quarta-feira, 13 de agosto de 2014

CHARLIE CHAPLIN

"Chaplin transformou a comédia-pastelão em veemente crítica social, sem perder sua incrível habilidade para fazer rir". ( J.B. Priestlev )

Um pôster francês de Charlie Chaplin (o Carlitos, como também era conhecido no Brasil) como o Vagabundo (Tramp). Pessoas de todos os lugares reconheciam-no como o Vagabundo e sua popularidade era — e ainda é — internacional. Aqui, o Vagabundo está com um olhar triste e desamparado: um perdido no mundo. Mas, apesar das dificuldades da vida, ele sempre venceu no final, tornando-se um símbolo para os pobres, os desafortunados e os perdedores.


Chaplin nasceu no teatro

Charles Spencer Chaplin — este o nome completo de Charlie Chaplin — nasceu em Londres, no dia 16 de abril de 1889. Era o segundo filho de Hannah, que, ao se casar com Charles, o pai dele, já tinha Sydney.
O pai de Chaplin era um bom ator de musicais, apesar de não ser um grande nome. Hannah também era atriz de teatro de variedades. Excelente mímica, era dona de uma voz doce e charmosa, mas sem grande alcance. Tinha pavor de vaias e gozações, que já haviam acabado com os espetáculos e até com a carreira de muitos atores. Embora não fossem propriamente ricos, o music hall proporcionava aos Chaplin uma vida confortável.
Os musicais começaram nos bares dos becos, onde artistas amadores representavam cenas que divertiam e deliciavam o público. Os atores vinham dos mesmos becos onde viviam seus espectadores. A vida desses atores era difícil, mas fazia vislumbrar uma chance de fama e fortuna para jovens ambiciosos como Hannah e Charles Chaplin; muito melhor isso do que serem empregados domésticos ou trabalhadores das terríveis fábricas da época.
No final do século 19, o teatro de variedades atingiu o auge na Inglaterra: havia mais de duzentas peças em cartaz, das quais 36 eram encenadas em Londres. Numa época em que não havia rádio nem televisão, era natural que as pessoas afluíssem ao teatro. Não havia lugar melhor para esquecer as adversidades da vida daquela Inglaterra vitoriana.
Os espectadores podiam apreciar engolidores de fogo, bailarinas, amestradores de leões, trapezistas, atores e mágicos e se unir ao coro das músicas.

Um país dividido

A rainha Vitória era rica e poderosa e seu império estendia-se mundo afora. Mas, assim como havia uma imensa riqueza, havia também uma pobreza extrema no país. Lentamente, a situação foi melhorando — os ricos não estavam mais apavorados com a perspectiva de que as "classes baixas" mergulhassem a Inglaterra na revolução, como havia acontecido em outros países da Europa —, mas para milhares de pessoas ainda era extremamente difícil ganhar o próprio pão e garantir a sobrevivência.

A London Bridge (Ponte de Londres) em 1892; a capital fervilhava. Londres era uma cidade industrial e de negócios, onde ricos e pobres conviviam. As estreitas ruas pavimentadas ganhavam vida com o cheiro das comidas dos mercados, os gritos dos cocheiros e as carruagens puxadas a cavalo. 

Londres, na época, vivia sob o estrépito dos cascos de cavalos. Eram fiacres, carroças de cerveja, vagões de carvão, carrinhos de leiteiros e ocasionalmente a pompa soturna de um rico funeral, que cortavam a cidade, todos eles agitando plumas e flores. As ruas estavam cheias de vida. Moças vendiam flores, enquanto homens tocavam o realejo com macaquinhos montados em cima do aparelho. Crianças pulavam corda, brincavam de pula-sela, jogavam bolinha de gude ou subiam nos postes.
Como Charlie andava pelas ruas com a mãe, convivia com a mais extrema pobreza — crianças descalças, mendigos cegos, pessoas acotoveladas nas portas —, mas, ainda assim, isso significava pouco para ele. Sua família estava, até então, sã e salva.

Tempos difíceis

Entre uma apresentação e outra, os atores dos musicais eram estimulados a beber com o público para o bar fazer movimento. Com isso o pai de Charlie, como muitos outros atores, passou da alegre camaradagem para o alcoolismo.

 Charles Chaplin, o pai de Charlie, era bem conhecido nos music halls com músicas como Oui! Tray Bong!, mas a bebida destruiu sua carreira. 

Lenta, mas firmemente, a bebida foi destruindo o seu casamento. O medo e a angústia crescentes germinavam em Hannah.
Quando o casal viajou aos Estados Unidos para apresentações da companhia, Hannah fez novos amigos. Entre eles estava um cantor muito elegante e famoso: Leo Dryden. Ela sucumbiu aos seus galanteios e se apaixonou. O bom senso voou pela janela. Em agosto de 1892, Hannah deu à luz a um filho de Leo, George Dryden Wheeler. Até então, Leo Dryden havia lhe dado alguma ajuda financeira, mas, assim que o filho nasceu, desapareceu de sua vida.
O casamento de Hannah com Charles havia terminado, e ela estava agora com três filhos para criar. Charlie tinha três anos e meio e Sydney quase oito. Hannah sempre foi muito carinhosa e cheia de cuidados com as crianças, dispensando o mesmo amor ao bebê e aos meninos mais velhos. Eram pobres, mas tinham um ao outro.
Certo dia, sem qualquer aviso, Dryden apareceu em sua casa, pegou George, então um bebê de 6 meses, e foi embora. Hannah não pôde fazer nada.
Sem o bebê, sua vida se arruinara. Não possuía recursos nem alguém a quem recorrer. As antigas esperanças haviam desaparecido, mas Hannah era indomável. Sem ela, Charlie Chaplin teria se tornado mais uma criança perdida na Londres vitoriana.

 Hannah Chaplin, mãe de Charlie, usava o nome de Lily como cantora e bailarina. No final de sua carreira, o palco foi um lugar cruel e desmoralizante para ela; a platéia queria uma voz grossa e áspera, não sua voz doce e suave. O público atirou-lhe frutas para mostrar sua desaprovação, afastando Hannah do palco para sempre. 

Pobre e só, Hannah voltou-se para a religião em busca de consolo. Ganhava um pouco trabalhando como enfermeira em residências e costurando para senhoras da igreja. Como todos aqueles que enfrentavam dificuldades na época, seu maior temor era ser obrigada a viver num asilo de pobres.

A primeira apresentação de Carlitos

Mas o dinheiro simplesmente havia terminado e Hannah tinha de fazer alguma coisa. Estava temerosa de enfrentar o implacável público dos musicais, mas seu talento era a única coisa que tinha a oferecer. Em desespero, decidiu voltar ao palco. O seu temor, porém, se confirmaria: sua voz falhou completamente.
A pobre Hannah lutou para continuar cantando sob os assovios e as vaias. Mas logo deixou o palco. O diretor estava desesperado com o tumulto. Viu o pequeno Charlie nos bastidores: era o que tinha de melhor à mão. Pegou Charlie e conduziu-o ao palco.
Carlitos tinha, então, 5 anos de idade.

"Eu me lembro das ruas do bairro de Lambeth, a New Cut e a Lambeth Walk, e da Vauxhall Road. Eram ruas desagradáveis, e não se poderia dizer que fossem pavimentadas com ouro. Contudo, as pessoas que ali moravam eram feitas do melhor metal". Charlie Chaplin, a respeito de Londres, em 1943

A visão daquela pequena criança iluminada pela luz dos refletores acima da plateia fez os espectadores caírem na gargalhada. Como Charlie crescera entre atores e profissionais do teatro, firmou-se no palco e começou a cantar.
O tumulto na plateia se dissipou e moedas foram sendo atiradas ao palco, com pedidos de bis. Quando Charlie disse calmamente que só continuaria depois de recolher todas as moedas, provocou outra gargalhada estrondosa no público.
Todo sorrisos, o diretor assegurou-lhe que todas as moedas seriam recolhidas; Charlie, então, prosseguiu. Ele estava se divertindo muito e, assim, dançou, cantou e representou, até Hannah tirá-lo do palco.
Depois daquela noite, ela faria apenas mais uma apresentação, mas para Charlie seria o início de uma carreira brilhante, que o fez famoso em todo o mundo.

Pobreza

Pouco a pouco, Hannah foi forçada a vender todos os seus pequenos tesouros — e até as peças e os objetos mais necessários. A vida teria se tornado miserável se Hannah não tivesse introduzido um pouco de magia nela. O pobre quarto da família parecia ter se transformado em um reluzente palco. Ela cantava e dançava para sua plateia de duas crianças, além de representar peças de teatro para elas. Contava-lhes histórias da Bíblia que as levavam às lágrimas.
Hannah não só mantinha Charlie e Sydney limpos, alimentados, vestidos e aquecidos no inverno como também lhes proporcionava pequenos deleites, como uma revista de histórias em quadrinhos ou um arenque no café da manhã.
Sua preocupação em manter os filhos decentemente vestidos não era bem-sucedida. Ela fazia roupas para os meninos com os tecidos de seus vestidos de teatro, e eles eram alvo de caçoadas nas ruas por onde passavam com aqueles terninhos excêntricos.

Famosa pintura sobre a pobreza da era vitoriana, de Luke Fildes, chamada Sem Lar e com Fome. Foram as lembranças da miséria de sua família que Chaplin carregou para tantos de seus filmes. A pobreza deu a ele o desejo apaixonado de ver os miseráveis saírem da indigência e a força para lutar contra as injustiças sociais. Isso está caracterizado em seu personagem Vagabundo, cuja coragem levou esperança e humor a muita gente para rir dos próprios problemas.

Sydney tentava ganhar algum dinheiro vendendo jornais nos bondes puxados a cavalo: saltava os degraus do veículo em movimento para oferecer o seu produto. Um dia encontrou uma carteira, ao descer correndo pelo estribo do bonde. Não havia nome nem endereço anotados, e parecia estar cheia de trocados. Foi só quando chegou em casa que Hannah descobriu um compartimento interno que continha 7 soberanos de ouro.
Então ela decidiu que teriam seu dia de glória.
Correu com os meninos para a rua e tomaram um barco — foi um dia de mariscos, balas de hortelã, pães doces, limonada e muita diversão... com os garotos usando roupa nova de qualidade, de forma a não sofrerem gozações pelos trajes feitos com as roupas do baú do teatro de variedades.
Esses dias de glória eram poucos e raros, mas, quando o dinheiro era curto, Hannah mostrava aos filhos como se divertir sem ele.
Ela se sentava no parapeito da janela para observar os passantes e, através de sua aparência e modo de andar e vestir, inventava histórias para distrair Charlie e Sydney. Às vezes representava por mímica tudo o que estava vendo na rua: sem uma palavra, apenas com o uso das mãos e da expressão facial, contava histórias aos meninos.

"Para mim, minha mãe foi a mais esplêndida mulher que conheci... Desde então, pelo mundo afora, encontrei muita gente, mas jamais vi uma mulher mais refinada do que minha mãe. Se consegui ser alguma coisa, eu devo a ela". Charlie Chaplin, Photoplay, 1915

Charlie herdou essas habilidades da mãe, captou os sons e as cenas da vida de Londres, usando-os ao longo de sua vida profissional. Ao se tornar milionário e internacionalmente famoso como ator, Chaplin atribuiria o desenvolvimento de sua carreira ao talento da mãe e às histórias que ela lhe contava na infância.

As escolas de Norwood

Muito provavelmente, Hannah e seus filhos compunham uma estranha família. Era como se tivessem construído um muro ao redor deles e agora esse muro começasse a ruir. Hannah começou a sofrer de dores de cabeça frequentes e violentas. Seu estado se agravou tanto que foi obrigada a se internar por um mês em uma enfermaria.
Não havia mais nada a fazer — Sydney foi obrigado a ir para um asilo de pobres. De lá foi mandado para uma escola de crianças carentes no oeste de Norwood. A escola era bastante moderna, mas tinha o estigma da instituição de caridade.

Fotografia tirada na Hanwell School, destinada a crianças pobres. Com 7 anos e meio, Charlie está no meio do grupo: na terceira fila, é o terceiro garoto a partir da esquerda. Chaplin passou parte da infância em orfanatos e escolas para crianças carentes. Os prédios eram limpos e modernos, mas as crianças, separadas dos pais, eram criadas sem carinho.

