, porém, a população crescente e uma sucessão de más
colheitas levaram à escassez e a preços mais altos. A produção agrícola ainda
estava crescendo cerca de 0,5% ao ano, mas isso era somente a metade da taxa de
crescimento da população, cerca de 1% ao ano, de modo que a quantidade de
comida per capita estava caindo. O
mesmo acontecia por toda a Europa: a pesquisa antropométrica mostra que os
europeus adultos nascidos entre 1770 e 1820 eram, em média, visivelmente mais
baixos que as gerações anteriores.
Na China, a produção de arroz podia ser
aumentada pelo incremento da mão de obra e de mais plantios múltiplos. Mas, como
essa não era uma opção para produtos agrícolas europeus, a coisa óbvia a fazer
era disponibilizar ainda mais terras para o cultivo. O problema era que essa
oferta era finita, e a terra era necessária também para outras coisas além de
agricultura, como produzir madeira para construção e combustível e acomodar as
cidades cada vez maiores da Europa. Novamente, o problema era particularmente
agudo na Inglaterra, onde a urbanização havia sido mais rápida. As pessoas
começaram a temer que a população logo excedesse a oferta de alimentos. O
problema foi elegantemente resumido pelo economista inglês Thomas Malthus, que
publicou An Essay on the Principle of
Population em 1798. Foi uma obra extraordinariamente influente, e seu
principal argumento é o seguinte:
O poder da população é infinitamente maior que o poder da
terra de produzir subsistência para o homem. A população, quando não
controlada, aumenta numa razão geométrica. A subsistência aumenta apenas numa
razão aritmética. Um conhecimento superficial dos números mostrará a imensidão
do primeiro poder em comparação com o segundo. Por aquela lei de nossa natureza
que torna o alimento necessário à vida do homem, os efeitos desses dois poderes
desiguais devem ser mantidos iguais. Isso implica um controle forte e
constantemente operante sobre a população, exercido pela dificuldade de
subsistência. Essa dificuldade deve recair em algum lugar e ser agudamente
sentida por uma grande porção da humanidade.
Malthus pensava que esse impasse, hoje
conhecido como a “armadilha malthusiana”, era inescapável. Se tivesse
oportunidade, a população duplicaria a cada 25 anos, aproximadamente, e depois
duplicaria de novo após o mesmo intervalo, aumentando numa razão geométrica;
apesar do rápido aumento da produtividade agrícola das décadas anteriores, era
difícil ver como a produção de alimentos poderia acompanhá-la. Mesmo que a
produção de alimentos pudesse, de algum modo, ser duplicada em relação a seu
nível dos anos 1790, isso só garantiria mais 25 anos de trégua; era difícil imaginar
como ela poderia ser novamente duplicada. “Durante o período seguinte de
duplicação, onde será encontrado o alimento para satisfazer às demandas
inoportunas dos números crescentes?”, perguntou Malthus. “Onde as novas terras
podem ser encontradas?” Rápido crescimento populacional havia sido possível,
observou Malthus, nas colônias americanas, mas isso ocorrera porque a população
era relativamente pequena em relação à abundante terra disponível.
“Não vejo nenhuma maneira pela qual o
homem possa escapar do peso desta lei que permeia toda a natureza animada”,
concluiu ele sombriamente. “Nenhuma igualdade imaginária, nenhuma regulação
agrária em sua máxima extensão poderia remover essa pressão, mesmo que por um
único século. E ela parece, portanto, decisiva contra a possível existência de
uma sociedade cujos membros deveriam todos viver em tranquilidade, felicidade e
relativo ócio, e não sentir ansiedade alguma com relação à provisão dos meios
de subsistência para si mesmos e suas famílias.” Ele previu um futuro de
escassez, fome e miséria. A batata, Malthus acreditava, tinha parte da culpa.
Tendo sido defendida como um remédio para a fome, agora parecia estar
apressando o início de uma crise inevitável. E, mesmo que fornecesse alimento
suficiente, afirmou Malthus, fazia a população crescer muito além das
oportunidades de emprego. Em retrospecto, é claro, podemos apreciar a ironia de
Malthus estar suscitando limitações biológicas à população e ao crescimento
econômico precisamente no momento em que a Grã-Bretanha estava prestes a
demonstrar, pela primeira vez na história humana, que elas não mais se
aplicavam.
8. A máquina a vapor e
a batata
“É moda exaltar as batatas, e
comer batatas. Todo mundo participa da exaltação das batatas, e todo mundo
gosta de batatas, ou finge que gosta, o que dá no mesmo.”