Permaneceu lá por três meses e, ao mesmo tempo em que Charles pai era-despojado do pátrio-poder, por absoluto descaso para com as crianças, Hannah ainda não havia se recuperado totalmente para poder recebê-las em casa.
Charlie foi mandado para a casa de parentes e teve uma semana ou duas de estudos. Na verdade, ele nunca receberia uma verdadeira educação formal.
Assim que Hannah se recuperou, os garotos voltaram para casa, mas suas dores de cabeça também voltaram e ela teve de ser internada novamente.

Outra separação

As autoridades estavam perplexas. O pai dos meninos estava bem de vida, mas não auxiliava em nada na sua criação. Havia apenas uma coisa a fazer. "Devido à ausência do pai e à doença da mãe", as crianças foram enviadas à Escola para Crianças Pobres do Centro de Londres, em Hanwell.
As regras eram rígidas. Os meninos tiveram de ser separados por causa da idade. Charlie estava com 7 e Sydney com 11 anos.
Sydney tinha sido um verdadeiro pai para seu irmão mais novo, e a boa comida, os esportes e a piscina não seriam suficientes para compensar a separação dos dois.
A pior coisa que aconteceu a Charlie foi pegar piolhos e ter de raspar o cabelo e cobrir o couro cabeludo com iodo. Sentia-se como um pária. Outra situação desastrosa foi a injusta acusação de se comportar mal, sendo castigado com três fortes batidas de palmatória. Em sua autobiografia, porém, Chaplin recorda sentimentos e situações muito agradáveis, apesar das circunstâncias desfavoráveis.
No dia 18 de janeiro de 1898, depois de dezoito meses na Hanwell, Charlie voltou para casa. Dois dias depois Sydney também retornava. Estavam desesperadamente pobres, mudando de um quarto miserável para outro, cada um pior que o último.

O guarda ferroviário, um personagem típico do teatro de variedades da década de 1880. Os figurinos eram bastante simples, de modo que o personagem fosse imediatamente identificado. A atuação de Chaplin em teatros de variedades, durante a adolescência, foi um treinamento perfeito para o cinema mudo. Tornou-se um gênio da mímica — o maior do mundo.

Um dia de liberdade

Não muito depois tiveram de voltar para o internato. Hannah não tinha autorização para visitar os filhos, mas não era mulher de se deixar intimidar por regras. Informou às autoridades que no momento dispunha de dinheiro suficiente para montar casa novamente — e Sydney e Charlie deviam ser entregues a ela nos portões do internato.
Os três foram ao Kennington Park, um parque malcuidado, de grama gasta, cuja única atração era uma grande fonte.
Sydney havia economizado 9 pence (9 centavos de libra esterlina, a moeda inglesa). Depois de muita discussão, eles gastaram o dinheiro em pouco mais de 200 gramas de cerejas, 2 pence de bolinhos, 1 penny (1 centavo de libra esterlina) de arenque e meio penny em duas xícaras de chá, sendo tudo dividido escrupulosamente entre eles. Sydney fez uma bola de jornal e barbante, e eles jogaram a tarde inteira até Hannah chamá-los para voltarem para casa.
De volta para o internato!
Hannah não tinha recursos para manter um novo lar. As autoridades ficaram estarrecidas com o atrevimento dela. O livro de regras não previa qualquer punição para tal descaramento. Para alegria de Hannah, os meninos tiveram de passar o fim de semana no asilo junto com a mãe. 
Duas semanas mais tarde, porém, ela foi transferida do asilo para o hospital. A notícia foi dada aos filhos na Escola de Norwood da seguinte forma: devido aos problemas, a mãe deles tinha ficado louca e eles seriam enviados para a casa do pai. Foi um dia terrível e assustador.

                                                         Uma fotografia antiga, de um artista de music hall com maquiagem teatral carregada. A maquiagem e as roupas davam brilho e animação ao personagem. As representações eram exageradas para se obter melhor resultado.

Nova mudança

Os meninos foram levados para a casa do pai no furgão de pão. Charlie vivia com uma mulher triste e devota chamada Louise, mas tanto ela como ele estavam constantemente bêbados. Como Hannah havia declarado, aquela não era uma casa para crianças. Quando não bebia, o pai era maravilhoso — mas o problema é que raramente ele estava sóbrio. As crianças ficaram aterrorizadas com a desordem, os gritos e as brigas dos dois.
Uma noite, o pequeno Charlie voltou para casa e encontrou-a trancada. Não sabia o que fazer. A manhã parecia muito distante, e não havia ninguém a quem ele pudesse recorrer.

                                          A vida na Londres vitoriana era repleta de privações — famílias inteiras eram obrigadas a mudar de um quartinho para outro, sem posses nem comida. Quando o aluguel não podia ser pago, a ameaça do asilo e do internato pairava pesadamente sobre elas.

A fim de passar o tempo, ele perambulou pelas ruas sombrias, afastando-se das vielas mais escuras. Bêbados cambaleavam de encontro a ele, casais passavam a seu lado sem lhe dar atenção, tagarelando e rindo. Das janelas abertas ouvia-se o som de choro de bebês, de cantorias e de gritos. O garoto sentiu-se terrivelmente só. Finalmente ele se viu frente a uma taberna: luzes brilhavam através das vidraças, e a porta aberta deixava entrever a madeira polida e o bronze lustroso. Deixou-se ficar ali, invejando as pessoas que se encontravam lá dentro, aquecidas e acompanhadas.
Alguém começou a tocar uma clarineta. Solitário, o garoto ouvia, encantado.
Pareceu-lhe o som mais lindo e tranquilizador que já havia ouvido. Aqueles poucos minutos do lado de fora de um bar londrino abriram seu coração para a música. Nunca mais esqueceria aquele momento. Um dia, ele também comporia músicas que deliciariam o mundo.

Um instante de orgulho

Hannah era uma mulher incrível. Uma pessoa que, contra todas as expectativas, estava bem de novo e, uma vez mais, pronta para montar um lar para os filhos.
Eles mudaram para um quarto que dava os fundos para uma fábrica de picles e que ficava ao lado dos horrores de um matadouro. O mau cheiro era insuportável, mas eles estavam juntos novamente. Charles passou a dar algum dinheiro a Hannah, provavelmente para se certificar que os filhos não voltariam para sua casa.

                  Essas crianças não estão na fila para assistir a um musical. Ou ver uma artista famosa. Estão esperando por uma refeição grátis. Mesmo se houvesse mais pessoas que comida, valia a pena tentar, pois essa era a única maneira que muitas crianças de Londres tinham de se alimentar.

Muito a contragosto, o pequeno Charlie foi mandado para a escola. Ele não era muito bom em leitura e escrita, mas teve um instante de triunfo. A sua declamação de "Miss Priscilla's Cat" recebeu os aplausos da escola inteira... e ele foi levado de classe em classe para que todos pudessem ver a sua atuação. De repente ele se sentiu alguém de valor, não apenas uma criança maltrapilha.
No dia 25 de novembro de 1898, porém, Charlie deixou a escola para sempre. Tinha 9 anos, mas sua infância havia terminado.

Os Garotos de Lancashire

Hannah sustentava a família com trabalho por encomenda. Uma vez por semana sua patroa levava várias peças de tecido para ela fazer blusas. O pedalar e o zumbido da máquina de costura enchiam os dias da família. Hannah não podia se atrasar no aluguel da máquina. A sobrevivência dos três dependia dela.
A comida era comprada em quantidades muito pequenas. Os meninos despencavam escadaria abaixo para apanhar um prato de verduras ou um pedaço de carne para o jantar, ou até um peixe em conserva para aumentar um pouco a refeição fria. Um saquinho de biscoitos amanhecidos era um tesouro.
O salário de Sydney ajudava. Sempre inteligente e esperto, ele agora era entregador de telegramas, usando um uniforme com botões dourados e boné.

“Aqueles foram dias difíceis, com toda certeza. Às vezes, nós (Os Oito Garotos de Lancashire) quase pegávamos no sono no palco, mas, ao darmos uma olhada para Jackson, na coxia, podíamos vê-lo fazendo caretas extraordinárias que mostravam os dentes, distorciam o rosto e o corpo, mostrando que ele queria que nós tomássemos coragem e sorríssemos. A nossa resposta era imediata; mas o nosso sorriso ia se apagando lentamente, até que dávamos, de novo, uma olhadela para Jackson. Éramos apenas crianças e não tínhamos aprendido ainda a arte de arrancar energia do corpo para acabar com o desânimo”. "Mas foi um bom treino, tornando-nos aptos para o trabalho duro que enfrentaríamos antes que a deusa do sucesso começasse a distribuir seus favores". Charlie Chaplin, 1912

Estava claro para Charlie que ele tinha de ganhar a vida, e já sabia como. Desde pequenino, não tinha nenhuma imagem romântica da vida de teatro, mas o que queria mesmo era ser artista.
Charles, pai, ainda estava no negócio, apesar de a bebida ter destruído a chance de uma carreira brilhante. Podia não ter sido um bom pai, mas agora, finalmente, havia alguma coisa que podia fazer e que não lhe custaria nada.
Assim, persuadiu William Jackson a levar o filho para a trupe de crianças que sapateavam, Os Oito Garotos de Lancashire. Como o grupo fugia do comum, estava obtendo um enorme sucesso.

O aprendizado no palco

Foi uma escolha feliz. Jackson era um homem gentil, que cuidava de seus garotos, mas insistia em uma disciplina profissional e em um alto padrão de qualidade. Foi uma excelente base para o futuro de Charlie no palco. Ensaios, espetáculos na matinê e à noite deixavam os meninos muito cansados, mas eles eram profissionais. Seu trabalho era divertir — e fazer rir como eles riam. Se a dança começasse a perder brilho, Jackson já estava nos bastidores gesticulando — e o sorriso dos meninos reaparecia.
Os Garotos de Lancashire dividiam a cena com alguns dos maiores atores da época. Charlie ia retendo na memória tudo aquilo que via.
O Natal foi comemorado com quadros de transformistas, balés acrobáticos, figurinos fulgurantes e comédia-pastelão. O rei dos demônios foi atirado de um alçapão, como um relâmpago envolto em fumaça vermelha, enquanto a rainha das fadas desceu graciosamente do alto.

                                                   As músicas, os figurinos, a atmosfera excitante... Os music halls levavam a plateia para bem longe de sua vida miserável. Eram o lugar ideal para esquecer problemas e rir um pouco, exatamente o que o cinema seria para a geração seguinte.

Mas Charlie também já havia presenciado à exaustão, desde que nascera, a tensão e as injúrias por trás de atuações maravilhosas. Ele fazia parte de um mundo que cheirava a gim e maquiagem, poeira e suor, tigres e leões-marinhos, querosene e linhaça.
Os primeiros passos de Chaplin no teatro haviam sido coroados de sucesso; porém, em apenas dois anos, seus dias com os garotos haviam terminado.
Então, às noites, ele ficava sentado em casa observando Hannah inclinada sobre a máquina de costura, com os dedos guiando o tecido junto à implacável agulha e os olhos vermelhos de cansaço.
Os dias mágicos no palco parecia haver terminado para Charlie Chaplin.

Na escuridão

Então, outra desgraça desaba sobre eles. Charles Chaplin, pai, destruído pela bebida, morre com apenas 37 anos de idade.
Sydney estava sempre no mar e Charlie sentia que precisava ganhar alguma coisa para ajudar em casa enquanto seu irmão estivesse fora.

                                                       No século 19, os palhaços usavam uma grande variedade de trajes. O personagem da ilustração é Scaramouche, que, de muitas formas, lembra o Vagabundo de Chaplin: é um mímico triste e vulnerável. Os dois atores apresentavam as mesmas performances e despertavam os mesmos sentimentos de piedade e simpatia no público.

Comprou narcisos baratos no mercado, fez pequenos buquês de 1 penny e dirigiu-se à região dos bares. A faixa de luto em seu braço e seu olhar triste e sombrio enterneceu o coração de muitas mulheres, o que lhe renderia algum trocado extra. Mas sua mãe descobriu e pôs um fim nesse trabalho. "A bebida matou seu pai, e o dinheiro vindo de bares só pode nos trazer azar", disse-lhe Hannah.
Mas embolsou o lucro.

Bolo e sorvete

Começava o ano de 1901. Com 11 anos de idade, Charlie estava determinado a arranjar um emprego. Foi mensageiro de médico, pajem e até assoprador de vidro em uma fábrica, onde, apesar de o calor ser forte demais para sua idade, ele só faltou um dia.

                           O engraxate era uma figura comum na Londres vitoriana: uma maneira de ganhar algum dinheiro. Aos 14 anos, Charlie ficou completamente só e desamparado, mas sempre havia trabalho avulso a ser feito em troca de umas moedas. Charlie dedicou-se a ajudar entalhadores de madeira, a assoprar vidros e a entregar telegramas.

Sydney voltou do mar com o salário e algum extra de gorjetas — o suficiente para transformar o verão. Anos mais tarde, Chaplin diria: "Foi nossa época de bolo e sorvete". Entre biscoitos, bolinhos, peixe e pãezinhos recheados, os dias passaram como num delicioso sonho.
Logo, porém, Sydney teve de voltar ao mar, e a pobreza novamente dominou sua vida.
Charlie tentou vender sua roupa velha no mercado, mas estava tão puída que nem os mais miseráveis se interessavam por ela. Começou a fazer barquinhos de madeira, mas o cheiro forte da cola perturbava o trabalho de Hannah e ele teve de parar.
Hannah estava mudada. Apesar do pouco dinheiro, sua casa sempre fora limpa e brilhante; ultimamente, porém, estava se tornando cada vez mais empoeirada e suja. Charlie não compreendia o que estava acontecendo e muitas vezes ralhava com ela. Mas não era apatia o que causava a mudança.

A doença volta

Certa manhã de verão, enfastiado daquela desmazelada e exígua água-furtada, Charlie saiu para visitar amigos. Por volta de meio-dia, estava voltando para casa, quando algumas crianças o abordaram.
"Sua mãe ficou louca. Ela está empunhando pedaços de carvão e dizendo que são presentes de aniversário para as crianças".
Charlie precipitou-se escada acima e encontrou a mãe sentada em seu costumeiro lugar, junto à janela. Lançou para ele um olhar desnorteado.
"Estava procurando por Sydney. Eles o afastaram de mim".
Charlie já tinha visto sua mãe doente antes, mas nunca como agora. Como ela cambaleasse, Charlie, com 14 anos de idade, teve de levá-la ao hospital, amparando-a em seus braços ao longo de quase 2 quilômetros até os portões de ferro. Os pedestres olhavam para eles com reprovação, pensando que ela estivesse bêbada.
No grande e despojado quarto, um médico acalmou Hannah e examinou-a gentilmente. Ao final, disse a Charlie que ela não estava nada bem. Hannah foi internada no hospital e seis dias mais tarde, transferida para o asilo.

Sozinho

Não querendo ser cuidado pelo Estado novamente, Charlie disse aos funcionários que iria viver com parentes. Na verdade, voltou ao velho quarto sozinho para esperar a volta de Sydney.
Hannah, como sempre, tentava afastá-lo do pior. Mas, ainda assim, Charlie encontrou roupa suja de molho, nenhuma comida, meio pacote de chá e três moedas de meio penny. Havia um saquinho de balas de hortelã sobre a mesa, que ela havia comprado como um tesouro para ele.
Nas semanas seguintes, Charlie perambulou pelas ruas de Londres, tão só quanto naquela noite em que seu pai deixara-o para fora de casa. Por sorte, encontrou alguns amistosos entalhadores e começou a trabalhar para eles. Na firma, o chefe deu-lhe 2 pence para comprar pão e cascas de queijo.

                    O mercado era o coração de Londres. Bancas enfileiravam-se ao longo das ruas, e vendedores ambulantes apregoavam suas mercadorias aos gritos, enquanto caminhavam de porta em porta. 

Assim que Sydney chegou, os dois garotos foram visitar a mãe. Foi um grande choque ver a mudança que ocorrera em Hannah. Longe da família e de seu ambiente, ela parecia totalmente perdida e desamparada. Charlie ficou transtornado por muito tempo com o que ela lhe dissera em sua confusão mental:
"Se você tivesse me dado uma xícara de chá, eu teria ficado boa".

Charlie encontra seu caminho

Mesmo nas piores fases, Charlie sempre acreditou que havia algo especial encerrado dentro dele. Agora, roto e esfarrapado, estava determinado a começar de novo. Armou-se de coragem e foi procurar um dos mais importantes agentes teatrais de Londres.
No escritório, o empregado olhou para o menino de 14 anos. Era miúdo, de traços delicados, mãos e pés pequenos, cabelos pretos e ondulados, dentes magníficos — um garoto de boa aparência e cheio de energia. Resolveu colocar Charles Spencer Chaplin em sua agenda.
Pouco tempo depois um cartão chegou ao alojamento de Charlie. Com o coração saltando no peito, ele foi ao escritório. Não tinha experiência alguma e estavam lhe oferecendo um bom papel em uma nova montagem de Sherlock Holmes. O conhecido ator H.A. Saintsbury fazia o papel principal. Havia uma oportunidade, também, de outro papel na própria peça de Saintsbury, Jim, um Romance de Cockayne, que seria encenada antes que a produção de Holmes ficasse pronta.
Charlie foi encaminhado para o amplo e distinto Green Room Club para se encontrar com o ator. A vida que levava tornara-o muito tímido — muitos o tomavam por insociável —, mas Saintsbury gostou dele e deixou-o à vontade. Charlie ficou com os dois papéis.

A atuação de Chaplin em Sherlock Holmes, com apenas 14 anos, foi um marco em sua carreira de ator. E, apesar de as peças não obterem grande sucesso, o público reconheceu o seu talento desde o início.

Os ensaios eram completamente diferentes do que vira até então, pois nunca trabalhara como ator, mas Saintsbury era paciente e Charlie aprendia depressa. Como mal sabia ler, Sydney lia o texto junto com ele e, em três dias, sua fala estava decorada.
Jim foi um horrível fracasso, exceto pelo fato de as críticas destacarem "um ator de futuro" na peça: Charles Chaplin.
Um deles escreveu: "Nunca vi o garoto antes, mas espero ouvir falar muito dele no futuro".
Sherlock Holmes estreou no dia 27 de julho de 1903, no enorme Pavilion Theatre e, após curta temporada, começou a excursionar.
Charlie parecia ter mudado da noite para o dia. Foi como se tivesse encontrado algo que lhe houvesse sido destinado fazer. Querido, gentil e talentoso, Sydney também ficaria famoso no palco, mas para ele esse era apenas um trabalho, uma parte de sua vida, enquanto para Charlie o emprego era seu mundo.
Charlie convenceu o diretor a dar um pequeno papel para Sydney. Hannah apresentou melhoras e por um certo período os três excursionaram juntos, quando então pôde se deleitar com o sucesso dos filhos.
A terceira excursão de Holmes foi um péssimo negócio, pois a companhia havia mudado de diretor. Charlie foi salvo por um telegrama, que lhe oferecia um papel na peça de William Gillette, um grande ator americano. A peça fracassou, mas Gillette gostou tanto da atuação de Charlie que lhe deu o papel de Billy na sua montagem de Sherlock Holmes.
Isso significava o West End de Londres, o lado melhor da capital — e dos espetáculos. Charlie tinha apenas 16 anos.

Sucesso e fracasso

Charlie aprendeu muito com Gillette, que era um excelente ator e um professor paciente. Acreditava que a atuação no palco se desenvolvia a partir da observação da vida real — algo que Hannah e Charlie entendiam muito bem.
Mas para Hannah não havia mais progresso. A insanidade contra a qual lutara por tanto tempo havia retornado, mais violenta que nunca. Os filhos estavam fora e foram os amigos que a levaram para o asilo. Desta vez não houve recuperação. Em seus momentos de lucidez, escrevia aos filhos cartas corajosas, tentando ardentemente ser alegre e enviando-lhes seu amor e carinho.
Sydney estava atuando em uma comédia-pastelão chamada Consertos, que envolvia grande quantidade de água, escadas, baldes, massa, papel e quedas. Quando terminou a temporada de Sherlock Holmes, Charlie juntou-se ao irmão.
As coisas pareciam mudar com muita rapidez e Charlie estava ansioso por conquistar algo além do horizonte. No momento, ele atuava em uma peça bastante popular: Casey's Court Circus. O público adorava sua atuação, especialmente quando se precipitava sobre o palco, com uma perna balançando no ar e a outra derrapando pelos cantos.

Charlie Chaplin, com 16 anos, imitando um famoso médico charlatão. Chaplin era um mestre da imitação e da mímica, e já mostrava esse talento desde o início de sua carreira. A inclinação da cabeça, a expressão nos olhos e a posição da mão eram absolutamente perfeitas; ele cuidava atentamente de cada detalhe, incluindo a maquiagem e o figurino.

Mas o sucesso pode ser seguido pelo fracasso. Inacreditavelmente, Charlie apresentou-se como um artista cômico judeu. E teve uma atuação tão ruim que foi vaiado no palco. Chaplin já havia vivenciado essa experiência com sua mãe, mas para ele era novidade. Tremia no camarim, antes de entrar em cena, e nunca mais se sentiu totalmente à vontade nas atuações ao vivo.

Felicidade interrompida

Agora era a vez de Sydney ajudar. Era um astro em ascensão na bem-sucedida montagem de Comediantes Mudos, de Fred Karno e convenceu o diretor a fazer um teste com Charlie durante duas semanas, sem pagamento.
Deram-lhe uma ponta, mas Chaplin sabia que era sua grande chance. Deu o melhor de si em todos os detalhes da atuação, acrescentando pequenos truques inesperados — e atingindo o sucesso dos melhores astros, para deleite do público. Não conquistou a estima dos outros atores, mas Karno reconheceu seu talento e Charlie foi integrado ao elenco.

Cinco das companhias de Fred Karno saíram de Londres em turnês, com a presença de Chaplin como um de seus principais artistas. Multidões se aglomeravam para ver os atores em suas viagens pelos Estados Unidos e Europa. As companhias e seus astros, como acontece hoje com os artistas mais famosos da TV e da música, eram cercados pelo público aonde quer que fossem.

Chaplin confundia o resto da companhia com sua versatilidade. Mas um membro do grupo, Stan Laurel — que um dia se reuniria a Oliver Hardy para montar uma das maiores duplas de comediantes de todos os tempos (O Gordo e o Magro) — gostou dele. Percebeu que Charlie era tímido e se dedicava inteiramente ao trabalho. Sabia que poderia ser tão brincalhão, delicado e generoso como os outros atores — mas seu trabalho vinha em primeiro lugar.
Era o ano de 1908. Charlie estava com 19 anos e se apaixonou. Hetty Kelly tinha apenas 15, e seus pais cortaram o romance antes mesmo que começasse. Mas a lembrança da bela Hetty o acompanharia por toda a vida.

Excursionando com Fred Karno

Fred Karno era grosseiro, ignorante, às vezes cruel, mas ele entendia de comédia. Disse a Chaplin que uma pitada de sentimento podia dar bons resultados num quadro humorístico, observação que ele seguiria à risca em seus filmes.
Em 1910, quando Karno realizou sua primeira turnê pelos Estados Unidos, Chaplin foi incluído no grupo. Ele emplacou em cheio com os americanos. Foi considerado pela crítica dos Estados Unidos como "um dos melhores artistas de pantomima jamais vistos".

Datada de 1890, esta máquina mostrava, em movimento, as imagens de atrações comuns nos palcos da época: malabaristas e mímicos.

A companhia ficou fora 21 meses e, quando Chaplin voltou, Sydney estava casado. A próxima turnê aos Estados Unidos teria início dentro de cinco meses, mas Charlie estava muito insatisfeito com a forma com que eram organizadas as excursões. No entanto, a turnê foi um enorme sucesso — e Chaplin também.
Estavam em Filadélfia, quando receberam o seguinte telegrama:
"Há um homem chamado Chaffin ou qualquer coisa parecida na companhia? Se houver, comunicar-se com Kessel e Baumann..."
Intrigado, Chaplin tirou um dia para visitar esses misteriosos cavalheiros em Nova York. Para seu assombro, soube que haviam assistido a sua cena e estavam lhe oferecendo a oportunidade de substituir um astro na companhia cinematográfica Keystone.
Era maio de 1913 — e a vida de Chaplin estava para mudar inteiramente.

Chaplin descobre o cinema

O cinema — ou cinematógrafo — foi criado no ano em que Chaplin nasceu. A princípio, a plateia ficava aturdida ao ver as cenas em movimento — sensação que durava apenas alguns instantes —, mas em 1913 o cinema estava se tornando um grande negócio. A Keystone produzia filmes em grande quantidade, em detrimento da qualidade, para atender à demanda. Ainda assim as pessoas acreditavam que era uma moda passageira que jamais substituiria os espetáculos ao vivo.