WILLIAM COBBETT, AGRICULTOR E
PANFLETÁRIO INGLÊS, 1818
“O produto da
agricultura”
Desde os primórdios da pré-história até o
início do século XIX, quase todas as necessidades da vida haviam sido atendidas
por coisas que cresciam da terra. Ela fornecia produtos agrícolas de vários
tipos: madeira para combustível e construção; fibras com que fazer roupas, e
forragem para os animais, os quais, por sua vez, forneciam mais alimento,
juntamente com outros materiais úteis como lã e couro. Açougueiros, padeiros,
sapateiros, tecelões, carpinteiros e construtores de navios dependiam de
matérias-primas animais ou vegetais, que eram produto, de maneira direta ou
indireta, de fotossíntese – a captação da energia do sol por plantas em
crescimento. Como todas essas coisas vinham da terra, e como a oferta de terra
era limitada, Thomas Malthus concluiu que havia um limite ecológico com que
populações e economias crescentes iriam acabar se defrontando. Ele fez essa
previsão pela primeira vez às vésperas do século XIX, e refinou sua
argumentação nos anos seguintes.
No entanto, a Grã-Bretanha não se chocou
contra o muro ecológico que Malthus antecipara. Em vez disso, saltou sobre ele
e libertou-se das limitações do “antigo regime biológico”, no qual tudo era
derivado dos frutos da terra. Em vez de cultivar a maior parte de seu próprio
alimento, a Grã-Bretanha concentrou-se na fabricação de produtos
industrializados, especialmente têxteis de algodão, que podiam depois ser
trocados por alimentos estrangeiros. Durante o século XIX, a população mais do
que triplicou e a economia cresceu num ritmo ainda mais rápido, de modo que o
padrão de vida médio aumentou – um resultado que teria assombrado Malthus. A
Grã-Bretanha lidara com a crescente escassez de alimentos reorganizando a
economia. Ao mudar da agricultura para a manufatura, tornou-se a primeira nação
industrializada do mundo.
Para sermos justos, Malthus dificilmente
poderia ter esperado ver isso acontecer, pois nada semelhante jamais ocorrera
antes. E nada disso foi planejado, mas sim o resultado acidental da
convergência de várias tendências independentes. Três das mais importantes
relacionavam-se com mudanças na produção de alimentos: maior especialização nas
artes manuais estimulada pela crescente produtividade agrícola; o uso cada vez
maior de combustíveis fósseis, inicialmente como medida para poupar terra; e
ênfase crescente em importar alimentos em vez de cultivá-los.
O primeiro passo no caminho de uma
economia agrícola para uma economia industrial foi o crescimento da indústria
rural, na forma de manufaturas e artes manuais baseadas no lar. Isso aconteceu
por toda a Europa, mas foi particularmente notável na Inglaterra, em razão do
crescimento extraordinariamente rápido de sua produtividade agrícola. Em 1800,
somente 40% da força de trabalho masculina trabalhava na terra, comparados com
65% a 80% na Europa continental. O número de homens trabalhando na agricultura
em 1800 era aproximadamente o mesmo que 200 anos antes, mas a introdução de
novas culturas e de técnicas aperfeiçoadas de cultivo significava que cada um
estava produzindo o dobro de comida. A alta produtividade liberava cada vez
mais trabalhadores da terra e estimulava pessoas a passarem para a manufatura rural,
como Adam Smith explicou:
Uma região no interior de um país naturalmente fértil e
facilmente cultivável produz grande excedente de víveres além do necessário
para manter os agricultores ... A abundância, portanto, torna os víveres
baratos e estimula um grande número de trabalhadores a se estabelecer nas
vizinhanças, os quais descobrem que sua indústria ali pode lhes proporcionar
mais das necessidades e conveniências da vida que em outros lugares. Eles
trabalham o material de manufatura que a terra produz, e trocam seu trabalho
acabado, ou o preço dele, o que é a mesma coisa, por mais materiais e víveres.
Dão um novo valor à parte excedente da produção bruta ... e fornecem aos
agricultores em troca dela algo que lhes é ou útil ou agradável. Os
agricultores obtêm um preço melhor pela produção excedente, e têm oportunidade
de comprar mais barato outras conveniências ... Os manufaturadores abastecem
primeiro a vizinhança, e depois, à medida que seu trabalho melhora e se refina,
mercados mais distantes ... Desta maneira cresceram naturalmente as manufaturas
de Leeds, Halifax, Sheffield, Birmingham e Wolverhampton. Essas manufaturas são
o produto da agricultura.