Uma câmera de 1889, com dezesseis lentes: cada uma delas gravava imagens separadas em uma chapa fotográfica.


Os estúdios não eram nem de longe equipados como os de hoje. Na biografia Chaplin — Sua Vida e Arte, David Robinson descreve assim o lugar para onde Chaplin estava direcionando sua vida: "Uma área de menos de 15 metros quadrados, confinada por uma cerca verde de madeira. No centro ficava o palco, encimado por um pano branco para difundir a luz do sol. Um velho bangalô abrigava o escritório e o camarim das mulheres; uma construção agrícola adaptada servia de camarim para os homens".
E era só.
Não havia som, mas nos filmes de amor uma orquestra estava sempre a postos para criar a atmosfera propícia aos atores. As filmadoras a manivela ficavam em posições fixas. O ator obedecia mais à câmera do que a câmera ao ator.
Muitas das tomadas eram feitas fora do estúdio, no jardim ou nas ruas próximas. Na época, tudo dependia do sol, pois não havia iluminação própria para o local.

Keystone

Chaplin ficou muito animado com a proposta da Keystone, mas agora que estava em Hollywood começou a se questionar se teria feito a escolha certa. Afinal de contas, ele era um comediante de teatro. Durante vários dias esteve nervoso demais, até para ir ao estúdio. Deu um telefonema urgente para Sennett, seu novo diretor, para vir ao seu encontro.
Ficou completamente desalentado com o que viu. Sua comédia sempre dependeu de ensaios, com ritmo e clareza precisos e efeitos calculados. A Keystone não acreditava em tais sutilezas.

Ao ser rodado em uma determinada velocidade, este disco mostrava o cavalo e o cavaleiro correndo. Esta é uma das primeiras invenções que, aprimoradas, levaram ao equipamento usado hoje no cinema.

Suas comédias se baseavam em pancadaria, corridas e perseguições e usavam maquiagem grosseira. Mas Chaplin não se deixaria abater. Ele tinha várias semanas para esperar e aproveitou o tempo para olhar e aprender. Estava determinado a dominar o novo meio de comunicação. Havia a oportunidade de dinheiro e sucesso — e ele estaria livre do imprevisível público de teatro.

O primeiro filme

Em fevereiro de 1914 estreou o primeiro filme de Chaplin, que continha um rolo com duração de 15 minutos. Chamava-se Carlitos Repórter. Embora ainda conhecesse muito pouco sobre cinema, ele entendia de comédia, e percebeu que o diretor era, definitivamente, incompetente. Estava amargamente desapontado com o resultado final do trabalho. Tudo o que havia sugerido fora cortado na edição final.
Mesmo assim o público gostou e reconheceu em Chaplin — com a sobrecasaca e o chapéu-coco — "um comediante de primeira".
A insatisfação serviu para Charles Spencer Chaplin caprichar mais em futuras atuações.

Charlie Chaplin era popular entre as atrizes estreantes — bonito, jovem e talentoso, ganhava muito dinheiro e se tornava mais famoso a cada dia. Sempre se apaixonava pela atriz jovem e bonita com quem contracenava. No quarto casamento encontrou a felicidade.

Sennett tinha uma fórmula certa de economizar dinheiro em locações e extras. Levava a equipe para onde estivesse acontecendo algum evento e deixava os atores se misturarem à multidão.
O segundo filme de Chaplin foi rodado em uma corrida de automóvel para crianças. Disseram-lhe para vestir o uniforme e fazer alguma coisa errada na pista.

Nasce o Vagabundo

Escolheu um chapéu-coco menor que a cabeça, um paletó apertado, calças grandes demais, botinas enormes e uma bengalinha de cana-da-índia. Assim o Vagabundo fez sua primeira aparição nas telas. Chaplin jamais poderia imaginar a fama que esse personagem conquistaria. Mas desde o primeiro momento sabia qual seria seu comportamento: um homem sem sorte que tenta corajosamente obter um pouco de dignidade.

"Ele [Chaplin] era uma figura estranha, mórbida, romântica, não demonstrando ter consciência da grandeza que havia nele". Constance Collier

Lembrou-se dos pobres trabalhadores de sua infância, que branqueavam com giz o colarinho, manchavam com tinta as mangas puídas e adornavam as bordas rasgadas de suas camisas para parecerem respeitáveis. Recordou como homens, mulheres e crianças miseráveis usavam um chapéu, mesmo em péssimo estado.
Muito tempo depois, disse em uma entrevista que tinha aprendido aquele jeito de caminhar trocando o passo, com os pés voltados para fora, observando um velho bêbado, quando era criança. Em todos os seus filmes ele utilizaria sempre elementos de sua infância.

Muitos dos filmes de Charlie Chaplin abordavam assuntos sérios — mas com um humor característico. Chaplin se jogava na água, atirava tortas e corria pelas ruas de forma natural e espontânea. Cada cena era esmeradamente trabalhada até obter o efeito que ele desejava, não importando quantas vezes tivesse de ser repetida.

O Vagabundo tinha futuro, mas Chaplin ainda faria vários filmes até obter a caracterização definitiva do personagem. Por longo tempo desempenhou todos os tipos de papéis. Ele era bom, mas ainda um comediante entre muitos outros. Nesses primeiros trabalhos já havia lampejos do charme e da imaginação dos seguintes. Os primeiros filmes eram muito rápidos, rudes e às vezes violentos. Pancadarias, correrias e quedas eram os ingredientes para fazer rir.

Experiência

Os dois primeiros rolos de Mabel at the Wheel (Carlitos Banca o Tirano) foram filmados em abril de 1914. Desde fevereiro havia feito dez filmes e aprendido muito — mas estava longe de se sentir satisfeito. Agora conhecia as possibilidades do cinema, ainda que suas sugestões fossem ignoradas. Quando Charlie ficou seguro de que estava certo, ele se sobrepôs aos outros, agarrou o diretor Mack Sennett e exigiu um tratamento melhor.

Cena de um filme de 1915. Chaplin aparece sem seu famoso bigode; a câmera à direita fotografa os atores. Com a Keystone, Chaplin desenvolveu um estilo particular de atuar e dirigiu quase todos os filmes de que participou.

Sennett era importante e quase o pôs no olho da rua — mas o público o amava e os distribuidores pediam cada vez mais filmes de Chaplin. Assim, Sennett viu-se forçado a dar o que ele reclamava. Desde então, até o último filme rodado no estúdio da Keystone, Chaplin dirigiu todos aqueles em que aparecia, com uma única exceção.
Num espaço de tempo inacreditavelmente curto, Charles Chaplin fez aquilo a que se havia proposto: tornar-se uma celebridade no cinema... mas estava pagando o seu preço.
Quando começou a trabalhar na Keystone, ele se reunia aos outros integrantes da companhia para um drinque depois das filmagens ou para assistir a uma luta de boxe, mas, assim que a pressão do trabalho aumentou, sua vida social foi abalada. Os tempos da Karno estavam de volta. Para Charlie, o trabalho era mais importante que qualquer outra coisa. Por isso ele ficava frequentemente sozinho.

"Negócio é negócio"

O contrato de Chaplin com Sennett estava chegando ao fim. Escreveu para Sydney, exultante e surpreso com sua rápida escalada à fama:
"Todo meu tempo é tomado por filmagens. Escrevo, dirijo e atuo e, acredite-me, isso toma tempo. Bem, Syd, eu me saí bem. Todos os cinemas expõem meu nome em letras grandes, isto é: ‘Chas Chaplin (sic) em cartaz hoje'. Já lhe disse que neste país tenho uma grande bilheteria. Os diretores me dizem que recebo cerca de cinquenta cartas por semana de homens e mulheres de todas as partes do mundo. É maravilhoso verificar como me tornei popular em tão pouco tempo. No próximo ano, espero ganhar muita grana".

"Durante anos eu me especializei em um tipo de comédia: a pantomima. Eu a avaliei, aferi, estudei. Seria capaz de estabelecer os princípios que governam as reações da platéia. São com certeza o ritmo e o tempo. Diálogos, a meu ver, sempre reduzem a ação, porque a ação deve seguir de perto as palavras". Charlie Chaplin

A falta de estudos não mais afetaria Chaplin... ele era um astuto homem de negócios. Sabia que devia continuar em frente. "O senhor Sennett é um homem encantador, e nós somos amigos, mas negócio é negócio".
Era um daqueles riscos que se deve correr: depois de alguns desapontamentos e uma certa ansiedade, assinou contrato com a companhia cinematográfica Essanay, de Chicago. Em dezembro de 1914, Chaplin se mudou para lá: seus dias de aprendiz no cinema haviam chegado ao fim.

Essanay

Chicago já era uma cidade fria, mas, quando Chaplin deparou com os métodos de produção da Essanay, seu coração congelou.
Keystone podia ser meio louca às vezes, mas pelo menos era viva e criativa. Essanay era simplesmente uma máquina de fazer filme, muito mal organizada, dispendiosa e sovina ao mesmo tempo. No entanto, contava com alguns bons comediantes, e, assim, Chaplin fez o possível para não sentir que tinha sido um erro ter aceitado o negócio.

Um elegante e requintado Chaplin. Sem a roupa característica era difícil reconhecer o desolado Vagabundo ou perceber o moleque de rua que ele fora na infância.

Seus companheiros de trabalho estavam fascinados por ele. Chaplin já era um astro, mas ainda vivia com simplicidade e muito poucas posses. O seu trabalho, como sempre, era a sua vida. Ele o via não como algo glamoroso ou excitante, mas como um trabalho a ser executado da forma mais perfeita possível.
Chaplin assinou um contrato com o estúdio para fazer catorze filmes. His New Job (Seu Novo Emprego) foi filmado em apenas duas semanas e rendeu mais dinheiro em pré-estreias que qualquer outro filme da Essanay.
Mas o frio de Chicago era demasiado para Chaplin.
Então se transferiu para os estúdios da Califórnia: deprimente, pequeno, mas quente.
Apesar de tudo, Chaplin conseguiu fazer bons filmes. A comédia estava mudando. Em 1915, o público estourava de rir em cenas que, muito provavelmente, o público de hoje acharia repetitivas e abrutalhadas. Mas as legendas explicativas das mímicas de Chaplin, o lampejo de seu sorriso e seu ritmo incrivelmente preciso são tão novos hoje como à época em que foram filmados.

O Pequeno Vagabundo

The Tramp (O Vagabundo) representou um grande passo à frente. Foi nesse filme que nasceu o Pequeno Vagabundo, personagem que vem à mente da maioria das pessoas ao pensar em Charlie Chaplin, sendo confundido com a figura do próprio ator. A verdade é que esse personagem falava direto ao coração: pequeno e tímido, uma estranha combinação de homem e criança, delicado, melancólico, travesso e valente — mas acima de tudo um sobrevivente. Um personagem com o qual qualquer pessoa no mundo poderia se identificar. Sua tristeza e seu tipo de comédia atravessaram fronteiras. Mesmo sem falar, todos podiam compreendê-lo.

Calças largas, paletó apertado, chapéu-coco, sapatos de palhaço e um bigodinho eram a marca característica de Carlitos. Em 1916, Chaplin era o ator mais famoso dos Estados Unidos, sendo adorado no mundo inteiro. O pobre Vagabundo tornara-se, em pouco tempo, um dos homens mais ricos do mundo.

Chaplin queria muito realizar um longa-metragem intitulado Life, com o qual pretendia introduzir grande dose de realismo e verdade à sua comédia. O Vagabundo perambulava por um mundo desolado e pobre, o mesmo mundo que Chaplin conheceu quando menino.
Mas o estúdio não acreditou que o filme desse dinheiro e Chaplin teve de abandonar o projeto. No entanto, Essanay aproveitou algumas tomadas e colocou-as em outros filmes, o que deixou o ator profundamente magoado e revoltado, uma vez que elas estavam completamente fora de contexto.
Chaplin sempre quis que as tomadas experimentais fossem destruídas, para não desiludir o público. Lembrava-se das doces bailarinas e dos tristes e neuróticos comediantes de sua juventude — e queria que os seus espectadores vissem apenas o final mágico.

Gênio

Felizmente foi desobedecido. Depois de sua morte, dois pesquisadores ingleses, Kevin Brownlow e David Gill, resgataram quantidades enormes de rolos de filmes descartados e montaram um documentário que mostrou ao público como Charlie Chaplin criava seus filmes.
Só um gênio poderia ter inutilizado algumas daquelas sequências. Não importava quanto tempo tivessem gasto para fazê-las; se não satisfizessem a Chaplin, elas eram cortadas. Seus filmes eram totalmente enxutos.

A genialidade de Chaplin não se limitava a fazer filmes; ele também era um talentoso homem de negócios. A ilustração mostra o Vagabundo tratando de finanças. O dinheiro deu a Chaplin a segurança que não teve na infância, mas o seu objetivo era fazer as pessoas rirem com seus filmes, trabalho que desempenhou à perfeição. Chaplin nunca foi movido por dinheiro, apesar de ter se tornado muito rico.
 
Em 1936 ele disse ao grande cineasta francês, Jean Cocteau, que um filme era como uma árvore: quando balançada, tudo o que não era necessário caía, restando apenas a essência. Quando cada centímetro de material supérfluo tivesse sido descartado, o filme estaria pronto.
Essanay continuava a irritar Chaplin. Fez um compacto: dois rolos humorísticos foram utilizados em Carmen. O estúdio emendou tomadas externas de vários filmes e montou um longa-metragem. O resultado foi uma escrachada mixórdia que causou tanto horror a Chaplin que ele ficou doente a ponto de não sair da cama por dois dias.

Fama

Charlie Chaplin tornara-se famoso, e sofria com isso. Muitos filmes foram feitos por produtoras rivais, copiando de forma descarada seus personagens. Até o irmão Sydney apareceu nas telas como um Vagabundo meio sem graça.
A mania Charlie Chaplin parecia dominar o mundo. O Vagabundo apareceu em histórias em quadrinhos, desenhos animados, bonecos, livros, músicas. Na França dançava-se o One-Step Charlot.
Mas o próprio Chaplin era o único a não perceber o que acontecia: estava ocupado demais para isso.
O fato é que nenhum ator de cinema era tão famoso ou amado quanto ele.

"Alguns consideram o cinema a grande arte do século 20, mas a maioria aponta Chaplin como seu gênio primaz". Leonard Maltin, no artigo ‘Fãs do Cinema Mudo Encontram Um Vagabundo Perdido’.

Em fevereiro de 1916, Chaplin foi a Nova York e ficou estupefato com a recepção que teve ao longo da viagem. O chefe de polícia foi obrigado a pedir-lhe para desembarcar do trem uma estação antes da Grand Central, pois a multidão que o esperava era fabulosa.
Charlie tornara-se tão famoso que todos os estúdios o queriam desesperadamente. Sydney era o seu agente e estava determinado a conseguir o melhor cachê possível. No final, Chaplin assinou com a Mutual por um valor desconcertante — o maior da história do cinema até então. Ele tinha 27 anos.

Em busca da perfeição

Charlie Chaplin dedicou-se a montar uma pequena companhia de atores. Conhecia as suas possibilidades e sua posição permitia-lhe fazer filmes do jeito que queria, ou seja, levando mais tempo nas filmagens e usando mais rolos de filmes. Tornara-se mais implacável do que nunca na busca da perfeição.
Hoje em dia os filmes são tão caros que têm de ser feitos com uma quantidade limitada de tomadas de cena, mas Charlie cresceu em meio a uma arte viva.
Com uma ideia em mente, começava a filmar, mudava, filmava de novo, mudava os personagens, mudava o cenário e então descartava todas as tomadas e começava tudo de novo. Frequentemente ia para o estúdio sem qualquer ideia e simplesmente começava a filmar.

"A dança dos pãezinhos"... A genialidade de Chaplin está presente nesta sequência de seis tomadas, que fazem parte do filme Em Busca do Ouro. Chaplin usa dois garfos e dois pãezinhos como se fossem dois pés e os faz dançar. Eles apontam para a direita e para a esquerda, e as feições de Chaplin reproduzem exatamente a expressão da bailarina. É mágico, é Chaplin em um dos seus melhores momentos.

Precisava de atores que lhe permitissem representar qualquer cena. Era como se, com isso, quisesse introjetar-se neles.
Chaplin era incrivelmente versátil. Tocava violoncelo e violino, era ginasta, bailarino e patinador. Mas, acima de tudo, era mímico.
Uma memorável sequência de Casa de Penhores (The Pawnshops), de 1916 — na qual o agiota Charlie avalia um relógio — serve como exemplo. Ele ouve "clinicamente" o relógio, com um estetoscópio, e em seguida ataca-o com um martelo e uma broca. Depois disso, abre o relógio com um abridor de latas, cheira o conteúdo e examina-o minuciosamente com uma lente de relojoeiro. Não satisfeito, retira todo o mecanismo com um par de pinças e, como a mola mestra parece investir furiosamente para a frente, ele a lubrifica.
Finda essa análise completa, ele varre as ruínas do objeto para dentro do chapéu do freguês e dispensa-o com um dar-de-ombros. O objeto não tinha valor de penhora.

"O Imigrante"

Ele agora era um mestre na sua arte. Enquanto alguns artistas — escritores, pintores, cineastas — tinham a ideia pronta antes de iniciar o trabalho e efetuavam pouquíssimas alterações posteriores, atores como Charlie Chaplin produziam em grande quantidade, para depois cortar até a forma final.
Para a realização de O Imigrante (The Immigrant), em junho de 1917, foram empregados mais de 12 mil metros de filme. Junto com seus assistentes, Charlie levou quatro dias e quatro noites para cortá-los até obter os 60 metros exigidos. Examinou cada cena umas cinquenta vezes antes de decidir exatamente onde cortar. No final, Chaplin estava "sujo, pálido e sem colarinho, mas o filme estava pronto". O Imigrante foi o primeiro de uma série de grandes filmes de Chaplin que apontavam uma saída social para a época. De 1917 até a Segunda Guerra Mundial, seus grandes filmes focalizaram a injustiça — sendo que muitos deles provocavam uma reação emocional profunda na plateia.

"Seu público (de Chaplin) nos Estados Unidos era composto, em sua maioria, por imigrantes europeus e seus descendentes. Todos os dias eram tristes: o povo convivia com o desemprego, a corrupção, um governo severo e uma classe alta elitista. Naquele pequeno vagabundo que viam no cinema, encontravam um aliado e amigo. Quando deparavam com garçons, barbeiros, estudantes ou policiais na tela, estavam vivendo o seu dia-a-dia, só que o resultado era cômico". Thomas Leeflang - The World of Comedy (O Mundo da Comédia)

O Imigrante abordou a situação difícil de todos os pobres dos Estados Unidos. De muitas maneiras pode ser visto como um filme autobiográfico — Chaplin chegou aos Estados Unidos como um estranho e descobriu o lado bom e o lado mau que o país tinha a oferecer.
Nesse filme, Carlitos aparece a bordo de um navio com unia mistura bizarra de imigrantes. Encontra Edna e a mãe, que ficaram sem dinheiro, após terem sido roubadas por um jogador — é uma cômica história de amor contra os terríveis sofrimentos que os imigrantes tiveram de enfrentar. Atraídos por lendas de uma terra cheia de ouro e oportunidades, acabaram sendo rejeitados nesse novo país. No filme, a Estátua da Liberdade aparece ao fundo com o seguinte título: "Chegada à Terra da Liberdade". Na verdade, a multidão de imigrantes que chegava era imediatamente amontoada como gado pelos serviços de imigração.

O eterno perdedor

Como o Vagabundo, Chaplin era o eterno derrotado que sempre vencia no final. Ergueu uma ponte entre ricos e pobres, bem-sucedidos e perdedores, permanecendo como o homenzinho que triunfa diante de todas as adversidades.

O Vagabundo, o eterno perdedor, sempre inspirou muita piedade. O público não podia ajudá-lo, mas carregava-o no coração. Os filmes, porém, sempre terminavam com o Vagabundo conquistando a mocinha ou ganhando dinheiro. Muitos dos filmes de Chaplin versam sobre sua própria dor e raiva contra a perseguição às pessoas que não eram consideradas "importantes". Foi essa temática que tornou seus filmes tão duradouros.

Chaplin trouxe uma certa dignidade aos desafortunados, dando-lhes a chance de rir deles próprios, sabendo que sempre venceriam no final. Foi essa característica que deu a Carlitos uma popularidade universal, pois ele rompeu todas as barreiras sociais para o seu público.

Primeira Guerra Mundial

Em 1914, ao ser deflagrada a Primeira Guerra Mundial, muitos acharam que Chaplin deveria voltar à Inglaterra — ele não era cidadão americano. Outros, porém, sabiam que os filmes de Charlie Chaplin davam mais resultado — trazendo riso e esperança àqueles dias sombrios e ao mesmo tempo dinheiro para os Estados Unidos — do que qualquer pequeno soldado jamais poderia ter dado.
Chaplin contribuiu para a guerra da melhor forma possível: fazendo um filme. Em maio de 1918 — agora na First National —, tiveram início as filmagens de Ombro Armas (Shoulder Arms). A guerra já durava quatro anos e Chaplin tomou o que aparentemente era uma surpreendente decisão. Iria rodar uma comédia nas trincheiras.
Até aquele momento, a maioria dos filmes não passava de um amontoado de incidentes desconexos, mal alinhavados. Agora eles começariam a ser construídos de forma apropriada, como as peças de teatro... e não mais seriam vistos como um entretenimento só para as massas.
Ombro Armas estava tão claro na cabeça de Chaplin que ele realizou o filme em muito pouco tempo, quadro após quadro de maravilhosa comédia. (Somente depois de 65 anos essas tomadas foram encontradas e incluídas em um documentário para a televisão: The Unknown Chaplin — O Chaplin Desconhecido.)
Depois de um mês, Chaplin descartou todas as tomadas que havia feito, construiu novos cenários e recomeçou.
No filme, apreendeu a terrível realidade de cada soldado — a lama interminável da Bélgica e da Holanda, as trincheiras encharcadas, os piolhos e os ratos, os bombardeios constantes e o medo — e transformou todos esses elementos numa comédia que zombava da idiotice da guerra.
Ombro Armas estreou em outubro de 1918, um mês antes da assinatura do armistício que marcou o fim da guerra. Ao voltar, as tropas combatentes adoraram o filme. Autodenominaram-se o "Exército de Fred Karno". Serem capaz de rir da insanidade da guerra era sua única verdadeira defesa.

Casamento

Dois dias antes da estreia, Chaplin casou-se com Mildred Harris, jovem com a mesma aparência infantil de seu primeiro amor, Hetty Kelly.

Mildred Harris e Charlie Chaplin casaram-se em outubro de 1918. Mildred foi a primeira de suas quatro esposas. Eles não foram felizes, pois, nos primeiros casamentos, Chaplin parecia buscar sua paixão de infância, Hetty Kelly; e não conseguia encontrar o que procurava.

Ele era famoso, atraente e muito, muito rico — e se apaixonava com grande facilidade —, o que o tornava alvo de moças bonitas, ávidas por um papel em um filme e por dividir sua fortuna.
O problema era que a mente e o coração de Charlie Chaplin eram dominados pelo trabalho. Por consequência, abandonava seus amores tão rápido quanto se apaixonava.
O casamento com Mildred foi um ato sem esperanças desde o início. Chaplin estava tão infeliz que até fazer um filme transformara-se num pesadelo. Mas tomou uma decisão importante. Começou a construir um estúdio independente, em sociedade com o homem que considerava seu único verdadeiro amigo, Douglas Fairbanks, com a mulher de Fairbanks, Mary Pickford, e com o cineasta D.W. Griffith. Seria chamado United Artists.
Chaplin e Mildred esperavam o nascimento de seu primeiro bebê para os próximos dias. Se Chaplin alimentava qualquer esperança de que um filho pudesse salvar seu casamento, estava profundamente enganado. No dia 7 de julho de 1919, Mildred deu à luz um menino, Norman Spencer, que viveu apenas três dias. Chaplin ficou inconsolável.

"O Garoto"

Havia apenas um modo de enfrentar essa perda. Mergulhou no trabalho para produzir um novo longa-metragem: O Garoto (The Kid).
Finalmente, Chaplin encontrou o ator perfeito para o papel principal: Jackie Coogan, de 4 anos de idade. Chaplin estava assistindo ao espetáculo do pai de Jackie, um exótico bailarino. No final do ato, ele trouxe o filho ao palco: o menino imitou o pai com tanta graça que fez o teatro vir abaixo — exatamente como Chaplin havia feito uma vez, na infância.
Chaplin encontrou-se com a família no hotel em que estavam hospedados, e ele e o garotinho Jackie começaram a trabalhar. Chaplin obteve uma maravilhosa interpretação de Jackie.
A história do vagabundo e do garoto tocou o coração de todos, e o filme foi um enorme sucesso, entrando em cartaz em cinquenta países.