Depois de se estabelecer na Inglaterra, a
manufatura rural intensificou-se na metade norte do país durante o século
XVIII, em resposta à adoção de novas técnicas agrícolas no sul. Como o uso de
trevo e nabo em rodízio com trigo e cevada para aumentar a produção de cereais
era menos eficiente nos solos argilosos pesados do norte e do oeste da
Inglaterra, as pessoas dessas regiões concentravam-se na criação de animais e
na manufatura, usando o lucro para comprar cereais do sul do país. O resultado,
por acaso, foi uma concentração da manufatura exatamente nas regiões da
Inglaterra onde havia ricos depósitos de carvão mineral.
Os combustíveis da
indústria
A substituição da madeira pelo carvão
mineral como combustível foi uma segunda tendência que contribuiu para a
industrialização da Grã-Bretanha. As pessoas gostavam muito mais de queimar
madeira que carvão mineral em suas casas, mas à medida que a terra tornou-se
mais requisitada para o uso agrícola, áreas que anteriormente forneciam lenha
foram limpas para dar lugar ao cultivo. O preço da lenha disparou – aumentou três
vezes em cidades da Europa Ocidental entre 1700 e 1800 –, e as pessoas
recorreram ao carvão como um combustível mais barato. (Era barato na
Inglaterra, pelo menos, pois havia fartos depósitos próximos da superfície.)
Uma tonelada de carvão fornece a mesma quantidade de calor que a quantidade de madeira
colhida de maneira sustentável de 0,4 hectare de terra. Na Inglaterra e no País
de Gales, cerca de 2,8 milhões de hectares de terra que anteriormente forneciam
madeira, ou cerca de um quinto da área de superfície total, passaram a ser
cultivados entre 1700 e 1800. Isso assegurou que a oferta de comida continuasse
a acompanhar o crescimento da população – mas exigiu que todos passassem a
queimar carvão.
E foi o que fizeram: o consumo real de
carvão em 1800 era de cerca de 10 milhões de toneladas por ano, gerando uma
quantidade de energia que, de outro modo, teria exigido que 4 milhões de
hectares fossem reservados para a produção de combustível. Nessa altura,
segundo algumas estimativas, a Grã-Bretanha era responsável por 90% da produção
mundial de carvão. No que dizia respeito ao combustível, pelo menos, ela já
havia escapado das limitações do antigo regime biológico. Em vez de o país
depender de plantas vivas para captar a luz solar e produzir combustível, o
carvão lhe permitia extrair vastas reservas de luz solar, acumuladas milhões de
anos antes e armazenadas sob a terra na forma de plantas mortas.
Embora o carvão fosse originalmente
explorado como uma alternativa à madeira no aquecimento doméstico, sua
abundância significou que ele logo passou a ser usado para outros fins. Arthur
Young, um agricultor, escritor e observador social inglês, ficou impressionado
com a relativa escassez de vidraças nas janelas ao viajar pela França nos anos
1780; elas eram muito mais difundidas na Inglaterra nessa época, porque o
carvão fornecia energia barata para a fabricação de vidro. (Nesse meio-tempo,
os vidreiros franceses estavam tão desesperados por combustível que recorriam
ao expediente de queimar caroços de azeitonas.) O carvão era também
intensamente usado pela indústria têxtil, para aquecer os líquidos usados no
branqueamento, na tintura e na estampagem e para aquecer as salas de secagem e
as prensas. Ele permitiu uma rápida expansão na produção de ferro e aço,
anteriormente fundidos com o uso de madeira. E, é claro, era usado para acionar
máquinas a vapor, uma tecnologia que nasceu da própria indústria do carvão.
Depois de esgotados os depósitos
superficiais e visíveis de carvão da Inglaterra, foi necessário perfurar poços
de minas a profundidades cada vez maiores – quanto mais profundos, porém, maior
a probabilidade de que fossem inundados com água. A máquina a vapor inventada
por Thomas Newcomen em 1712, baseada no trabalho de inventores anteriores, foi
construída especificamente para bombear água de minas inundadas. Os primeiros
exemplares eram muito ineficientes, mas isso não importava muito, porque eram movidas
a carvão – e numa mina de carvão esse combustível era gratuito. Em 1800, já
havia centenas das máquinas de Newcomen instaladas em minas por toda a
Inglaterra. O passo seguinte foi dado por James Watt, um inventor escocês que, chamado
a consertar uma máquina de Newcomen em 1763, percebeu rapidamente como aquele
projeto esbanjador poderia ser aperfeiçoado. O projeto de Watt, concluído em 1775,
era muito mais eficiente e também mais apropriado para mover mecanismos.