Jackie Coogan, como o Garoto e Charlie Chaplin, como o Vagabundo, formaram uma dupla memorável. O filme era muito mais que uma história triste e divertida — abordava o amor e a ligação entre a criança e seu 'Pai'. Através de um feroz libelo contra os orfanatos que conhecera na infância, Chaplin mostra a necessidade fundamental que uma criança tem de fazer parte de uma família — mesmo que seja pequena ou inadequada. Os dois não podiam ser separados.

O Garoto abordava outro problema social que afetava profundamente Charlie Chaplin: o tratamento às crianças abandonadas. O pavor que sentiu ao ser levado a um orfanato ficou gravado para sempre em sua memória. A cena inicial do filme mostra Edna, "cujo único pecado era a maternidade", deixando o hospital com seu bebê. Pensando em se suicidar, ela deixa a criança no banco de trás de um automóvel de luxo, com um bilhete pedindo a quem a encontrasse que cuidasse dela e a protegesse. O carro, porém, é roubado e o bebê fica abandonado na calçada, onde o Vagabundo o encontra e, com relutância, torna-se seu guardião. Foi a vez de o Vagabundo aprender a cuidar de uma criança, transformando uma rede em berço e um velho pote de café em mamadeira. Jackie Coogan era uma revelação infantil aos 5 anos de idade. A amizade entre Chaplin e Jackie saiu das telas e se transformou em uma comovente e carinhosa relação na vida real. O Garoto e o Vagabundo discutiram negócios e conseguiram cutucar a lei em vigor, com muito humor.

"O próprio Chaplin creditava a resposta mundial à imagem do garoto, ao símbolo que ela representava — todos os órfãos da última guerra. Jackie (Coogan) deu ao mundo algo de que o mundo necessitava". David Robinson, na biografia Chaplin: Sua Vida e Arte.

No filme, a mãe do Garoto, que não o esquecera, torna-se uma famosa cantora de ópera. Ela passa pelo Garoto e pelo Vagabundo na rua, em meio a uma briga, mas não reconhece o filho. A pista da criança surge para ela quando o menino adoece e o Vagabundo, depois de tentar curá-lo sozinho, descobre o médico que Edna consultara antes de ter o bebê. Quando o médico pergunta a Carlitos se era o pai da criança, ele mostra o bilhete que encontrara pregado à roupa do menino — o orfanato, então, é notificado a fim de que a criança possa receber "atenção e cuidados adequados". Foi assim que Edna reencontrou no Garoto a sua criança abandonada.
David Robinson, em sua biografia de Chaplin, descreve a cena seguinte como "a mais extraordinária do filme e uma das mais memoráveis de toda a história do cinema". O garoto é despachado como um objeto perdido em um vagão de órfãos. Angustiado, o Vagabundo, seguido por um policial, pula sobre a capota do vagão e resgata seu "filho". Ao salvar o garoto dos perigos do orfanato, o Vagabundo torna-se um herói. O filme termina com o Garoto indo viver com a mãe e com o Vagabundo sendo convidado a sua magnífica mansão.
O Garoto foi um sucesso, sendo um filme diferente dos outros de Charlie Chaplin: apresenta mais drama e muito pouca comédia.


"Havia, pelo menos para mim, mais emoção em uma única lágrima de O Garoto que em todo o conteúdo de uma ópera... Eu não ria de Charlie até chorar. Na verdade, eu ria para não chorar, o que é bem diferente". Um crítico de cinema.

O público adorou-o por seu forte apelo emotivo. A criança abandonada precisava de amor e o Vagabundo, pobre e desqualificado como pai, foi a única pessoa capaz de suprir essa necessidade. O amor que havia entre "pai" e "filho" era tão forte que não podia ser quebrado.

Divórcio

A vida particular de Chaplin, porém, continuava a se desintegrar. Em abril de 1920, Mildred entrou com o pedido de divórcio e em novembro eles estavam oficialmente divorciados.
Finalmente a vida parecia mais serena, e, em 1921, Chaplin pediu a amigos que providenciassem a vinda de Hannah, sua mãe, aos Estados Unidos. Para deleite dela, eles lhe providenciaram um guarda-roupa novo e completo.

Nos primeiros filmes, o Vagabundo saía caminhando à distância, na cena final — significando, talvez, a esperança de um futuro melhor, com um toque de tristeza. Pela primeira vez, em Tempos Modernos, o Vagabundo não estava só.

Sua mente ainda estava confusa, mas ela aproveitou a viagem e, exceto pelo momento em que confundiu um funcionário da alfândega com Jesus Cristo, seu comportamento foi normal. Depois de tantos anos de pobreza e sofrimento, e dos anos passados em uma clínica para doentes mentais, ela finalmente tinha a sua casa. Não se sentiu nem um pouco desconcertada com a mudança e, apesar de inclinada a oferecer sorvete a cada pessoa que passava, estava calma e feliz. Sorvete sempre havia sido um símbolo de diversão em sua família!

Cenas antigas, novos horizontes

No dia 22 de agosto de 1921, Chaplin abandonou repentinamente o filme em que estava trabalhando e anunciou que ia para a Europa. Cinco dias mais tarde, embarcou em um navio para Londres.

"Quando Chaplin fez uma curta visita a Londres, em 1921, recebeu mais de 73 mil cartas de fãs. O conto de fadas do jovem "cockney" em Hollywood conquistou a imaginação do público. O menino miserável tornara-se em pouco tempo milionário, passando a conviver com pessoas como Einstein, Toscanini, Chou En-Lai, Cocteau, Churchill, Sartre, Picasso e Gandhi. Seu patrimônio foi avaliado em mais de 500 milhões de libras, após sua morte". Thomas Leeflang, The World of Comedy

Passado e presente se confundiam em sua mente. Em 1910, ele havia viajado para os Estados Unidos com Fred Karno; na época, era um jovem comediante, grato por um emprego. Agora, apenas onze anos mais tarde, era talvez um dos homens mais famosos do mundo.
A cada estação, durante a viagem do porto até Londres, o povo aguardava para ver seu trem passar. Londres estava abarrotada por uma animada multidão.
Refugiou-se no hotel, onde entrou pela porta dos fundos, e revisitou todos os lugares que havia conhecido nos anos de fome e sofrimento de sua infância, os quais haviam sido recriados em muitos de seus filmes. Parecia ser outro mundo, outro Chaplin, apesar de a maioria das coisas quase não ter mudado.

Chaplin frustrou-se com as companhias cinematográficas e com os diretores e assumiu controle total sobre seu trabalho. Dirigiu e editou suas produções: filmava milhares de metros de filme, descartava todos e recomeçava a filmar. Aqui ele analisa o copião de O Garoto, filme que se tornaria um clássico. Assim, ao seu talento de mímico e homem de negócios acrescentou o de brilhante editor de cinema.

Estava com 32 anos de idade. Encontrou pessoas que havia conhecido em outras circunstâncias, mas não era mais o seu mundo, apesar de prosseguir na luta contra a pobreza e de sentir piedade por todas as pessoas que eram oprimidas pela miséria. Encontrou-se também com outro tipo de gente — pessoas famosas, escritores, atores e políticos. E em posição de igualdade. Movido apenas por impulsos, mudou-se para a França e para a Alemanha, mas, em outubro de 1921, estava de volta aos Estados Unidos.

"Apesar da infância pobre, aos 26 anos Chaplin era um astro conhecido no mundo inteiro. Provavelmente foi a primeira pessoa a receber a badalação das massas, agora tão comum entre os cantores de rock". Madeline Sotheby, The Chaplin Story

"Em Busca do Ouro"

Em Los Angeles, Chaplin dedicou-se a terminar os últimos filmes do seu contrato com a First National. O estúdio havia lhe causado muitos problemas — houve um momento em que pensou em vendê-lo por 10 milhões de dólares —, e ele queria ficar livre dele.
Assim que terminou Pastor de Almas (The Pilgrim), Chaplin estava pronto para filmar para a United Artists. O novo filme era o septuagésimo segundo de sua carreira. Seu papel era bem pequeno, o que confundiu o público, mas no filme seguinte ele trouxe de volta o Vagabundo, de forma mais criativa que nunca.
Uma vez mais escolheu os temas mais desconcertantes como fonte inspiradora, e uma vez mais dedicou o seu gênio humorístico para atacar uma grande injustiça social. Leu sobre os percalços dos garimpeiros de ouro em Klondike e decidiu fazer Em Busca do Ouro (The Gold Rush), um de seus mais importantes filmes.

No filme Em Busca do Ouro, Chaplin come sua bota. Com os cômicos maneirismos de quem come um prato especial, ele demonstra realmente estar se deliciando com a refeição. (A bota era na verdade feita de alcaçuz!) O realismo era demonstrado por suas expressões, e a maneira com que mastigou cada bocado é outra tirada brilhante de sua habilidade como mímico.

Era recheado de invenções cômicas, mas havia momentos patéticos também. O pobre Carlitos teve de enfrentar inúmeros problemas para preparar um jantar para a jovem que amava e para suas amigas. Ninguém compareceu. No final, Carlitos conquistou a moça e encontrou ouro.
Não havia nenhum dos efeitos eletrônicos de hoje. Tudo era obtido através da construção de elaborados modelos, da invenção de mecanismos inteligentes, do cálculo das tomadas de câmera — e do corte.
Para as filmagens das montanhas e das nevascas foram necessários 73 mil metros de tábuas, 7 mil metros de gesso, 285 toneladas de sal, cem barris de farinha e quatro carretas de confete. Chaplin usou mais rolos do que de costume: rodou 70 mil metros de filme, que foram reduzidos para 2,6 mil metros!

Famosos internacionalmente, os filmes de Chaplin e os cartazes publicitários foram traduzidos em muitas línguas.

Mas, se nas telas a história de Chaplin teve final feliz, na vida real foi bem diferente.
Em novembro de 1924, Chaplin casou-se com Lita Grey. Não era um casamento mais sábio do que o primeiro. Tiveram dois filhos — Sydney e Charles —, mas o casamento ia de mal a pior e, em 1926, Lita foi embora com as crianças. Charles superou a separação muito bem, mas este seria outro período negro de sua vida.

Perfeição

Apesar da turbulência em sua vida íntima, Chaplin prosseguiu e filmou O Circo (The Circus). O trabalho era feito com dificuldade, quando em setembro de 1927 um incêndio no estúdio destruiu totalmente o cenário. Mas ele simplesmente continuou.
Chaplin levou apenas uma semana para aprender a andar na corda bamba. O suspiro de alívio ao término das filmagens transformou-se em suspiro de exasperação. O laboratório arruinou todas as cenas respectivas — e ele teve de fazer todo o trabalho de novo. Ao final, haviam sido produzidas setecentas tomadas na corda bamba — tudo isso para apenas alguns minutos no filme.
Talvez as filmagens dentro da jaula dos leões tenham sido mais apavorantes. Foram necessárias duzentas tomadas para completar a sequência — e Chaplin diria mais tarde que o pavor em seu rosto não era simplesmente encenação!
O divórcio de Lita e os impostos deixaram Chaplin com necessidade premente de dinheiro. Terminado O Circo, iniciou em seguida Luzes da Cidade (City Lights).


Cartaz anunciando o filme Luzes da Cidade. Pôsteres com figuras estilizadas de Chaplin se espalhavam por toda a parte, ao Iado de centenas de brinquedos e de imitações do Vagabundo. Ele era imensamente popular. Todos queriam um pedaço da história de sucesso de Chaplin.