Isso significou que a energia a vapor pôde
ser utilizada nos vários equipamentos poupadores de mão de obra concebidos na
indústria têxtil, permitindo um enorme aumento de produtividade. Em 1790, a
primeira versão movida a energia a vapor da “mule”
de Samuel Crompton – uma máquina de fiar algodão – aumentou 100 vezes a
produção de fios por trabalhador em relação à roda de fiar manual, por exemplo.
A quantidade de fios que podiam ser produzidos era tão grande que foi preciso
automatizar também os teares para utilizá-los. Ao reunir todas essas máquinas
numa única fábrica, de modo que o produto de um estágio de processamento
pudesse ser passado para o seguinte, como numa plantação de cana-de-açúcar, foi
possível alcançar outros melhoramentos na produtividade. No final do século
XVIII, a Grã-Bretanha podia produzir têxteis de modo tão barato e em tal
abundância que começou a exportá-los para a Índia, devastando, no processo, o
tradicional ofício da tecelagem daquele país.
A terceira mudança que sustentou a
Revolução Industrial foi o aumento da dependência de importações de alimentos.
Assim como usava carvão do subsolo para acionar suas novas máquinas a vapor, a
Grã-Bretanha usava alimentos provenientes do estrangeiro para fornecer energia
para os trabalhadores. De suas possessões nas Índias Ocidentais, trazia vastas quantidades
de açúcar, que significavam uma espantosa proporção do consumo calórico da Grã-Bretanha
durante o século XIX, aumentado de 4% de todas as calorias consumidas em 1800
para 22% em 1900. O açúcar fluía para o leste através do Atlântico, pagando por
bens manufaturados que viajavam no sentido oposto. Como um hectare de açúcar
rende a mesma quantidade de calorias que 9 a 12 hectares de trigo, o açúcar
importado assegurava o equivalente calórico da produção de trigo em 520 mil
hectares de terras cultivadas em 1800, elevando-se para 1 milhão de hectares em
1830 e para cerca de 8 milhões em 1900. A Grã- Bretanha havia claramente
escapado das amarras impostas pela limitação de terras produzindo bens
industrializados, cuja fabricação não exigia grandes áreas, e trocando-os por
alimento.
O açúcar era usado para adoçar o chá, a
bebida favorita dos trabalhadores industriais, que tinha a vantagem de fornecer
energia (do açúcar) e de mantê-los alertas durante os longos turnos (pois o chá
contém cafeína). O açúcar era também consumido como um gênero alimentício, para
avivar uma dieta monótona: podia ser adicionado ao mingau na forma de melado ou
comido como geleia (contendo de 50 a 65% de açúcar) em sanduíches. Melado ou
geleia espalhados no pão eram muito apreciados por famílias de trabalhadores
nas cidades industriais porque eram uma fonte barata de calorias e podiam ser
preparados rapidamente, sem a necessidade de cozinhar. Muitas mulheres já
estavam trabalhando em fábricas e não tinham mais tempo de preparar sopa. O
preço do açúcar caiu e a disponibilidade de geleia aumentou depois de 1874,
quando a Grã-Bretanha aboliu as tarifas sobre as importações de açúcar, que
remontavam aos velhos tempos de Carlos II e seu abacaxi, em 1661.
Não apenas o açúcar da geleia que era
importado; o mesmo acontecia, cada vez mais, com o trigo usado para fazer pão.
Quando a perspectiva de escassez de alimentos aumentou, no final do século
XVIII, a Grã-Bretanha começou a importar mais comida da Irlanda. Após o Ato de
União de 1801, a Irlanda passou, tecnicamente, a fazer parte do Reino Unido,
mas na prática era tratada como uma colônia agrícola pelos ingleses. Leis que
proibiam a importação de produtos animais irlandeses pela Inglaterra haviam
sido revogadas em 1766, e no final do século XVIII as importações de carne
bovina irlandesa haviam aumentado três vezes, as de manteiga seis vezes e as de
carne de porco sete vezes. No início dos anos 1840, as importações da Irlanda
garantiam um sexto da comida consumida na Inglaterra. Essa comida era produzida
por homens que trabalhavam nas melhores terras, mais facilmente cultiváveis, e
que, como de hábito, recebiam uma pequena área, de qualidade inferior, em que
plantavam batatas para sustentar a si mesmos e às suas famílias. Em suma, os
ingleses só podiam continuar comendo pão porque os irlandeses estavam comendo
batatas. Ao sustentar os trabalhadores agrícolas irlandeses, a batata ajudou a
alimentar as primeiras décadas da industrialização britânica.
A Fome da Batata e suas
consequências
O exemplo da Grã-Bretanha parecia ter
provado que Malthus estava errado, mas pelo menos num aspecto ele foi
agourentamente presciente. No início do século XIX, Malthus havia discordado da
ideia de que a batata solucionava o problema alimentar, como parecia ter feito na
Irlanda. Em The Question of Scarcity
Plainly Stated and Remedies Considered, publicado em 1800, Arthur Young
havia sugerido que o governo britânico devia dar a cada agricultor com três ou
mais filhos 0,2 hectare de terra para cultivar batatas e manter uma ou duas
vacas. “Se cada um tivesse sua ampla plantação de batatas e uma vaca, o preço
do trigo não teria muito mais importância para eles que para seus irmãos na
Irlanda”, escreveu ele. A dependência das batatas em que a Irlanda se
encontrava, no entanto, não era algo que outros países devessem invejar,
declarou Malthus. Pois se todas as pessoas se tornassem dependentes desse
alimento, o fracasso de uma safra seria uma catástrofe. “Não é possível”, escreveu
ele em resposta à proposta de Young, “que um dia a própria safra de batatas
possa fracassar?”
Essa catástrofe atingiu a Irlanda no
outono de 1845. Em retrospecto, foi um desastre anunciado. A safra de batatas
malograra em anos anteriores, pelo menos em algumas partes da Irlanda, e
houvera anos ruins na década de 1830. Mas a ruína da safra de 1845, causada por
uma doença até então desconhecida, se deu numa escala inteiramente diferente e
afetou o país inteiro. As plantas de batata começaram a murchar, enquanto os
tubérculos sob o solo começaram a apodrecer; numa questão de dias, campos cheios
de plantas aparentemente saudáveis foram reduzidos a uma folhagem preta,
devastada. Foi a praga da batata, causada por Phytophthora infestans, um fungo originário do Novo Mundo que
cruzou o Atlântico pela primeira vez em 1845. Até batatas colhidas antes que a
praga se manifestasse estragaram e apodreceram em menos de um mês. O que, segundo
todas as expectativas, seria uma safra excelente – 1 milhão de hectares haviam
sido plantados, 6% a mais que no ano anterior – foi, ao contrário, um fracasso
total.
A escala da devastação não se pareceu com
nada já visto em qualquer parte da Europa desde a Peste Negra. A safra da
batata foi um fiasco de novo em 1846, e nos anos subsequentes a fome continuou
porque os agricultores desistiram de plantar esses tubérculos. As pessoas
enfrentaram não apenas inanição, mas doenças. William Forster, um quacre que visitou
a Irlanda em janeiro de 1847, registrou a cena vista em uma aldeia:
O sofrimento excedia de muito meus poderes de descrição. Fui
rapidamente cercado por uma multidão de homens e mulheres, mais parecendo cães
famintos que criaturas humanas, cujos vultos, fisionomias e gritos mostravam a
todos que eles estavam sofrendo a agonia devoradora da fome ... numa [choupana]
havia dois homens emaciados, estendidos ao comprido no chão úmido ... fracos
demais para se mexer, na verdade reduzidos a pele e osso. Em outra um rapaz
morria de disenteria; sua mãe tinha penhorado todas as coisas ... para mantê-lo
vivo; e nunca me esquecerei do tom resignado, paciente, com que ela me disse
que o único remédio que ele queria era comida.
Cerca de 1 milhão de pessoas morreram de
fome na Irlanda em consequência da falta de comida ou foram levadas pelas
doenças que se espalharam na sua esteira. Outro milhão emigrou para fugir da
fome, muitos para os Estados Unidos. A praga da batata espalhou-se pela Europa
e durante dois anos não se encontrava esse tubérculo em lugar nenhum. Mas a dependência
da batata sem paralelo em que a Irlanda se encontrava fez com que ela fosse a
que mais sofreu.
No final de 1845, quando a magnitude do
desastre ficou patente, o primeiro-ministro britânico, sir Robert Peel, viu-se
numa situação difícil. A resposta óbvia para a escassez era importar cereais do
exterior para aliviar a situação na Irlanda. O problema era que tais importações
estavam sujeitas na época, por lei, a uma pesada taxa de importação para assegurar
que os cereais cultivados internamente custariam menos, ficando os produtores domésticos
protegidos contra importações baratas. As Leis do Trigo, como eram conhecidas, estavam
no cerne de um antigo debate que havia lançado os proprietários de terras aristocráticos,
que queriam sua manutenção, contra uma aliança de opositores liderada por industriais,
que pediam sua abolição.