Mas haveria outro golpe. Em 28 de agosto de 1928 sua mãe morreu. Hannah estava muito doente, mas, no dia anterior à sua morte, ela e Chaplin haviam rido muito. À noite entrou em coma e só retomou a consciência por um momento antes de morrer.
Observar o sofrimento dela tinha sido demais para ele. De pé ao lado da cama, viu a morte levar toda a confusão e dor que ela havia vivido. Recordou as músicas e as histórias, o verão com sorvete, e chorou.
Sobre Hannah, ele disse: "Se não fosse por minha mãe, duvido que tivesse feito sucesso na pantomima. Ela foi uma das maiores artistas de pantomima que já vi".
Nos três anos seguintes, Chaplin fez três dos seus melhores filmes: Luzes da Cidade, em 1931, Tempos Modernos (Modern Times), em 1936, e O Grande Ditador (The Great Dictator), em 1940.
O som chegou ao cinema, mas Chaplin não acreditava nele. Acreditava que a linguagem da mímica podia atravessar fronteiras de uma forma que as palavras faladas jamais conseguiriam. Mesmo quando a Warner Brothers lançou As Luzes de Nova York (The Lights of New York), o primeiro filme falado, no momento em que Chaplin começava as filmagens de Luzes da Cidade, ele insistiu no silêncio.
Luzes da Cidade foi talvez o melhor de seus antigos filmes, mas consumiu dois anos de trabalho e aborrecimentos para ser concluído. Nele, o Vagabundo economiza dinheiro para curar uma vendedora de flores cega — que imagina ser ele um milionário. Assim que ela volta a enxergar, o Vagabundo fica muito nervoso ao contar-lhe quem deu o dinheiro...
Chaplin queria perfeição e filmava pequenas cenas várias vezes. Uma vez terminado o trabalho, não se imaginava a luta que fora para realizá-lo. Era um filme bem balanceado, repleto de humor e ternura. Gastou 95 mil metros de filmes para reduzi-los a 2,5 mil metros. O que restou foi uma obra-prima.

Charlie voltou para Londres em 1921. A multidão aglomerou-se à porta do Ritz Hotel — não muito longe das ruas miseráveis em que passou a infância.

A estreia em Londres foi em fevereiro de 1931 — e Chaplin viajou até lá para presenciá-la.


Velhos tempos

Desta vez, foi visitar sua antiga escola em Hanwell, onde as recordações o assaltaram. A visita pareceu trazer-lhe o passado de forma mais vívida, afastando os antigos pesadelos.
Chaplin encontrou poucas lembranças em seu país de origem e irritou-se com muitas pessoas por seu discurso sobre "patriotismo". Já havia presenciado a que o patriotismo conduzia: à ignorância cega e ao fanatismo.
"O patriotismo é a maior insanidade que o mundo já sofreu. Há poucos meses, estive por toda a Europa. O patriotismo está irrompendo em todos os lugares e o resultado será outra guerra".
Ele estava certo... embora tenha sido necessário esperar oito anos para que a nova guerra irrompesse.
Chaplin foi então para o Extremo Oriente, onde seria recebido tão calorosamente quanto na Europa. O silêncio de Carlitos não precisava de tradução. O Pequeno Vagabundo era um amigo universal.

De volta a Hollywood

Chaplin voltou a Hollywood em junho de 1932. Estava com 43 anos e bastante desiludido com todo o sofrimento e a miséria que havia presenciado em suas viagens. Tentou planejar um sistema econômico que pudesse solucionar problemas universais como desemprego, pobreza e injustiça. Não conhecia o suficiente para compreender a complexidade das dificuldades, e o seu sistema poderia não dar certo.
Mas o que podia fazer era um filme.
Assim, sua produção seguinte foi Tempos Modernos. Nele, o Vagabundo aparece em um mundo em que o dinheiro significa mais que o ser humano, que é tratado como engrenagem de uma máquina gigantesca. No final ele foge com a mulher que havia ajudado. Como sempre, o filme tinha como base a comédia, e Chaplin teve a resposta dos 5 milhões de desempregados dos Estados Unidos. Nos primeiros filmes, o Vagabundo era pobre, mas em Tempos Modernos ele é um entre os milhões de pessoas comuns que enfrentavam as péssimas condições de trabalho nas fábricas, as greves, o baixo salário e o desemprego.
Alguns anos mais tarde, Tempos Modernos foi apresentado como prova de que Chaplin era comunista.

Em Tempos Modernos, Chaplin aborda a monotonia e o tédio nas linhas de montagem da indústria moderna. Como na maioria de seus filmes, crítica, com humor; um importante aspecto da sociedade.


Chaplin apaixona-se pela atriz que faz o papel da moça desamparada no filme, Paulette Goddard, e eles se casam.
Em breve, Paulette descobriria que não era fácil viver com Chaplin, um homem que se irritava por pequenas coisas. Ela era uma jovem inteligente e talentosa e achou que seria difícil submeter-se a isso. Sem alarde, construiu uma carreira própria e, em 1942, depois de sete anos, o terceiro casamento de Chaplin chegava ao fim.

Segunda Guerra Mundial

Começava o ano de 1938. Chaplin acertara. A guerra estava para irromper. Na Alemanha, o partido nazista, liderado por Adolf Hitler, obteve maioria. Grupos minoritários, compostos especialmente de judeus, estavam sendo assassinados como parte de um plano para "purificar a raça". Em comícios gigantescos, Hitler arrastava o povo alemão ao frenesi do patriotismo e da ambição.
Por estranho que pareça, poucas pessoas fora da Alemanha percebiam o que estava acontecendo lá. Muitos viam Hitler não como um perigoso fanático, mas como um palhaço pomposo. Chaplin teve a oportunidade de observar acontecimentos na Alemanha e na Espanha que o deixaram cada vez mais preocupado.
Em outubro de 1938, começou a trabalhar em um filme chamado O Grande Ditador, no qual tentava alertar a humanidade contra o perigo do magnetismo popular de Hitler. Ele imitou este em dois papéis: no do ditador Heinkel e no do alfaiate judeu, que era seu sósia. Os dias de improvisação e mudez haviam terminado. Agora havia um roteiro — e som.

O Grande Ditador foi um filme sobre a atualidade, iniciado em I938, numa tentativa de alertar a população contra o perigo da ideologia de Adolf Hitler, num momento em que o mundo se encontrava em convulsão. Como sempre, Chaplin usou a comédia para abordar assuntos sérios e profundos, mas pela primeira vez chegou a lamentar uma realização. Mais tarde disse que não teria feito o filme se soubesse dos campos de concentração que Hitler mandara construir para matar milhões de judeus.

O filme era uma comédia maravilhosa, mas Chaplin sentiu a necessidade da fala. O pequeno alfaiate, que troca de lugar com Heinkel, faz um longo discurso implorando às forças armadas para voltar à razão.
"Vamos lutar por um mundo racional, um mundo onde ciência e progresso proporcionem a todos os homens a felicidade. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos".
Foi uma atitude sem esperança. Quando o filme foi distribuído, em 1940, toda a Europa estava em guerra e o mundo inteiro já se havia dado conta do que estava acontecendo.
Perseguição
Do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos não haviam entrado no conflito, mas, no dia 7 de dezembro de 1941, os japoneses atacam Pearl Harbor e os americanos são forçados a entrar na guerra.
Charlie Chaplin estava perturbado pelo fato de os Estados Unidos, país que amava tanto, parecerem não se dar conta dos sofrimentos dos aliados russos, que resistiam aos ferozes ataques dos invasores alemães com incrível coragem.
Ele não confiava no líder russo, Stálin, mas respeitava profundamente o povo russo e pediu, em muitas assembleias, "ajuda militar para a Rússia", irritando o público por tratá-los de "camaradas".
Chaplin disse: "Não sou comunista. Sou um ser humano e acho que conheço as reações do ser humano. Os comunistas não são diferentes: quando perdem um braço ou uma perna sofrem tanto quanto nós, e morrem da mesma forma que nós. E a mãe comunista é mãe como qualquer outra: quando recebe notícias de que seus filhos não voltaram, ela chora como as outras mães".
Vinte milhões de russos morreram na guerra. Mesmo assim, as palavras de Chaplin voltaram-se contra ele anos depois.

Os cartazes publicitários continuavam a aparecer no mundo todo, mesmo enquanto Chaplin respondia a um desgastante processo. Seus filmes pareciam ter vida própria, independentemente dos problemas pessoais de seu criador.

Enquanto isso, ele enfrentava problemas pessoais. Uma mulher perturbada mentalmente, Joan Barry, bateu à sua porta com um revólver, ameaçando matar-se e anunciando que ele era pai de seu bebê. Embora fosse comprovadamente uma mentira, o processo ficou três longos anos em julgamento.


Mas Chaplin não enfrentaria sozinho essa situação. Em 1942, encontrou uma jovem, filha do grande dramaturgo Eugene O'Neill. Tinha apenas 17 anos e meio, e os dois se apaixonaram perdidamente.
Seu nome era Oona.
Ela irradiava serenidade, delicadeza e timidez que a distinguiam, mas Chaplin também viu na jovem inteligência e coragem.
A mãe de Oona aprovou o plano de casamento, mas, talvez impensadamente, o pai foi contra. Afinal de contas, Chaplin tinha 54 anos e já havia se casado três vezes. Oona e Chaplin resolveram esperar que ela completasse 18 anos para se casarem, pois, então, não precisariam do consentimento do pai.

O amor e o grande apoio de sua quarta mulher, Oona, deram força a Chaplin para enfrentar os momentos difíceis. Embora muitos não aprovassem a união devido aos 36 anos de diferença entre eles, foi este o relacionamento mais perfeito e duradouro da vida de Chaplin.

Assim, a 16 de junho de 1943, Chaplin e Oona casavam-se. Geraldine, a primeira filha do casal, nasceria no dia 1º de agosto de 1944.
Em janeiro de 1945, Chaplin começou a trabalhar em Monsieur Verdoux, mais uma vez uma comédia noire baseada numa realidade macabra.
O Vagabundo se fora. Em Verdoux, Chaplin aparece como um sofisticado cavalheiro grisalho, que mata para melhorar sua renda. Foi a sua mais amarga sátira: o outro personagem era Landru, um fabricante de armamentos tratado como um homem de negócios respeitável, apesar de responsável pela morte de milhares de pessoas. Verdoux, o pequeno assassino, é executado. O fabricante de armas continua o seu negócio.

Em Monsieur Verdoux não há qualquer sinal do Vagabundo.

Findo o caso Barry, Chaplin parecia ter encontrado um período de paz e felicidade. Os Estados Unidos, porém, estavam afetados por uma espécie de loucura: um medo obsessivo e rancoroso do comunismo.

Um cidadão do mundo

Em lugar de fazer-lhe perguntas sobre o filme Verdoux, os repórteres o acusavam de ser simpatizante do comunismo. E não deram atenção às tranquilas e razoáveis respostas às suas questões.
De bom grado, Chaplin admitiu que havia admirado a coragem dos russos durante a guerra e que tinha amigos liberais. Disse também que tinha orgulho de amizades como a do ator negro Paul Robeson e do dramaturgo Berthold Brecht, ambos comunistas. Chaplin sempre havia sido grato aos Estados Unidos por tudo o que haviam proporcionado a ele, mas, primeiro e acima de tudo, considerava-se um cidadão do mundo.
Disse claramente: "Não sou comunista. Sou um embaixador da paz".
As pessoas perspicazes ficaram aturdidas com a perseguição desencadeada e Chaplin se sentiu amparado por esse apoio, mas a Comissão de Atividades Antiamericanas estava crescendo, ganhando poder e um fanatismo histérico. Qualquer um que houvesse participado de uma organização de esquerda, ou apenas simpatizado com qualquer uma delas, corria risco de ser acusado de traidor da pátria.
Os Veteranos de Guerra Católicos começaram a pedir a deportação de Chaplin. Nessa época, ele foi interrogado durante quatro horas pelo FBI. Inquiriram-no sobre sua vida pessoal e sua origem racial. Corajosamente se recusou a dizer, sem rodeios, que odiava os comunistas.

"Sou um artista, não um político". Charlie Chaplin

Apesar desse clima de perseguição, ele inicia um novo filme. Não tinha condições de deixar o estúdio ocioso.
Luzes da Ribalta (Limelight) começa a ser rodado, contando a história de um ator de music hall de meia-idade e de uma jovem a quem ele ajuda a obter sucesso. As lembranças de Londres e a vida no palco que havia conhecido quando menino estão em Luzes da Ribalta. Era sentimental — mas a comédia-pastelão e o sentimentalismo do velho music hall permeiam a maioria de seus filmes.

              Maquiando-se para o papel de um comediante decadente em Luzes da Ribalta. Chaplin dizia: "Trabalhar é viver — e eu amo viver".

Sydney e Oona apoiaram Chaplin. Michael, o segundo filho do casal, nasceu em 1946, e Josephine, em 1949. Victoria nasceria em 1951.