Os proprietários de terras afirmavam que
era melhor depender do trigo plantado no país que de importações estrangeiras
inconstantes, e advertiam que agricultores perderiam seus empregos; calavam sua
verdadeira preocupação, de que a concorrência de importações baratas os
forçasse a reduzir o preço dos arrendamentos cobrados dos agricultores. Os industriais
diziam que era injusto manter o preço do trigo (e portanto do pão)
artificialmente alto, uma vez que a maioria das pessoas agora comprava comida,
em vez de cultivá-la. No fundo, sabiam também que o fim da tributação iria
reduzir as demandas por salários mais altos, já que os preços da comida
cairiam. Os industriais esperavam ainda que, com a comida mais barata, as
pessoas tivessem mais dinheiro para gastar com produtos industrializados. E
eram favoráveis à abolição das Leis do Trigo porque isso levantaria a bandeira do
“livre comércio”, assegurando fácil acesso a matérias-primas importadas por um
lado, e a mercados de exportação para produtos manufaturados por outro. O
debate sobre as Leis do Trigo foi, em suma, um microcosmo das lutas muito mais
amplas entre a agricultura e a indústria, o protecionismo e o livre comércio.
Era a Grã-Bretanha uma nação de agricultores ou de industriais? Como os
proprietários de terras controlavam o Parlamento, a discussão durou as décadas
de 1820 e 1830 inteiras, praticamente sem nenhum efeito.
O resultado foi determinado pela batata,
quando a fome na Irlanda levou a situação a um ponto crítico. Peel, que se
opusera vigorosamente à abolição das Leis do Trigo num debate parlamentar em
junho de 1845, percebeu que suspender a tarifa sobre importações para a Irlanda
a fim de aliviar a fome, mas mantê-la em vigor nos demais lugares, causaria
grande agitação na Inglaterra, onde as pessoas teriam de continuar pagando
preços artificialmente altos. Ele se convenceu de que não havia alternativa senão
abolir as Leis do Trigo por completo, uma inversão da conduta de seu governo.
De início, foi incapaz de persuadir seus colegas políticos, mas alguns deles
mudaram de ideia quando as notícias vindas da Irlanda pioraram e ficou claro
que a sobrevivência do próprio governo estava em jogo. Finalmente, com uma
votação em maio de 1846, as leis foram revogadas. O apoio do duque de
Wellington, um herói de guerra aristocrático que havia sido um vigoroso
defensor das Leis do Trigo, foi decisivo. Ele convenceu os proprietários de
terras com assento na Casa dos Lordes a apoiar a revogação, sob a alegação de
que a sobrevivência do governo era mais importante. Em particular, no entanto,
admitiu que “aquelas malditas batatas podres” eram as culpadas pela extinção
das Leis do Trigo.
A suspensão da tarifa sobre cereais
importados abriu caminho para importações de milho da América, embora, no fim
das contas, o governo tenha sido ineficiente na distribuição do alimento e ele
tenha feito pouca diferença para a situação da Irlanda. Na segunda metade do
século XIX, as importações de trigo pela Grã-Bretanha aumentaram muito,
especialmente depois que a construção de estradas de ferro nos Estados Unidos
facilitou o transporte de trigo das Grandes Planícies para os portos da Costa Leste.
Enquanto isso, dentro da Grã-Bretanha, a mudança da agricultura para a
indústria se acelerou. A área de terra sob cultivo e o tamanho da força de
trabalho agrícola entraram ambos em declínio nos anos 1870. Em 1900, 80% do
trigo, o item alimentar básico da Grã-Bretanha, estava sendo importado, e a
parcela da força de trabalho dedicada à agricultura caíra a menos de 10%.
O carvão não era o único combustível que
havia impelido essa revolução industrial. O crescimento da produtividade
agrícola, que se iniciara dois séculos antes (suplementado pelo açúcar do
Caribe), e o fornecimento de trigo pela Irlanda (possibilitado pela batata)
também haviam contribuído para que a Inglaterra transpusesse o limiar da nova
idade industrial. Ao remover o obstáculo que impedia uma dependência maior da
importação de alimento, a tragédia da Fome da Batata ajudou a completar a
transformação.
Alimento e energia
revisitados
Não é nenhum exagero sugerir que a
Revolução Industrial marcou o começo de uma nova fase na existência humana,
assim como a revolução neolítica associada à adoção da agricultura havia feito
cerca de 10 mil anos antes. Ambas foram revoluções energéticas: o cultivo deliberado
de plantas domesticadas fez com que uma quantidade maior da radiação solar que chega
à Terra ficasse disponível para a humanidade. A Revolução Industrial deu um
passo adiante, explorando também a radiação solar do passado. Ambas causaram
grandes mudanças sociais: a passagem da caça e da coleta para a agricultura, no
primeiro caso, e da agricultura para a indústria, no segundo. Ambas levaram um
longo tempo para se concretizar: passaram-se milhares de anos antes que os
agricultores suplantassem globalmente em número os caçadores-coletores, e a
industrialização só está se processando há 250 anos, de modo que até o momento
apenas uma minoria da população do mundo vive em países industrializados – o rápido
desenvolvimento da China e da Índia, porém, logo fará a balança pender para o
outro lado. E ambas são controversas: assim como é possível afirmar que os
caçadores-coletores estavam em melhores condições que os agricultores e que a
adoção da agricultura foi um grande erro, é possível defender a ideia de que a
industrialização causou mais problemas do que resolveu (embora esse argumento
seja mais frequentemente proposto por pessoas desiludidas em países ricos,
industrializados). Houve também consequências ambientais impressionantes em
ambos os casos: a agricultura levou ao desmatamento generalizado, e a industrialização
produziu vastas quantidades de dióxido de carbono e outros gases estufa, que começaram
a afetar o clima mundial.
Nesse sentido, os países industrializados
não escaparam da armadilha de Malthus, mas apenas trocaram uma crise em que o
fator limitante era a terra cultivável por outra, em que o fator limitante é a
capacidade da atmosfera de absorver dióxido de carbono. A possibilidade de que
a mudança para combustíveis fósseis fornecesse apenas uma trégua temporária das
pressões malthusianas foi aventada mesmo por escritores do século XIX,
notadamente William Stanley Jevons, um economista inglês autor de The Coal Question, publicado em 1865.
“Por enquanto”, escreveu ele, “nossas provisões baratas de carvão e nossa
habilidade em seu emprego, e a liberdade de nosso comércio com outras terras,
nos tornam independentes da área agricultável limitada destas ilhas, e
aparentemente nos retiram do alcance da doutrina de Malthus.” A palavra
“aparentemente” não aparecia na primeira edição do livro, mas Jevons a acrescentou
em uma edição posterior, pouco antes de morrer em 1882.
Ele tinha razão para se inquietar. No
início do século XXI, preocupações renovadas com a relação entre provisões de
energia e a disponibilidade de terra para a produção de comida foram suscitadas
em virtude do crescente entusiasmo com biocombustíveis, como o etanol feito de
milho e o biodiesel feito de azeite de dendê. Fazer combustível com essas
plantas é atraente por serem uma fonte renovável de energia (podemos cultivar
mais no próximo ano) e porque, ao longo de seu ciclo de vida, elas podem
produzir menos emissões de carbono que combustíveis fósseis. Ao crescer, as
plantas absorvem dióxido de carbono do ar; depois são transformadas em
biocombustível e o dióxido de carbono retorna à atmosfera quando o combustível
é queimado. Todo o processo seria neutro em emissões de carbono, não fosse por aquelas
associadas ao cultivo das plantas (fertilizantes, combustível para tratores e
assim por diante), em primeiro lugar, e depois em sua transformação em
biocombustível (algo que em geral requer muito calor). Mas a quantidade exata
de energia requerida para produzir vários biocombustíveis e o nível de emissões
de carbono associadas variam de planta para planta. Por isso alguns
biocombustíveis fazem mais sentido que outros.
O tipo que faz menos sentido é o etanol
feito de milho, que é, infelizmente, a forma predominante, representando 40% da
produção mundial em 2007, a maior parte nos Estados Unidos. As estimativas mais
prováveis sugerem que a queima de um galão de etanol produz apenas 30% mais
energia que aquela necessária para produzi-lo e reduz emissões de gases estufa
em cerca de 13%, se comparada à queima de combustível fóssil convencional. Isso
pode parecer impressionante, mas os números correspondentes para o etanol de
cana-de açúcar brasileiro são cerca de 700% e 85%, respectivamente; para o
biodiesel produzido na Alemanha, são 150% e 50%. Em outras palavras, fazer um
galão de etanol de milho requer quatro quintos de um galão de combustível
fóssil (para não mencionar centenas de galões de água), e não reduz muito as
emissões de gases estufa. A produção dessa energia faz menos sentido ainda em
bases econômicas: para alcançar essas parcas reduções de emissões, o governo
dos Estados Unidos subsidia a produção de etanol de milho com cerca de 7
bilhões de dólares por ano e impõe uma tarifa sobre o etanol de cana-de-açúcar
do Brasil para desencorajar importações. O etanol de milho parece ser um plano
elaborado para justificar subsídios agrícolas, não um esforço sério para
reduzir emissões de gases estufa. A Inglaterra aboliu as Leis do Trigo
favoráveis aos agricultores em 1846, mas os Estados Unidos acabam de introduzir
novas leis nesse sentido.