Macartismo

O fanatismo anticomunista nos Estados Unidos encontra um novo porta-voz, ainda mais lunático. Em 1950, o senador Joseph McCarthy declara dispor de uma lista com duzentos nomes de comunistas no Departamento de Estado. Nessa nova onda de histeria que assolava o país, qualquer pessoa podia ser acusada de exercer atividades antiamericanas e ser levada a julgamento, interrogada e aviltada por McCarthy e seu bando. O medo crescia. Pessoas honestas, inteligentes, talentosas perdiam o emprego e tinham a reputação destruída. Havia mentiras por toda a parte. Muitos usavam McCarthy para saldar velhas dívidas — ou para salvar a própria pele, acusando inocentes.

Um forte sentimento coletivo anticomunista nos Estados Unidos desencadeou, em 1950, uma terrível “caça às bruxas” aos simpatizantes comunistas, liderada pelo senador McCarthy. Na foto, membros do Comitê McCarthy durante o julgamento de um cidadão acusado de ser comunista. Por acreditar firmemente na humanidade, Chaplin estava entre as muitas pessoas que tiveram sua vida investigada. Foi, finalmente, exilado e só voltou aos Estados Unidos vinte anos depois.

Hollywood foi particularmente vulnerável. Alguns homens e mulheres corajosos lutaram contra essa loucura — mas muitos perderam tudo e nunca mais foram contratados pela indústria cinematográfica.
Assim que terminou Luzes da Ribalta, Chaplin decidiu ir a Londres para a estreia. No segundo dia de viagem, em alto-mar, recebe a notícia de que estava proibido de voltar aos Estados Unidos.
Ele fora exilado.

Amor no exílio

Chaplin foi recebido calorosamente em Londres e aclamado como gênio. Nos Estados Unidos, os ferozes ataques prosseguiam, mas alguns jornais mantiveram a cabeça no lugar:
"Chaplin é um artista, cujo brilho e talento iluminaram o seu país de adoção e trouxeram alegria ao mundo", escreveu o The Nation.
O FBI, porém, continuava a interrogar os seus empregados e familiares, em busca de material que pudesse manchar o nome de Chaplin. Lita Grey, que fora sua esposa há 25 anos, foi interrogada, mas, corajosamente, não disse nada que pudesse prejudicá-lo.
Como Chaplin não podia voltar, resolveu ir com a família para a Suíça. Em janeiro de 1953 eles se estabeleceram em uma bela casa em Corsier-sur-Vevey, que viria a ser a residência de Chaplin até o fim da vida.

                                      Chaplin, na meia-idade, manteve o charme e a elegância.

Se os Estados Unidos o haviam condenado, ele tinha sua família — agora com cinco filhos: Geraldine, Michael, Josephine, Victoria e Eugene — e a aclamação do resto do mundo.

Reconhecimento

Em maio de 1954 Charlie Chaplin foi agraciado com o prêmio do Conselho Mundial de Paz. O dinheiro recebido foi destinado aos pobres de Londres e Paris. Então começou a rodar um novo filme — Um Rei em Nova York (A King in New York) — que, infelizmente, não obteve sucesso. Era um ataque ao macartismo e talvez a amargura tivesse sufocado o gênio.

                   Na estreia de Um Rei em Nova York, em Londres, a multidão rompeu a barreira policial para se aproximar de Chaplin.

Charlie e Oona tiveram mais três filhos: Jane, em 1957, Annette, em 1959, e Christopher, em 1962. A família Chaplin estava completa.
Ele, que não recebera uma educação apropriada, torna-se doutor honorário das universidades de Oxford e Durham, em 1962.
No meio das alegrias também havia tristezas. No dia de seu aniversário, em 1965, Charlie recebeu a notícia da morte de seu irmão, Sydney.
Em 1971, é condecorado em Paris com a Grande Medalha de Vermeil e, em 1972, os Estados Unidos o redescobrem.

O perdão americano

McCarthy e seus capangas, que haviam destruído a felicidade de tantos homens e mulheres, tornam-se totalmente desacreditados em 1954, quando se descobre que haviam apresentado provas falsas.

A fluidez de movimento, a dança e o sorriso — apesar da idade avançada, Chaplin não perdeu a perícia. O público se encantava, como sempre.


Os Estados Unidos, então, abrem os braços para Chaplin mais uma vez e ele é cumulado de prêmios. Los Angeles, que o havia banido da sua Calçada da Fama, apressadamente reescreve seu nome nela. Foi aclamado calorosamente em Nova York e agraciado com o Medalhão Handel. Em Hollywood, recebeu o Oscar da Academia, sob grande aclamação. O cortejo laudatório prosseguia. Em Veneza, a Praça São Marcos foi transformada em um cinema ao ar livre para apresentar Luzes da Cidade, e Charles foi o ganhador do Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza.

Sir Charles Chaplin

Pouco antes de completar 86 anos, em 1975, Charlie, que havia sido uma das crianças pobres de Londres, foi condecorado pela rainha Elizabeth II. Passou a ser Sir Charles Spencer Chaplin.

                                   Charles foi recepcionado e premiado no mundo inteiro, especialmente nos Estados Unidos. O grande comediante, que tanto fizera pelo cinema e pelo público de todo o mundo, era novamente bem-vindo ao país que adotara como seu e ao qual tanto se dedicara.

Depois de uma vida de muito trabalho, grandes sucessos e grandes sofrimentos e provações, Chaplin parecia entrar em uma época dourada. Com a idade avançada, estava mais fraco, porém amava o trabalho como sempre.
"Trabalhar é viver — e eu amo viver", dizia.
Charlie Chaplin falava em fazer outro filme, mas estava muito velho e fraco para isso. Por muito tempo, Oona cuidou dele sozinha, não queria que ninguém a ajudasse. Só no final foi persuadida a aceitar a ajuda de uma enfermeira.

A família Chaplin: Oona e Charlie tiveram oito filhos e estiveram casados durante 34 felizes anos.

A véspera de Natal de 1977 chegou e a casa estava transbordando de filhos e netos. Papai Noel apareceu para distribuir os presentes que se encontravam na árvore reluzente. Então, quando foi para o quarto, Chaplin deixou a porta aberta para poder compartilhar os ruídos de alegria e excitação que tomavam a casa.
Na manhã seguinte, quando foram acordá-lo para lhe desejar Feliz Natal, encontraram-no morto. O grande Charles Chaplin morreu dormindo. Tinha 88 anos de idade, vividos intensamente.
Para quem proporcionara tanto riso e coragem ao mundo, esse era um belo dia para deixá-lo.





Datas importantes

1889  16 de abril: Charles Spencer Chaplin — Charlie Chaplin —  nasce em Londres.
1894  Aos 5 anos, Chaplin faz sua primeira apresentação no palco.
1895  Hannah, mãe de Chaplin, é internada na Enfermaria Lambeth.
1896  Chaplin e seu irmão, Sydney, ingressam na Hanwell School, para crianças pobres.
1898  Aos 9 anos, Chaplin abandona a escola.
           Em dezembro, entra para o grupo Os Oito Garotos de Lancashire.
1903  Hannah é internada no asilo Cane Hill. Ela seria internada várias vezes ao longo da vida.
           6 de julho: Chaplin estreia no papel de Sam na peça Jim, um Romance de Cockayne.
           27 de julho: aos 14 anos, Chaplin estreia em Londres com a peça Sherlock Holmes e viaja
           em turnê com a companhia.
1908  Chaplin assina seu primeiro contrato com Fred Karno.
1910  Chaplin viaja pela primeira vez aos Estados Unidos.
1913  Aos 24 anos, Charlie Chaplin começa a trabalhar na Keystone, em Hollywood.
1914  Fevereiro: estreia Carlitos Repórter, o primeiro de uma série de 35 filmes que Chaplin fez
           com Keystone.
           Junho: estoura a Primeira Guerra Mundial e Chaplin é criticado por não se alistar.
           Dezembro: Chaplin se transfere para a companhia Essanay, onde faz catorze filmes.
1915  Abril: estreia de O Vagabundo.
1916  Chaplin assina contrato com a Mutual Films Corporation e dez filmes são distribuídos
           neste ano. Estava com 27 anos.
1917  Junho: estreia de O Imigrante.
1918  Janeiro: Chaplin inicia as filmagens de Vida de Cachorro usando luz artificial pela
           primeira vez.
           Outubro: Ombro Armas entra em cartaz — um mês antes do armistício da Primeira
           Guerra Mundial.
           23 de outubro: aos 29 anos, Charles Chaplin casa-se com Mildred Harris.
1919  Com Douglas Fairbanks e Mary Pickford, Chaplin cria a United Artists.
1920  Novembro: Charles Chaplin e Mildred Harris se divorciam.
1921  O Garoto entra em cartaz.
           A mãe de Chaplin, Hannah, vai morar com o filho nos Estados Unidos.
1923  Chaplin discursa na Associação Americana para a Saúde Infantil.
1924  Aos 35 anos, Charles Chaplin casa-se com Lita Grey.
1925  Nasce o primeiro filho de Chaplin e Lita: Charles Spencer Chaplin Junior.
           Estreia Em Busca do Ouro.
1926  Nasce Sydney Earle Chaplin, o segundo filho do casal.
1927  Lita Grey pede o divórcio.
1936  Chaplin, aos 47, casa-se com Paulette Goddard.
1938  Chaplin começa a filmar O Grande Ditador, que estrearia em 1940.
1939  Setembro: início das Segunda Guerra Mundial.
1941  7 de dezembro: os Estados Unidos entram na guerra.
1942  Charles Chaplin e Paulette Goddard se divorciam. Chaplin conhece Oona O'Neill.
1943  16 de junho: Chaplin e Oona se casam. Ela tem 18 anos e ele, 54.
1944  Agosto: nasce Geraldine, a primeira dos oito filhos do casal.
1945  Janeiro: Chaplin faz Monsieur Verdoux, o seu primeiro filme falado.
1947  Charles Chaplin é acusado de atividades antiamericanas e de ser comunista.
1952  Chaplin é exilado dos Estados Unidos.
1953  Janeiro: a família Chaplin muda-se para Corsey-sur Vevey, na Suíça.
1954  Maio: Charlie recebe o prêmio do Conselho Mundial de Paz e destina o dinheiro aos
           pobres de Paris e Londres.
1962  Nasce Christopher Chaplin, completando os oito filhos do casal: Geraldine, Michael,
           Josephine, Victoria, Eugene, Annette e Jane. Charlie recebe o título de doutor honoris
           causa pelas universidades de Oxford e Durham, na Inglaterra.
1971  Em Paris, Chaplin recebe a Grande Medalha de Vermeil.
1972  Chaplin é redescoberto pelos Estados Unidos: seu nome é gravado na Calçada da Fama,
           em Los Angeles, e ele recebe o Oscar.
1975  4 de março: Chaplin é condecorado pela rainha Elizabeth II.
1977  25 de dezembro: depois de ter realizado mais de oitenta filmes, Sir Charles Spencer

           Chaplin morre dormindo, aos 88 anos de idade.

Filmes indicados

O Garoto — Charles Chaplin (o Vagabundo), Jackie Coogan (o Garoto). Estreou em 1921, mas
                       continua sendo um clássico do cinema.
Em Busca do Ouro — Charles Chaplin (o Explorador Solitário), Georgia Hale (Georgia). Essa fina
                                       comédia entrou em cartaz em 1925 e Chaplin alcançou grande êxito,
                                       apesar de seus parcos recursos. Dizem que este é o filme pelo qual
                                       Charles Chaplin gostaria de ser lembrado.
Luzes da Cidade — Charles Chaplin (o Vagabundo), Virginia Cherrill (a Garota Cega). Com
                                   componentes alegres e tristes, o filme estreou em 1931. O Vagabundo é,
                                   ao mesmo tempo, perdedor e vencedor, como na maioria das vezes.



CHARLIE CHAPLIN é um volume da Série Personagens que mudaram o mundo - Os grandes humanistas
Autor deste volume: Anna Sproule
Editor da obra original: Helen Exley
Tradução: Matilde Leone
Edição: Esníder Pizzo
Copyright Anna Sproule, 1992 - Copyright Exley Publications, 1992
Copyright 1993 by Editora Globo S.A. para a língua portuguesa, em território brasileiro.












3 comentários:

  1. podias postar algumas cenas antológicas ...

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  2. É verdade, Pedro Rui.
    Há coisas maravilhosas do Chaplin e vê-las (ou revê-las), é sempre maravilhoso.
    Mas o intuito do blog é disponibilizar algum tipo de informação histórica, não facilmente encontrável de outra maneira.
    O texto é a reprodução integral de um pequeno fascículo, de uma coleção sobre grandes personalidades do mundo.

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