O entusiasmo pelo etanol de milho e outros
biocombustíveis foi um dos fatores que ajudaram a elevar o preço dos alimentos,
à medida que plantações inteiras passaram a ser desviadas para a fabricação de
combustível, de modo que a agricultura serve de fato para alimentar carros, não
pessoas. Opositores dos biocombustíveis gostam de ressaltar que o milho
despendido para encher o tanque de um veículo com 25 galões de etanol seria
suficiente para alimentar uma pessoa durante um ano. Como o milho é também
usado para alimentar animais, seu preço mais alto torna a carne e o leite mais
caros. E, à medida que agricultores deixam de cultivar outros produtos
agrícolas para cultivar milho, esses outros produtos (como a soja) tornam-se
mais escassos e seu preço também sobe. Alimento e combustível estão, ao que
parece, competindo mais uma vez por terra cultivável. O baixo preço do carvão
mostrou aos proprietários de terras ingleses, no século XVIII, que sua terra
era mais valiosa para cultivar comida do que combustível; a preocupação com o
petróleo caro atualmente leva agricultores americanos a fazer a escolha
contrária, cultivando plantas para a produção de combustível, não de comida.
No entanto, nem sempre os biocombustíveis
precisam competir com a produção de alimentos. Em alguns casos, pode ser
possível cultivar matérias-primas para biocombustíveis em terras marginais,
inadequadas para outras formas de agricultura. E essas matérias-primas não
precisam ser produtos agrícolas alimentícios. Uma abordagem potencialmente
promissora é a do etanol celulósico, feito com arbustos lenhosos e até árvores
de crescimento rápido. Na teoria, isso seria várias vezes mais eficiente em
termos energéticos até que o etanol de cana-de-açúcar, poderia reduzir as
emissões de gases estufa de maneira quase igual (uma redução de cerca de 70%
comparada aos combustíveis fósseis) e não invadiria terras cultiváveis. O problema
é que o solo ainda está imaturo, e são necessárias enzimas caras para decompor
a celulose, dando-lhe uma forma que possa ser transformada em etanol. Outra
abordagem envolve a fabricação de biocombustível com algas; mais uma vez,
porém, a tecnologia ainda está em seus primórdios.
O que está claro é que o uso de produtos
agrícolas alimentícios para a fabricação de combustível significa um passo
atrás. O passo adiante mais lógico, depois das revoluções Neolítica e
Industrial, certamente é encontrar novas maneiras de utilizar energia solar
além do cultivo de plantas ou da escavação de combustíveis fósseis. Painéis
solares e turbinas de vento são os exemplos mais óbvios, mas talvez seja também
possível trabalhar de alguma maneira com o mecanismo biológico da fotossíntese
para produzir células solares mais eficientes, ou para criar, mediante
engenharia genética, micróbios capazes de produzir grandes quantidades de
biocombustível. A necessidade de compatibilizar alimentos e combustível ressurgiu
no presente, mas pertence ao passado.
Tom Standage
Uma história comestível da humanidade
Tradução:
Maria Luiza X. de A. Borges
Uma edição:
Zahar Editores
Disponibiliado por:
Le Livros
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"Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível."
Sumário
INTRODUÇÃO Ingredientes do passado
PARTE I Os fundamentos comestíveis da civilização
1. A invenção da agricultura
2. As raízes da modernidade
PARTE II Comida e estrutura social
3. Alimento, riqueza e poder
4. Seguir o alimento
PARTE III Os caminhos dos alimentos
5. Estilhaços do paraíso
6. Sementes de impérios
PARTE IV Comida, energia e industrialização
7. Novo Mundo, novos alimentos
8. A máquina a vapor e a batata
PARTE V Comida é arma
9. O combustível da guerra
10. Luta por comida
PARTE VI Comida, população e desenvolvimento
11. Alimentar o mundo
12. Paradoxos da abundância
EPÍLOGO Ingredientes do futuro
Notas
Bibliografia
Agradecimentos
Índice remissivo
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